quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Mudanças climáticas: águas e temperaturas cada vez mais altas

Há um sério debate sobre por que as temperaturas observadas não mantiveram o ritmo das previsões modeladas por computador.

Publicamos aqui o editorial do jornal The Guardian, 01-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O relatório* da semana passada de que a atual “pausa” no aquecimento global poderia estar ligado à refrigeração cíclica no Pacífico será interpretada pelos céticos do clima como uma prova de que o aquecimento global não está acontecendo e pelos políticos como uma razão para esquecer as mudanças climáticas e seguir em frente como sempre. Ambas as respostas seriam perigosamente erradas.

Não há nenhum argumento sério na ciência do clima sobre a ligação entre os níveis de dióxido de carbono e a temperatura. Entre 1970 e 1998, o planeta aqueceu em uma média de 0,17º C por década, e de 1998 a 2012, 0,04º C por década. Os níveis de dióxido de carbono na atmosfera, no entanto, continuaram subindo e agora estão mais elevados do que em qualquer outro momento nos últimos 800 mil anos.

Doze dos 14 anos mais quentes já registrados ocorreram a partir do ano 2000; os últimos dois anos foram marcados por inundações catastróficas na Austrália e temperaturas recordes nos Estados Unidos; e a perda de gelo do Polo Norte acelerou a um ritmo tal que os modeladores climáticos esperam que o Oceano Ártico fique rotineiramente livre de gelo em setembro de 2040.

Há, no entanto, um debate sério sobre por que as temperaturas observadas não mantiveram o ritmo das previsões modeladas por computador e sobre onde se escondeu o calor que deveria estar registrado no termômetro global. Um palpite – apoiado por algumas pesquisas constantes, mas ainda incompletas – é que os oceanos profundos estão aquecendo: isto é, o calor extra que deveria ser mensurável na atmosfera foi absorvido pelo mar.

Essa não é uma boa notícia: atmosfera e oceano agem um sobre o outro, e qualquer calor armazenado é suscetível de ser devolvido para a atmosfera, mais cedo ou mais tarde, de forma imprevisível. A verdadeira lição da mais recente descoberta é que há muito ainda a ser entendido sobre como o planeta funciona e precisamente como o oceano e a atmosfera distribuem o calor do Equador aos polos.

A outra mensagem é que mais aquecimento está por vir. Isso porque o planeta ainda tem que sofrer as consequências das emissões de gases do efeito estufa de 20 anos atrás ou mais. Assim como a chama de gás debaixo da chaleira leva alguns minutos para aquecer a água, assim também a energia adicional posta na atmosfera leva uma ou duas décadas para se fazer sentir.

É por isso que modeladores climáticos que ficaram confusos pelo aumento menor do que o esperado nas temperaturas também alertaram que extremos de calor vão aumentar na próxima década ou duas, mesmo que os governos comecem ou não a reduzir as emissões.

Mas eles também alertam que, se o mundo continuar queimando carvão, petróleo e gás a preços cada vez maiores, então, na segunda metade do século os continentes poderão se mover para um novo regime climático, em que os meses mais frios do verão [do hemisfério norte] serão substancialmente mais quentes do que os mais quentes experimentados hoje.

A notícia não é animadora, e a complacência não é uma opção.

* Recent global-warming hiatus tied to equatorial Pacific surface cooling
Nature (2013) doi:10.1038/nature12534

(Ecodebate, 05/09/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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