domingo, 9 de dezembro de 2012

Os segredos do Guaraná » Revista Herbarium

Texto: Regina Célia Pereira, de São Paulo |3 de dezembro de 2012



Para além de suas propriedades estimulantes, a planta surpreendeu os cientistas ao se provar eficaz também para combater a obesidade e proteger contra males cardiovasculares



Por muitos anos, as pessoas associaram o fruto vermelho da Amazônia a seu poder estimulante. “A espécie sempre era lembrada por aqueles que precisavam passar noites em claro, caso dos estudantes”, comenta a nutricionista Andréa Esquivel, da clínica CEDIG – Centro de Medicina Avançada, em São Paulo. Pois agora pesquisadores apontam novos benefícios da planta e mostram que ela pode ser uma grande aliada da saúde.

“Existem evidências sobre a atuação do guaraná no combate à obesidade e na proteção contra males cardiovasculares e tumores, além da já bem estabelecida ação a favor do cérebro”, elenca a geneticista Ivana Beatrice Mânica da Cruz, que pesquisa a planta na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A expert participou de um trabalho, publicado recentemente no periódico científico Phytotherapy Research, que analisou os efeitos da planta em um grupo de 637 idosos. Os estudiosos verificaram que, entre aqueles que consumiam habitualmente o pó extraído do fruto, as taxas de colesterol estavam mais equilibradas. “Também havia menor prevalência de obesos”, revela Ivana.

Graças aos poderes em prol da boa forma, a espécie foi um dos destaques na Semana da Obesidade Zero, que aconteceu em maio na capital paulista. Durante o evento, promovido pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, a nutricionista Renata Alves destacou a ação termogênica do guaraná, isto é, sua capacidade de auxiliar na queima de calorias e, assim, colaborar na luta contra o ganho excessivo de peso. “O fruto é capaz de agir no sistema nervoso e favorecer o gasto energético”, explica Renata. Mas, veja bem, essa excelente atuação só é eficaz dentro de um contexto saudável. De nada adianta se fartar com comida calórica e esperar, sentado no sofá, que os excessos desapareçam milagrosamente.

“Muitas dessas benesses têm relação com ingredientes conhecidos como xantinas, com destaque para a festejada cafeína do café e para a teobromina, que também aparece no cacau e, portanto, no chocolate”, enumera Ivana da Cruz. Aliás, essa mesma dupla é que faz a fama do guaraná como energético. “Ambas agem em receptores no cérebro e aumentam o estado de alerta”, afirma Renata Alves. A nutricionista Andréa Esquivel conta que já foram observados ótimos resultados em pacientes com tumores, que ficavam extenuados após sessões de quimioterapia. “Os compostos atenuam a fadiga”, diz.

O fruto também guarda uma coleção de substâncias antioxidantes de nomes esquisitos, caso das saponinas, catequinas, epicatequinas, proantocianoides, entre outras. Um time estranho, mas com grande capacidade de reduzir os efeitos nocivos do excesso de radicais livres – aquelas moléculas por trás de estragos celulares e do envelhecimento precoce. Não bastasse tudo isso, esses benfeitores blindam os vasos sanguíneos e afastam o perigo do infarto. “Eles evitam a oxidação de partículas de colesterol”, revela Renata. Dessa forma, impedem a formação de placas de gordura nas artérias e dão um chega-pra-lá na temida aterosclerose. Para completar, existem estudos que associam os antioxidantes do fruto à diminuição no risco de câncer.

Diante de tamanha lista de benefícios, muita gente já deve estar pensando em incluir o guaraná em tudo quanto é preparação no dia a dia. Mas é bom ir devagar. “Para quem não está acostumado, a sugestão de consumo diário é de apenas uma colher de chá do pó”, sugere Andréa Esquivel. Extrapolar na dose pode resultar em insônia, palpitações e até irritação gástrica.

Muitos especialistas sugerem o consumo do produto de manhã cedo, justamente para ajudar no despertar. O café da manhã é o momento perfeito. “A dica é misturar o pó em sucos de frutas mais doces, porque o sabor do guaraná é amargo”, ensina Andréa, que também é professora de gastronomia. Banana, mamão e abacate são exemplos de alimentos que combinam bem.

Outra sugestão da especialista é ficar atento ao prazo de validade na hora da compra, e só levar para casa o produto que estiver muito bem lacrado. “É bacana adquirir pouca quantidade para usar rápido, e guardar em local seco, longe de luz e de altas temperaturas, para preservar todas as qualidades”, diz.

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