sábado, 31 de agosto de 2013

Promoção do estilo de vida e de alimentação saudáveis nas escolas

25 de julho de 2013

Dr. Ana Marlúcia Oliveira Assis é nutricionista e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Saúde Pública pela Escuela de Salud Publica do México e doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia. Em entrevista para o LOGICOS, Ana e a nutricionista Jaqueline Costa Dias, que desenvolveu seu trabalho de dissertação neste projeto, falam sobre a pesquisa “Estratégia de promoção de estilo de vida e alimentação saudáveis na escola e no ambiente doméstico – um estudo de intervenção”, realizada em escolas da Bahia.

No que consiste a pesquisa?

A pesquisa foi pensada para responder à crescente ocorrência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na infância, a exemplo das dislipidemias, diabetes melittus tipo II e sobrepeso/obesidade que em muitos casos perduram até a vida adulta.

A pesquisa trata de uma intervenção que promoveu hábitos alimentares e estilo de vida saudável em escolares, privilegiando o ambiente escolar para a realização das ações. Considerou-se que as ações e acontecimentos desenvolvidos no ambiente escolar têm expressivo poder de ramificação em nível familiar e da sociedade em geral. Em especial pelo poder da criança em influenciar mudanças no domicílio, a partir do conhecimento adquirido na escola. O estudo teve a duração de 12 meses.

Neste caso, o ambiente escolar envolveu a escola e o escolar e seus atores, a exemplo dos professores e merendeiros, e se ramificou pela família e pela sociedade de uma maneira geral.

Como a pesquisa foi realizada? Quais foram os métodos utilizados?

A pesquisa é na realidade uma atividade de extensão e ação. A partir do conhecimento da alta prevalência do sobrepeso/obesidade entre os escolares do município de Mutuipe, situado no Recôncavo Baiano a aproximadamente 280 Km da capital do estado da Bahia, optou-se por adotar a proposta de intervenção proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que apregoava o desenvolvimento destas ações nas escolas. Nem todas as escolas do município aderiam ao estudo. Assim, somente as escolas do estado e dos municípios aceitaram participar.

Pode-se resumir a realização da pesquisa assim: no primeiro momento, realizou-se a sensibilização dos gestores municipais, diretores das escolas, professores, merendeiras e familiares dos escolares para a participação no estudo. Após essa sensibilização e o consentimento dos envolvidos, realizou-se a avaliação antropométrica, exames bioquímicos (para identificar o perfil lipídico e os níveis de glicemia de jejum) e os escolares, juntamente com os responsáveis, responderam um questionário semi-estruturado com questões referentes às condições socioeconômicas, de estilo de vida e do consumo alimentar. Com esses dados, foi realizado o diagnóstico nutricional e de saúde desses escolares.

Com este diagnóstico disponível, e com os professores e gestores já sensibilizados, as atividades de intervenção começaram a ser desenvolvidas na escola.

Os escolares realizaram novos exames antropométricos e bioquímicos, e responderam aos questionários (avaliação semelhante ao do primeiro momento) no sexto mês e no décimo segundo mês após inicio da intervenção.

Após cada avaliação, todos os participantes que tinham alguma alteração nos exames (antropométrico ou bioquímico) eram encaminhados para o atendimento nutricional.

Qual foi a estratégia para promover a boa alimentação e hábitos saudáveis de vida nas escolas e residências?

A promoção da alimentação e do estilo de vida saudáveis precisa envolver todos os ambientes em que os escolares estão inseridos (escola, família e sociedade) para que proporcione a adoção de alimentação e estilo de vida saudáveis.

Assim, as ações foram sistematizadas: no nível da sociedade, eram realizadas entrevistas de orientação e esclarecimento da importância da adoção de hábitos de vida e alimentação saudáveis na rádio local de alcance para área rural e municípios vizinhos. Chamamento para participação da comunidade e das famílias para participarem das sessões de aconselhamento e discussão. Estas reuniões eram abertas também para qualquer membro da sociedade.

No âmbito escolar foram desenvolvidas oficinas de capacitação com as merendeiras, onde foram abordados não só os cuidados higiênicos necessários para a preparação dos alimentos, mas também os cuidados dietéticos para o melhor aproveitamento dos nutrientes. Oficinas de preparação de alimentos saudáveis, com ênfase na produção local, para a merenda escolar também foram desenvolvidas.

Além disso, foi realizada sensibilização com os diretores e professores para que estes inserissem conteúdos referentes a alimentação e hábitos de vida saudáveis de forma transversal nos conteúdos das disciplinas ao longo do ano. Incentivou-se a produção de horta escolar em parceira com os escolares e seus pais. Trabalho de conscientização sobre a venda dos alimentos saudáveis nas cantinas escolares também foi discutido. Alternativas surgiram destas sessões de discussão.

Às atividades desenvolvidas com as famílias foram constituídas por palestras voltadas para a adoção da alimentação e estilo de vida saudáveis e da prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Nestas atividades participavam todos os membros da família e a criança. Em nível de domicilio, utilizou-se um leque de estratégia, incentivadora de liderança pró-mudança do comportamento alimentar, motivadora e agregadoras de comportamentos.

Ainda no nível familiar, foram realizadas dinâmicas interativas utilizando pirâmide alimentar; rodas de conversas, onde os familiares interagiam uns com os outros, favorecendo a troca de experiências.

Em caso de crianças de uma das famílias apresentarem alteração no estado nutricional ou nos marcadores bioquímicos, os familiares também eram convidados a participarem de consulta individualizada e (família e criança) recebiam orientações por escrito.

Para as crianças, foi desenvolvida uma cartilha educativa (abordando temas sobre: alimentação e hábitos de vida saudáveis) com linguagem apropriada para a faixa etária e considerando os aspectos regionais;

Além disso, também para as crianças foram desenvolvidas atividades lúdicas e interativas. Como o jogo “João e Maria caminhando para o Reino saudável”; com os caminhos que levavam à alimentação e estilo de vida saudáveis especialmente montado para o estudo.

Durante os 12 meses, foram realizados seis contatos com as famílias, com palestras seguidas das dinâmicas e das rodas de conversas.

Quantas escolas participaram da pesquisa?

Um total de dez escolas, sendo duas particulares, três estaduais e cinco municipais.

Quantos estudantes participaram da pesquisa? Eram alunos de quais séries?

670 alunos da 1ª e 8ª series participaram da pesquisa.

Como surgiu a ideia da pesquisa?

Considerando a crescente prevalência da obesidade infantil e de suas comorbidades em todo mundo, começou-se a pensar em fazer o diagnóstico nutricional dos escolares daquele município. Então no ano de 2005, uma equipe de professores da ENUFBA realizou um censo com os escolares do município de Mutuípe (BA). Neste estudo, foi identificada elevada prevalência de obesidade infantil e risco das comorbidades associadas. Ao ter conhecimento dessas informações e na condição de Núcleo Assessor da Coordenação de Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, os pesquisadores que realizaram esta pesquisa, pautados na recomendação da OMS, resolveram viabilizar o desenvolvimento de estratégias de intervenção para prevenir e controlar a obesidade infantil e outras DCNT naquela população. As estratégias de intervenção foram baseadas na proposta da Estratégia Global para a Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde da Organização Mundial de Saúde. Esta estratégia foi também assumida pelo Ministério da Saúde do Brasil.

Quais foram os resultados obtidos?

Após a finalização do estudo, observou-se redução dos níveis elevados de colesterol e aumento na média de colesterol considerado bom (HDLc), entre os escolares que participaram das atividades de intervenção.

Observou-se após os 12 meses do estudo, os alimentos de risco para as doenças cônicas não transmissíveis tiveram consumo diminuído.

Algumas famílias relataram mudanças favoráveis na alimentação não só do escolar, mas de outros membros da família; Foram construídas hortas no espaço físico de três das escolas com o apoio da direção, dos pais, professores e dos alunos. Os alimentos dessa horta passaram a ser utilizado na merenda escolar. Algumas escolas particulares incluíram o dia da fruta, onde os alunos deveriam levar fruta como lanche naquele dia. Outras escolas proibiram a comercialização de alimentos industrializados com elevado teor de gordura e sódio e passaram a cobrar da secretaria de educação municipal que os alimentos adquiridos para a merenda escolar fossem mais saudáveis.

Na comunidade, observou-se efeito indireto representado pelo aumento do número de quitandas que comercializava frutas e verduras e relatos dos produtores rurais sobre o aumento da procura de alimentos in natura cultivados no município.

Qual é a contribuição da pesquisa para o SUS?

Para o SUS ficou a possibilidade de execução de atividade de baixo custo e baixa complexidade que pode ser operacionalizada em nível primário de atuação e que pode ter impacto positivo na redução dos parâmetros bioquímicos e antropométricos inadequados e, assim, promover a prática da alimentação e do estilo de vida saudáveis.

Houve alguma estratégia de comunicação para divulgar os resultados da pesquisa?

Os resultados dessa pesquisa foram apresentados para a Coordenação Geral de Politica de Alimentação e Nutrição/Ministério da Saúde, à Secretaria de Saúde do Município de Mutuipe, e alguns resultados foram divulgados por meio da publicação da dissertação de uma aluna do programa de pós-graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde da ENUFBA (biblioteca Virtual da UFBA); em apresentações em de congressos nacionais e internacionais. Um artigo está sendo submetido para apreciação de uma revista científica .

Link:
http://www.logicosbrasil.com.br/?p=276 

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