sábado, 5 de outubro de 2013

Adubação verde ajuda a fertilizar o solo e a reduzir deslizamentos

Vinicius Zepeda*

Divulgação/Embrapa Agrobiologia
Na região serrana fluminense, trator auxilia na colocação de aveia-preta triturada para ser usada como planta de cobertura 

Em janeiro de 2011 fortes chuvas causaram deslizamentos de terra e assolaram a região serrana fluminense, em especial a cidade de Nova Friburgo, causando mortes e deixando milhares de desabrigados, além de sérios prejuízos. Região de forte riqueza agrícola, muito do solo local tornou-se infértil e, para recuperar seus lucros e tornar o local produtivo novamente, os agricultores têm utilizado altas doses de adubos sintéticos. Contudo, o alto investimento nem sempre veio acompanhado de retorno suficiente, o que passou a ameaçar seriamente a situação econômica de algumas famílias. Em busca de uma solução para o problema, a bióloga Adriana Maria de Aquino e o agrônomo Renato Linhares de Assis, pesquisadores da Embrapa Agrobiologia – uma das 47 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – vêm desenvolvendo um projeto de recuperação do solo da região através do plantio direto, sem revolvimento da terra, e da utilização de um adubo orgânico – sem utilização de componentes químicos – composto por aveia preta, tremoço-branco ou ervilhaca-comum triturada como plantas de cobertura. O projeto vem sendo desenvolvido com apoio do programa de Auxílio à Pesquisa (APQ 1), da FAPERJ.

Atualmente, cerca de 50 agricultores familiares em propriedades de dois a três hectares da localidade conhecida como Fazenda Rio Grande – no distrito de Campo Coelho, Nova Friburgo – estão testando a eficácia dos compostos e os resultados têm sido animadores. “Em alguns locais já vimos a areia virar barro e a produtividade de algumas terras quase dobrar”, explica a agrônoma da Embrapa Agrobiologia. Antes de começar estes estudos, a equipe de pesquisadores analisou o solo da região para constatar que o mesmo estava rico em nutrientes mas, não havia fertilidade física e biológica. “E o adubo mineral não conseguiria resolver. Dai propusemos investigar a eficácia do chamado adubo verde”, recorda.

Divulgação/Embrapa Agrobiologia 
Plantação de couve-flor após pré-cultivo de aveia-preta

Segundo Adriana, a ideia é que o adubo verde, após o corte, seja utilizado como uma camada protetora do solo, uma espécie de palhada. Assim, além servir como proteção contra os deslizamentos de terra, ainda serve como adubo natural. “As raízes de aveia preta, por exemplo, medem mais de 20 centímetros e ajudam a evitar que as chuvas provoquem o deslizamento do solo. Além disso, não impedem-no de ser naturalmente irrigado”, explica. A aveia-preta é a espécie mais utilizada, por ser mais fácil de conseguir as sementes que o tremoço-branco e a ervilhaca-comum, e tem sido a preferida dos agricultores envolvidos no projeto.

Já com relação ao tremoço-branco e a ervilhaca comum, a pesquisadora destaca a eficácia dos dois na fixação de nitrogênio no solo, chegando a reduzir, ou mesmo eliminar a necessidade de aplicação de fertilizantes nitrogenados. “O tremoço, adapta-se bem aos solos de baixa fertilidade, suas sementes são comestíveis e possuem altos teores de proteína”, ensina a bióloga. “Já a ervilhaca, tem sido usada combinada à aveia preta”, complementa.

Workshop apresentou alternativas para a região serrana

A elaboração de um livro com relatos de diferentes instituições sobre suas experiências em agricultura de montanha e a efetivação da parceria com pelo menos duas instituições internacionais foram alguns dos resultados práticos alcançados ao final do II Workshop sobre Desenvolvimento Sustentável em Ambiente de Montanha e o I Seminário sobre Desenvolvimento Territorial Endógeno. Os eventos, coordenados por Adriana Aquino e desenvolvidos com apoio do programa de Auxílio à Organização de Eventos (APQ 2), da FAPERJ, reuniram pesquisadores, técnicos, professores e profissionais de diferentes áreas do conhecimento do Brasil e do exterior, de 10 a 12 de setembro, em Nova Friburgo, região serrana fluminense. 

Lucas Aquino de Assis
O agrônomo Renato de Assis e a bióloga Adriana de Aquino orientam os agrônomos da região serrana no âmbito do projeto

Na abertura dos eventos, o público teve um panorama de como a agricultura é praticada nos ambientes de montanha na Europa. O pesquisador Jaime Maldonado, do Centro de Investigação de Montanha de Bragança, Portugal, abordou aspectos técnicos da agricultura nesses locais, como por exemplo, a variação do uso do solo de acordo com a altitude, a produção de alimentos e produtos de origem florestal, assim como o pagamento e compensações por serviços ambientais. Segundo o pesquisador português é impossível haver desenvolvimento sustentável quando o uso do solo não é correto.

O agrônomo Renato Linhares de Assis, da Embrapa Agrobiologia, relatou as experiências com a implantação de práticas agroecológicas em unidades de produção local. De acordo com Renato, após a tragédia de 2011 as pessoas tornaram-se mais motivadas para a mudança e é possível constatar uma predisposição maior para as questões ambientais. “Os agricultores estão mais sensíveis, mas há uma série de outras questões relevantes. Para avançar nas práticas sustentáveis é preciso mudar a lógica da produção agrícola com o mercado”, disse.

A promoção do turismo sustentável em regiões de montanha foi apontado pela consultora do Banco Mundial e representante da Associação das Montanhas Famosas, Mônica Amorim, como uma das alternativas para a valorização e conservação da natureza na região serrana fluminense. Nesse sentido, um grupo já trabalha para a construção de uma proposta conjunta para candidatura da região à Associação das Montanhas Famosas. “Vamos discutir a proposta com órgãos competentes para avaliar essa possibilidade da candidatura da região serrana fluminense”, concluiu a coordenadora dos eventos e pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, Adriana Aquino.

*com informações do Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Agrobiologia

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