quinta-feira, 21 de março de 2013

Plantas tóxicas: coroa-de-cristo


Nome Ciêntífico: Euphorbia millii Des Moulins
Coroa de Cristo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Coroa-de-cristo

Família botânica: Euphorbiaceae
Outros nomes populares: dois-irmãos, bem-casados, coroa-de-nossa-senhora, duas-amigas
Sinonímia botânica: Euphorbia splendens Bojer


Arbusto perene, latescente, com até 1,5m de altura, muito ramificado, com ramos compridos e contorcidos, armados de numerosos espinhos com cerca de 2,5cm de comprimento. Folhas alternas, simples, inteiras, obovadas ou espatuladas, glabras, membranosas, curto pecioladas. Flores unissexuais, reunidas em inflorescências tipo ciátio, longo-pedunculadas com brácteas vermelhas e invólucro campanulado com cinco glândulas apicais. Fruto cápsula tricoca.


Originária da Ilha de Madagascar, a espécie Euphorbia millii Des Moulins é muito difundida no Brasil, onde duas variedades (var. hislopii, com folhas de ca. 7cm de comprimento e a var. beoni, com folhas de ca.15cm de comprimento) são cultivadas como ornamentais e como cercas-vivas.

Há uma extensa literatura relatando o potencial efeito moluscicida de várias espécies do gênero Euphorbia. Teoricamente, estas plantas representam uma solução de baixo custo e ecologicamente correta no controle de vetores da esquistossomose. Porém, as propriedades tóxicas apresentadas pelos látices diminuem a viabilidade do uso das mesmas. Vários estudos com ratos e com coelhos estão sendo realizados por muitos autores na tentativa de encontrar diluições apropriadas do látices, para que estes sejam aplicados em lagoas sem prejuízos para seres humanos e outros animais.


Muitas espécies do gênero Euphorbia são causadoras de intoxicações, principalmente E. pulcherrima Willd (bico-de-papaguaio), E. lactea, E. tirucalli L. (árvore-de-são-sebastião) e a própria E. millii Des Moulins (coroa-de-cisto). Estas contêm em seus látices compostos que são irritantes para a pele e para as mucosas (Freitas et al., 1991). O látex destas plantas é um fluído leitoso que contém um aglomerado de materiais de baixa densidade, comuns aos látices, e várias enzimas (conhecidas como forbaínas), bem como terpenos, alcalóides, vitaminas, carboidratos, lipídeos e aminoácidos livres (Lynn & Clevette-Radford, 1987). Não está esclarecido o princípio responsável pela ação cáustica do gênero, no entanto, alguns autores (Lynn & Clevette-Radford 1986/1987; Evans & Edwards, 1987; Schall et al., 1991) relatam a presença de ésteres de forbol em todas as espécies.

Os ésteres de forbol são uma complexa mistura do diterpeno tetracíclico, e são responsáveis pela ação irritante de algumas plantas como, por exemplo, a espécie Jatropha curcas L., pertencente a esta mesma família, e que será abordada mais adiante. Estes compostos apresentam atividades promotoras de tumor em exposições crônicas (Evans & Edwards, 1987). Um dos maiores ésteres de diterpeno existentes, a resiniferatoxina, é encontrada no látex de E. resinifera, e em várias outras espécies de Euphorbia. A resiniferatoxina é um potente irritante, e tem ação semelhante à da capsaicina, excitando e então dessensibilizando fibras nervosas aferentes primárias. Esta propriedade tem sido usada na medicina para aliviar a dor através de aplicações tópicas (Norton, 1996). Além da ação dos ésteres de forbol, a presença de proteases e o baixo pH do látex (4,5 a 5,5) podem agravar a irritação.

As crianças com idades ente seis e nove anos de idade são as principais vítimas dos casos de intoxicação com esta planta tóxica. 

Os casos mais freqüentes estão associados ao contato do látex com a pele e com as mucosas. Comuns são os incidentes em adultos em atividades de jardinagem, provocados pelo contato do látex através com a pele ou o contato da mão suja de látex com os olhos durante a poda. Em crianças, o contato ocorre freqüentemente durante as brincadeiras, ao tirar leite da planta para fazer “comidinha”. Casos de ingestão são mais raros, provavelmente devido ao sabor desagradável do vegetal e ao rápido aparecimento dos sintomas irritativos da mucosa oral.

A exposição aguda da pele ao látex causa uma condição inflamatória direta sobre a epiderme, que é caracterizada por vermelhidão, inchaço, dor e necrose dos tecidos. Quando partes da planta são ingeridas, desenvolve-se uma sensação de queimação nos lábios, na língua e na mucosa bucal. Subsequentemente surgem dores intestinais, vômitos e diarreia  O contato com os olhos pode levar ao desenvolvimento de conjuntivites, queratites e uveites, juntamente com inchaço das pálpebras e fechamento dos olhos devido ao edema. Todos os sintomas ocorrem imediatamente e podem durar várias horas ou dias após a exposição (Evans & Edwards, 1987). Karp & Schott (1996) relatam que os pacientes que tiveram seus olhos acidentalmente instilados com o látex não apresentaram injúrias oculares significantes, quando tratados imediatamente. Entretanto, pacientes que demoraram em procurar ajuda médica apresentaram complicações como úlcera corneal, perfuração da córnea e conseqüente cegueira.Em todas as ocorrências o tratamento foi sintomático. No caso do contato com a pele, quando medidas de higiene (como lavagem prolongada do local) forem tomadas a tempo, não ocorre o desenvolvimento de lesões sérias. Em caso de formação de vesículas ou pústulas, devem ser tomadas medidas de precauções contra o aparecimento de infecções secundárias (Schvartsman, 1979). Se o contato for com os olhos, após lavagem prolongada com grande quantidade de água corrente, é recomendado o uso de colírios anti-sépticos. Em lesões mais graves, é aconselhado o uso de corticoides e anti-histamínicos. Nos casos de ingestão, a lavagem gástrica é desnecessária, sendo recomendada somente se a quantidade de planta ingerida for considerável. A administração de carvão ativado, de laxantes, de analgésicos e de demulcentes, como leite e óleo de oliva, é recomendada (Schenkel et al., 2001; Schvartsman, 1979; Ellenhorn e Barceloux, 1988).


Texto: Rejane Barbosa de Oliveira

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