quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mais sobre Mentha piperita

A parte utilizada é a folha, cujos componentes químicos variam muito, dependendo da variedade e maturidade da planta, a região de cultivo, as condições de processamento. Contém ácidos graxos, predominantemente os ácidos palmítico, linoléico e linolênico. No óleo essencial, os principais componentes voláteis são o mentol (30 a 60%), mentona (15 a 32%), isomentona, eucaliptol, mentil-acetato, mentofurano, limoneno, β-mirceno, β-cariofileno, pulegona e carvona. As folhas contêm 1,2 a 3,9% de óleo essencial, mas a infusão de folhas secas contêm 21% do óleo original (25mg/L). As proporções dos vários componentes podem variar no óleo e no chá. Contem vitaminas, incluindo β-caroteno (retinol), outros carotenóides, clorofilas, α- e γ-tocoferol, ácido ascórbico. Encontram-se também minerais, como potássio, magnésio e cálcio, sódio, ferro, zinco, cobre, além de traços de cromo, iodo, selênio. O conteúdo fenólico total situa-se entre 19 e 23% (flavonoides totais, 12%), incluindo 59 a 60% de ácido eriocitrino e rosmarínico, 7 a 12% de luteolina 7-O-rutinoside, 6 a 10% de hesperidina, e pequenas quantidades de 5,6-diidroxi-7,8,3’,4’-tetrametoxiflavona, pebrelina, gardenina-B e apigenina. Cerca de 75% dos compostos polifenólicos presentes nas folhas são extraídos na infusão1. 

Capacidade antioxidante 

Vários autores estudaram a capacidade de redução de radicais livres da hortelã, inclusive comparando com a de outras ervas, concluindo que essa capacidade é muito elevada, superando a maioria das plantas pesquisadas, com exceção de chá verde e preto (ambos Cammelia sinensis, mas obtidos de formas diferentes)1. 

Atividade antiviral 

Foi demonstrada capacidade de inibição de vários tipos virais, como o da influenza, do herpes simples, da vaccínia, tanto somente com extrato aquoso deMentha, como com a combinação desta com outras plantas. O extrato aquoso mostrou redução significativa da atividade do vírus HIV sobre as células MT-4 e sobre a transcriptase reversa 1.

Em estudo in vitro e ex-vivo, com extratos aquosos de 3 plantas da família Lamiaceae (melissa, sálvia e hortelã), demonstrando sua grande capacidade de reduzir a infectividade do HIV-I, em concentrações não-citotóxicas. O modo de ação pareceu ser a redução da densidade viral antes da adesividade do mesmo às células. A exposição direta da cultura viral a cada extrato diminuiu acentuadamente sua replicação, de modo dose-dependente. Os autores mencionam que esses extratos também possuem alta capacidade no combate aos herpesvirus tipo 2. Sugerem seu potencial no desenvolvimento de medicamento para uso tópico vaginal com finalidade preventiva como muito promissor 2. 

Atividade antibacteriana 

O óleo de hortelã, o mentol e a mentona tiveram atividade inibitória sobre vários tipos de bactérias, patógenos humanos e também vegetais, incluindo alguns Staphylococcus, Listeria, Pseudomonas, Salmonella, Enterococcus, Streptococcus, Escherichia, e outros 1.

Pesquisadores da UNESP investigaram o potencial antimicrobiano contra cepas de Staphylococcus aureus de várias plantas (guaco-Mikania glomerata, goiaba-Psidium guajava, cravo – Syzygium aromaticum, alho – Allium sativum, capim-limão – Cymbogon citratus, gengibre – Zingiber officinale, carqueja - Baccharis trimera e hortelã – Mentha piperita). Concluíram que todas elas tiveram ação inibidora do crescimento bacteriano. O melhor potencial foi o do cravo (inibição bacteriana com 0,09% na solução), e o pior o de capim-limão (inibição com 4,46%), ficando hortelã com valor intermediário (0,55%) 3.

Em estudo comparando a efetividade do óleo contra várias bactérias, ficou demonstrada sua capacidade bactericida, em ordem decrescente, contra E. coli, S. aureus, Pseudomonas aeruginosa, S. faecalis, Klebsiella pneumoniae4. 

Atividade fungicida 

Atividade fungicida, ao menos moderada, sobre Candida, Criptococcus, Tricophyton, Aspergillus, e outros, foi demonstrada por alguns estudos1.

Pesquisadores brasileiros (UNICAMP) investigaram o potencial de atuação contra várias espécies de leveduras do gênero Candida, de várias plantas, entre elas Mentha piperita, utilizando extrato com metanol e com diclorometano. Menta atuou com grande eficácia sobre todas as cepas pesquisadas, porém somente com o extrato metanólico 5. 

Atividade antitumoral 

Diversos estudos avaliaram a capacidade antitumoral, por vários métodos e sobre vários tipos de tumores, concluindo que hortelã (ou mentol) reduziu a mutagênese, ou a reprodução celular tumoral, ou enzimas relacionadas à tumorigênese. Há também sugestão de que Mentha piperita atue através da intervenção sobre o citocromo P450, interferindo sobre a ação de drogas que exijam esse mecanismo1.

Em cultura de células HeLa, menta provocou efeito citotóxico, destruindo 98,48% das células, na dose de 0,02µl/mL de óleo e permanecendo citotóxico mesmo em dose mais baixa. Os autores ainda pesquisaram o uso por via oral em animais com câncer de pulmão, obtendo 67,92% dos tumores. Comentam ainda a possibilidade de seu uso como quimiopreventivo do câncer 4. 

Ação gastrointestinal 

Vários estudos demonstraram ação dose-dependente sobre a musculatura e o processo secretório gastrointestinal, em diferentes modelos animais, tanto com extratos de folhas frescas, como secas, como com o óleo. O processo de relaxamento muscular parece dever-se a efeito antagonista sobre a acetilcolina e não sobre efeito adrenérgico. Parece haver também bloqueio dos canais de cálcio. Outro efeito descrito foi o colerético, mas em doses mais altas, e parecendo dever-se a inibição da colestase, pela inibição da ligação do β-D-glucuronídeo. Demonstrou-se ainda redução da produção sulfídrica no intestino grosso (melhora na flatulência). No entanto, o acréscimo dietético de chá de hortelã reduziu a absorção de ferro e os níveis de ferritina 1;6.

Em revisão sobre refluxo gastroesofágico, entre outros produtos, a autora relata que o óleo de Mentha piperita apresenta benefícios, acelerando a fase inicial de esvasiamento gástrico, aumentando o tempo de relaxamento pilórico e diminuindo a pressão esfincteriana do esôfago terminal 7. 

Ação hepática e renal 

Em ratos, foi demonstrada atuação hepática através do citocromo P450 e isoformas dele, o que propiciou aumento da atuação da ciclosporina. Embora elevando-se a fosfatase alcalina, também em ratos, não houve alteração de outras enzimas hepáticas, nem da bilirrubina, e nem do aspecto histológico hepático. No entanto, estudos comparando Mentha piperita e Mentha spicata, mostraram mínimas degenerações do hepatócito  ainda menores com a primeira. Quanto ao aspecto renal, comparando as mesmas duas espécies, embora autores não tenham encontrado alterações renais, outros estudos demonstraram que M. spicata provocou elevação da dosagem de ureia e creatinina (mas não M. piperita), e houve degeneração hidrópica tubular, muito menos acentuado no grupo piperita1. 

Potencial quimiopreventivo 

Em alguns estudos, hortelã reduziu a capacidade de indução tumoral do tabaco, do antraceno, da radiação gama1. 

Potencial radioprotetor 

Estudo em que a camundongos foi administrado oralmente extrato de hortelã em diferentes doses (0,125, 0,25, 0,5, 1, 2, 3, e 4g/kg de peso) por 3 dias consecutivos, seguindo-se de radiação gama também em diferentes doses (4, 6, 8 e 10 Gy) . Após 10 dias, sacrificado o primeiro grupo, removido o baço e contados os nódulos formados na superfície do órgão. Os demais foram observados por 30 dias. Foi feito controle hematológico, colhendo sangue da cauda, com 6, 12, 24 e 48 horas, e com 5, 10, 20 e 30 dias. Foi avaliado nesse sangue o perfil hematológico, a glutationa (GSH), a peroxidação lipídica (LPO) e a fosfatase alcalina(FA). Observou-se que todos os animais irradiados que haviam recebido as duas doses mais baixas do extrato morreram em até 11 dias, Nas quatro dosagens seguintes, a sobrevida foi respectivamente de 70%, 82%(os que haviam recebido 1g/kg), 60% e 40%, levando à conclusão de que a melhor dose protetora foi a de 1g/kg de peso. Esse grupo foi então analisado e comparado com o que somente havia recebido menta, e que não havia apresentado alterações, e com os que haviam recebido somente irradiação. Nos animais controle houve diminuição dose-dependente de GSH, elevação de POL, ao contrário do grupo tratado com menta, em que houve elevação de GSH e diminuição de POL, embora abaixo do nível normal. A FA se elevou no grupo menta + radiação, mas tendendo a voltar ao normal progressivamente com o passar do tempo. Os autores concluíram pela evidência de radioproteção pela menta8.

Em camundongos tratados com extrato de hortelã (1g/Kg) por 3 dias, depois submetidos a radiação gama, observando-se que, ao contrário dos ratos controle, nos quais houve acentuado decréscimo de todas as formas das células da medula óssea, o número e qualidade celular se manteve, ou até aumentou, assim como a eritropoietina também se manteve em níveis normais, em vez de diminuir. O autor atribui a proteção medular à manutenção da eritropoietina9.

Comentando que os tempos atuais implicam um potencial de exposição a radiação por vários motivos, desde as armas de guerra e terrorismo até os tratamentos e semiologia médicos, impõe-se proteger as populações do dano causado pelos agentes radiativos, e comentando que plantas podem ser consideradas como muito prováveis de serem os agentes protetores, porque reúnem várias condições consideradas ideais, foi feita uma revisão pesquisando as plantas estudadas com esse fim. Foram encontrados 2 estudos com Mentha piperita, entre as 17 plantas mencionadas.O autor não se estendeu em comentários sobre esses achados10.

Revisão abordando as várias publicações sobre a propriedade de radioproteção de Mentha piperita e de Mentha arvensis concluiu que essas plantas não só protegem o organismo, diminuindo a letalidade, mas especialmente protegendo órgãos como testículos, sistema digestivo e hematopoiético, em camundongos. Os autores tentam explicar o mecanismo de ação através de atuação antioxidante e sobre radicais livres, de quelação de metais, anti-inflamatório  antimutagênico e reparo do DNA11. 

Atividade antialérgica 

Estudos em diferentes tipos celulares, de vários animais demonstraram atividade antialergênica relacionada aos flavonoides de Mentha piperita, e também ao mentol. Os flavonóides, reduzindo a liberação de histamina e a reação antígeno-anticorpo. O mentol, interferindo sobre a reação inflamatória, pela redução de leucotrienos, interleucina e prostaglandina E2. Também demonstrou-se a ação do humuleno (sesquiterpeno)1.

Estudos utilizando extrato por via oral reduziu a resposta alergênica nasal, atribuindo-se essa ação aos flavonoides. O óleo também reduziu, por via peritoneal, em porquinhos da Índia, os anticorpos IgE, melhorando a anafilaxia cutânea. Extrato obtido de folha secas reduziu a reação granulomatosa, portanto com efeito anti-inflamatório de longa duração. E ainda foi observada redução da broncoconstrição induzida por capsaicina1. Entre vários glicosídeos extraídos das folhas de Mentha piperita, luteolin-7-O- rutinosideo mostrou potente ação contra a liberação de histamina induzida por reação antígeno-anticorpo a composto conhecido como alergênico, em ratos, indicando sua potencial utilidade no tratamento da rinite12. 
Atuação sobre o sistema nervoso 

Camundongos foram submetidos a injeção subcutânea de extrato aquoso de menta (200, ou 400mg/Kg) antes de receberem nova injeção subcutânea, de ácido acético, ou estímulo térmico, observando-se efeito analgésico com ambas as dosagens13.

As substâncias da hortelã agem tanto no sistema nervoso central como no periférico, de forma significativa. Descreveu-se efeito analgésico (em modelo com estímulo por calor), em ratos e mesmo efeito anestésico local, em coelhos. O extrato aquoso provocou sedação, aumentando o efeito de barbitúricos, e também diminuindo a atividade motora. Não houve, no entanto, alteração dos reflexos motores, em camundongos acordados. Por outro lado, constituintes do extrato, como 1,8-cineol, mentona, isomentona, pulegona, mentol, mentil acetato e cariofileno aumentaram significativa o comportamento motor. Tudo indica que a dopamina deve ser o mediador do efeito da hortelã1. 

Ação antidiabética 

Mencionando estudo em que foi administrada menta a ratas diabéticas, trazendo benefícios terapêuticos e preventivos das complicações das crias, e que outros estudos mostram que as substâncias antioxidantes da planta podem exercer efeito favorável na evolução da doença, pesquisadores brasileiros, em estudo multicêntrico, avaliaram as crias de ratas portadoras de diabete, uma vez que o distúrbio endócrino da mãe afeta também os filhos, que permanecem com risco de também serem portadores do distúrbio, perpetuando o quadro. Após indução de diabete por injeção de streptozoina, as fêmeas foram fecundadas por ratos não-diabéticos. Após o nascimento, as crias receberam suco de hortelã diariamente. O suco foi preparado na proporção de 100g de folhas secas e trituradas por litro de água, e após filtração, congelado e armazenado. O descongelamento foi feito em temperatura ambiente, 2 horas antes da administração. A dose calculada para equivaler a cerca de 200 ml de suco que uma pessoa tomaria, foi de 0,29g/kg, por dia, e foi administrada durante 30 dias, após os quais foram sacrificados. Nessa ocasião, colhido sangue para dosar colesterol total e frações, triglicerídeos, glicemia. As crias de ratas diabéticas mostraram níveis glicêmicos e lipidêmicos mais altos, mas as tratadas com suco de menta tiveram níveis mais baixos. Entre os filhotes das ratas-controles também tratadas com o suco, houve benefício equivalente, quanto à lipidemia (não houve diferença quanto à glicemia, uma vez que esta não se alterou)14. 

Estudos em humanos. Potencial terapêutico 

Efeito sobre bioavaliedade de drogas e nutrientes; metabolismo 

Relatou-se que Mentha atuou interferindo sobre o citocromo P450, aumentando a concentração plasmática de bloqueador de canais de cálcio. Também foi referida a intervenção sobre a absorção de ferro não-heme pelo chá de hortelã, em intensidade semelhante à do chá preto, dependendo da proporção de polifenóis1. 

Ação gastrointestinal 

A Comissão E alemã aprovou o chá de hortelã para tratamento de dispepsia. O uso de extrato também foi aprovado como antiespasmódico, para colecistopatia e síndrome do intestino irritável1.

O óleo de hortelã inibe o esvasiamento da vesícula biliar, a motilidade do intestino delgado. Por via inalatória, reduziu náusea, mas sem significância estatística. Embora estudos demonstrem não influir sobre o esvasiamento gástrico, outros autores observaram aceleração desse processo1.

Vários estudos demonstraram efeito antiespasmódico digestivo, tanto na realização de endoscopia, como em exames contrastados com bário15. Esse efeito tem utilidade no tratamento de dor abdominal e também em quadros dispépticos, e foi comprovado por muitos estudos, não só comparando com placebo, como com outros tratamentos herbáceos, e com metoclopramida1.

Há referências favoráveis ao efeito de hortelã na síndrome do intestino irritável, tanto em adultos, quanto em crianças. Revisão encontrou 12 estudos placebo-controlados utilizando menta, dos quais 8 mostraram resultado bom, com poucos efeitos adversos (ardor perianal, sensações desconfortáveis), diferentemente dos anticolinérgicos, que não tiveram resultados superiores, e causaram boca seca e visão turva. Os autores concluem que 1 a 2 cápsulas de menta ao dia, por 24 semanas, pode ser considerado tratamento de escolha nesses pacientes16. 

Ação respiratória 

A Comissão E aprovou o uso de Mentha piperita para inflamação da mucosa oral e como anticatarral1.

Relatou-se que mentol (mas não seus isômeros isomentol e neomentol) teve efeito farmacológico respiratório independente do aroma, sua inalação causando sensação de alívio respiratório, apesar de que a medida do fluxo não se alterar, porém esse efeito só foi obtido pela inalação, e não por outra via. O mesmo se observou quanto à redução da tosse. A explicação é que o mentol atua por estímulo das terminações nervosas nasais. Observou-se, inclusive, pela avaliação eletroencefalográfica, que a inalação de mentol diminuiu as ondas β, e aumentou as α, sugerindo atuação sobre a massa branca cerebral. Por outro lado, a administração oral de mentol e cineol reduziu a necessidade de corticóide em pacientes asmáticos. Como observou-se que o cineol provocou a redução de ácido araquidônico, de leucotrieno-4 e de prostaglandina E2 tanto em monócitos de asmáticos como de pacientes sem a afecção, fica a hipótese de que o efeito antiasmático se deva a redução do processo inflamatório1.

Médicos israelenses, trabalhando com práticas complementares, testaram a inalação de associação de óleos aromáticos (Eucalyptus citriodora, Eucalyptus globulis, Mentha piperita, Origanum syriacum, Rosmarinum officinalis) e placebo, em paciente com manifestações respiratórias superiores, concluindo pela melhora com as plantas pesquisadas, em comparação com o placebo, porém por apenas 3 dias. A hipótese dos autores para a melhora foi a atuação antiinflamatória e analgésica. Também justificam o término de efeito em 3 dias pela melhora natural. Os autores comentam que a obtenção de melhora com o spray aromático traz a vantagem de evitar a prescrição de antibióticos, que seriam inúteis em alguns casos, como as infecções virais17. 

Ação analgésica 

O uso externo de Mentha piperita foi aprovado pela Comissão E para tratamento de mialgia e neuralgia. Observou-se, como já mencionado no item anterior, que mentol pode atuar pela via nervosa. A aplicação de mentol sobre a testa e têmporas produziu efeito analgésico, comparando-se com outros tratamentos com óleos aromáticos, e também com acetaminofen, comprovando sua utilidade no tratamento de cefaleias tensionais1. 

Ação sobre o sistema nervoso 

Pondo em questão o quanto substâncias aromáticas, embora tradicionalmente conhecidas como sedativas ou estimulantes, de fato o sejam, foi realizado estudo em que voluntários, no escuro, aspiraram papéis de filtro que haviam sido mergulhados em diferentes óleos essenciais (incluindo menta) e depois submetidos a testes de reação a estímulo. Não houve diferença significativa em relação ao controle (água) com nenhum deles. Os autores concluíram que as reações sedativas ou estimulantes conhecidas são meramente psicológicas18. 

Utilizando inalação de óleo essencial de menta e de manjericão, antes de trabalho mental, e a seguir medindo a temperatura digital e ondas eletroencefalográficas de voluntários, os autores encontraram decréscimo térmico e aumento das ondas β, além de sensação de melhor rendimento mental nos que inalaram manjericão, ocorrendo o inverso nos que inalaram menta19.

Reações adversas; toxicidade

Foram feitos diversos estudos em ratos. Quando administrado óleo até a dose de 10mg/Kg de peso, não foram observados efeitos adversos. Com dose acima de 40mg/Kg, foram observadas lesões na massa branca do cerebelo e, após estudo prolongado (90 dias), formações císticas na massa branca cerebelar, além de formações hialinas em túbulos renais. Administrando mentol, acima de 200mg/Kg, por 4 semanas, encontrou-se aumento do peso do fígado, assim como vacuolização dos hepatócitos. Quando administrada pulegona, por 28 dias, acima de 80mg/Kg, houve atonia, perda de peso corporal, diminuição da creatinina, e alterações histopatológicas em fígado e também na massa branca do cerebelo, mas nenhuma alteração foi observada com dose abaixo de 20mg/Kg. Já se oferecida mentona, em doses de 200, 400 e 800mg/Kg, por 4 semanas, houve diminuição da creatinina, aumento da fosfatase alcalina, e essas alterações foram dose-dependentes; só com as maiores doses também se observou aumento das bilirrubinas e também aumento de peso de fígado e baço, bem como alteração anátomo-patológica do cerebelo. Com limoneno e com cineol (respectivamente 800 e 1600mg/Kg e 500 e 100mg/Kg) houve acúmulo de gotas de proteína contendo α-globulina nos túbulos proximais1.

O uso cosmético de Mentha piperita é considerado seguro, desde que haja menos de 1% de pulegona. Mentol é avaliado como de muito baixa toxicidade, porém sua absorção é alta, por todas as vias, além de favorecer a absorção de outros compostos, portanto devendo levar-se em consideração a composição do produto utilizado, a fim de calcular o risco desses outros compostos. A probabilidade de reações alérgicas a menta ou a seus compostos é baixa, tanto por uso tópico, como sistêmico1.

Descreveu-se atividade estimulante de FSH e LH, e também decréscimo de testosterona, em ratos cuja água foi substituída por chá de hortelã. No tecido testicular, houve retardo da  maturação dos túbulos seminíferos. Os autores alertam que esse efeito deve ser considerado no tratamento dos casos de infertilidade humana20. O estudo mereceu comentário editorial, pondo em relevo o fato de ser o primeiro relato do tipo, e confirmando a preocupação dos autores21.

A Comissão E recomendou cuidado na administração de óleo de Mentha em casos de refluxo gástrico, hérnia de hiato ou cálculos renais, contraindicando seu uso a pessoas com problemas de vesícula biliar e hepáticos, apesar de até o momento não haver indicações de toxicicidade crônica em humanos1.

Interações medicamentosas

Pesquisadores brasileiros estudaram a interação de guaco, goiaba, cravo, alho, capim-limão, gengibre, carqueja e hortelã com a ação de Staphylococcus aureus (já mencionado antes, neste texto) e de sua ação sinergística com os agentes antimicrobianos. Hortelã teve ação sinérgica com tetraciclina, cloranfenicol, netilmicina, eritromicina, gentamicina (inibidores da síntese protéica) e com oxacilina (inibidor da síntese bacteriana da parede celular), mas não teve interação com os demais pesquisados (vancomicina, penicilina, cefalotina, ampicilina, cefoxitina, clotrimazol e ofloxacino3.

Referências

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