sexta-feira, 29 de março de 2013

Manjericão (Ocimum basilicum L.)

por Daniel Garcia
Quem nunca sentiu o aroma e sabor da planta conhecida popularmente como manjericão ? É muito difícil encontrar alguém que nunca tenha saboreado uma refeição contendo algumas folhas dessa planta medicinal, aromática e condimentar.

O manjericão é originário da Ásia tropical, especificamente da Índia e faz parte há pelo menos 5 mil anos da culinária de muitas culturas ao redor do mundo. Através do comércio de especiarias com a Índia, a Itália passou a usar constantemente esse condimento em sua culinária e medicina tradicional. Com as imigrações italianas para o Brasil, por volta de 1880, o manjericão foi trazido nas embarcações e até hoje é cultivado, principalmente em pequenas hortas domésticas.

O manjericão também é conhecido no Brasil como: alfavaca, basilicão, manjericão-italiano entre outros nomes vernaculares. Ao redor do mundo ele é conhecido como: na Espanha, de albahaca de Castilla, albahaca franscesa, hirba de la bruja, hierba real; na França, de basilic, herbe royale; na Itália, de basilico; na Inglaterra, de basil, Roman basil; na Alemanha, de Basilikum; na China, de luó lè (罗勒); no Japão, de bajiru (バジル).

O uso do manjericão pelo mundo é bastante diversificado e o emprego na culinária é provavelmente o uso mais conhecido. As folhas frescas e/ou secas, ricas em óleos voláteis, são utilizadas para enfeitar e aromatizar comidas; em especial, nas cozinhas do mediterrâneo, onde também se usa na salada caprese, sopas, guisos, carnes, queijos, pizzas, sendo o principal ingrediente do molho pesto (azeite de oliva, alho, manjericão e nozes). É usado também na cozinha do sudeste asiático e faz parte dos ingredientes do curry (Caa, 2008; Katzer, 2008). No nordeste argentino se usa para fazer bolo de chocolate, sopas e infusões (Hilgert, 1999). Na Índia, é uma planta muito utilizada como tempero. Já nas Antilhas, as pessoas empregam-na em rituais a fim de espantar os “maus espíritos”.

O aroma inconfundível exalado de suas folhas e flores é consequência do rompimento de tricomas glandulares (figura 2), que por sua vez libera óleo e outros componentes químicos. Os tricomas se rompem por diversos motivos, mas o dano mecânico (ex., quando passamos a mão, molhamos com água ou até mesmo quando um inseto encosta nas folhas) e a temperatura do ambiente (em dia ensolarado e quente o manjericão exala mais odor) são os mais comuns.
Figura 2: Aspecto glandular dos tricomas de manjericão. Fonte

O manjericão faz parte do grupo seleto de plantas medicinais, aromáticas e condimentares muito valorizadas no mercado mundial. Além dos usos na culinária, ainda pode ser usada como: ornamental (jardins medicinais e de odores), na indústria farmacêutica (preparação de fórmulas naturais na cura de diversas doenças), na indústria de cosméticos (como bases para sabonetes, perfumes, cremes – incluindo os cremes dentais) e, para produção de óleo essencial, sendo esta última característica a mais valorizada (Lachowicz et al. 1997). Em relação a produção mundial de óleos essenciais, no ano de 2001 girava por volta de 45.000 toneladas, avaliadas em US$ 700 milhões. Estimou-se que a produção brasileira de óleos essenciais correspondeu na mesma época a 13,5% da produção mundial (Rocha, 2002).

Na medicina popular e tradicional de alguns países o manjericão tem sido empregado para reduzir a ansiedade, diabetes, dores de cabeça, dores nos nervos, anti-inflamatória (Gonzáles et al., 2011); controle de mosquitos e parasitas externos (Bora et al., 2011). Garcia et al., 2010, investigando o uso popular de diversas plantas medicinais, aromáticas e condimentares entre migrantes da Mata Atlântica de Diadema (São Paulo-SP) observaram que o manjericão possui ação terapêutica na forma de xarope para o combate da bronquite.

Referências

Caa, Código alimentário nacional. Cap. XIV. Correctivos y coadyuvantes, 2008.

Hilgert NI. Las plantas comestibles en un sector de las Yungas meridionales (Argentina). Anales Jard. Bot. Madrid, vol. 57, p. 117-138, 1999.

Lachowicz KJ et al. Characteristics of plants and plant extracts from five varieties of basil (Ocimum basilicum) grown in Australia. Journal of Agricultural and Food Chemistry, vol. 45, p. 2660- 2665, 1997.

Rocha RP. Avaliação do processo de secagem e produção de óleo essencial de guaco. Universidade Federal de Viçosa, 2002.

González JA et al. Traditional plant-based remedies to control insect vectors of disease in the Arribes del Duero (western Spain): an ethnobotanical study. J Ethnopharmacol. 2011 Nov 18;138(2):595-601.

Bora KS et al. Role of Ocimum basilicum L. in prevention of ischemia and reperfusion-induced cerebral damage, and motor dysfunctions in mice brain. Journal of Ethnopharmacology, vol. 11, p. 1360-1365, 2011.

Garcia D et al. Ethnopharmacological survey among migrants living in the Southeast Atlantic Forest of Diadema, São Paulo, Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, vol. 6, p. 29-48, 2010.

Daniel Garcia é graduado em Engenharia Agronômica pela Faculdade Cantareira (SP), com iniciação científica em Etnofarmacologia pela UNIFESP e Agronomia pela USP. Atualmente é mestrando em Horticultura pela UNESP.

Data: 27.03.2013
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