quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O poder do cranberry » Revista Herbarium

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Thais Szegö, de São Paulo |7 de agosto de 2013
 
A fruta é pequena no tamanho, mas grande na capacidade de combater o micro-organismo que provoca infecções urinárias
 
Os índios dos Estados Unidos, de onde ela é originária, conhecem e lançam mão da sua ação contra os males urinários há séculos. A medicina moderna também se rendeu aos seus poderes. Já existem cerca de 600 trabalhos científicos comprovando a sua eficácia contra o problema que atinge principalmente as mulheres e tem como principais sintomas: ardência ao urinar, necessidade frequente de ir ao banheiro e dor na parte inferior do abdômen.

Um dos mais recentes foi realizado pela Cochrane Collaboration, uma rede dedicada à revisão de estudos na área de saúde, em parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Dez pesquisas sobre o tema foram analisadas, envolvendo um total de 1.049 participantes. O resultado mostrou que o consumo diário de produtos à base da planta reduziu a incidência de infecções no trato urinário que envolve a uretra, a bexiga, o ureter e os rins, em 35%. O efeito foi ainda mais eficaz em pessoas que sofriam frequentemente com esse problema, com três ou mais infecções urinárias ao ano. Nelas, a diminuição foi de 39%. Outro estudo, esse da Universidade Nacional de Taiwan, publicado no periódico Archives of Internal Medicine, mostrou que os voluntários que não ingeriram o alimento apresentaram um risco 62% maior de sofrer com o problema.

Todas essas investigações provam que o cranberry age contra a bactéria Escherichia coli, a vilã de 90% dos casos da doença. “A fruta dificulta a adesão do micro-organismo na parede da bexiga, que é a condição necessária para que o problema aconteça”, explica o urologista Cristiano Mendes Gomes, do Núcleo Avançado de Urologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “As substâncias que estão por trás desse efeito são as proantocianidinas, conhecidas como PAC”, afirma a nutricionista Gisela Safioli, pós-graduada em nutrição clínica funcional e fitoterapia. “Elas também são encontradas em outros alimentos, como o chocolate amargo, o vinho tinto, as maçãs e alguns tipos de chá”, ensina a pesquisadora Amy Howell, da Rutgers University, nos Estados Unidos, que é especialista no assunto. “Mas, nesse caso, elas são do tipo B, que também tem ação antioxidante e anti-inflamatória, mas não apresenta esse efeito contra a bactéria”, alerta. “Isso só ocorre com o tipo A, encontrado apenas no cranberry e, em menor quantidade, no mirtilo.”

Amy foi a primeira especialista a comprovar a ação da PAC A contra o micro-organismo, em 1998. Na época, ela e sua equipe descobriram que a substância oferece um efeito que combate a adesão da bactéria até 10 horas após a ingestão da fruta. Além de ter se mostrado bastante eficaz, o consumo do cranberry contra a infecção urinária tem outra vantagem: ele evita a resistência bacteriana, o que ocorre quando os antibióticos entram em cena. “Esse risco é ainda maior quando o uso do medicamento é continuado, como acontece nos esquemas de prevenção de recorrência da cistite – a inflamação da bexiga”, ressalta Cristiano Mendes Gomes, do Sírio-Libanês. E estudos mostraram ainda que a fruta pode ser usada em parceria com esses medicamentos, pois não atrapalha a ação dos seus princípios ativos.”Mas é bom que fique claro que a fruta tem uma ação preventiva e não consegue tratar a infecção quando ela já está instalada”, afirma o médico.

Infelizmente a fruta dificilmente é encontrada in natura no Brasil, pois é típica de países mais frios. Mas seu suco e seu extrato, vendido na forma de cápsulas ou sachês estão disponíveis em território nacional. “No caso da bebida, em dois dias a pessoa já sente uma melhora do quadro”, garante a nutricionista e fitoterapeuta Vanderlí F. Marchiori, de São Paulo, que recomenda o cranberry para seus pacientes há mais de dois anos. “Já o extrato costuma apresentar os efeitos no mesmo dia”, afirma. Mas, se os sintomas típicos da infecção urinária derem as caras, o ideal é procurar um médico antes de qualquer coisa, para que ele possa afastar a hipótese de problemas mais graves, como pedras nos rins.

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