quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Artigo: Plantas medicinais e hipertensão

Autores: MAIA, Laísa Ferreira; CASTRO, Quênia Janaina Tomaz de; RESENDE, Fernanda M. Freitas; RODRIGUES-DAS-DORES, Rosana Gonçalves
Disponível em http://www.ufop.br/downloads/farmacia_revista24_artigo_tecnico.pdf

Resumo


Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é doença crônica não-transmissível, definida quando os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) são ≥ 140 mmHg e/ou de pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, sendo que estes valores devem refletir pelo menos duas medidas com intervalo de dois minutos entre elas. A utilização de plantas medicinais e fitoterápicos na prevenção e/ou na cura de enfermidades é hábito corriqueiro prevalente na história da humanidade, e ainda, nos dias de hoje, continua ocupando lugar de destaque no arsenal terapêutico disponível. Entretanto, as plantas medicinais produzem compostos bioativos, que podem atuar de forma dúbia. Assim, é fundamental o estudo de fitoterápicos, visando identificar as possíveis interações e mecanismos de ação farmacológica destes medicamentos, de forma a poder assegurar o seu uso racional.

Palavras-chave: Interações medicamentos-plantas medicinais, Fitoterapia, Alopatia.

Introdução

Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é doença crônica não-transmissível,de origem multifatorial e causal, altamente prevalente, sendo responsável por grande número de óbitos em todo o país. Em indivíduos com idade maior que 18 anos, é definida quando os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) são ≥ 140 mmHg e/ou de pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, sendo que estes valores devem refletir pelo menos duas medidas com intervalo de dois minutos entre elas.

Segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010), são considerados fatores de risco: idade, gênero e etnia, excesso de peso e obesidade, ingestão de sal, ingestão de álcool, sedentarismo, fatores socioeconômicos, genética e outros fatores de risco cardiovascular. 

A grande prevalência desta enfermidade e de seus fatores de risco, associada ao não tratamento adequado e ao fato de ser assintomática, multiplica a probabilidade da ocorrência de complicações, tais como: doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades.

O principal objetivo do tratamento da HAS é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares (SBC, 2010) por meio de medidas farmacológicas e não farmacológicas. Medidas não farmacológicas consistem em redução do peso corporal, dieta hipossódica e balanceada, aumento da ingestão de frutas e verduras, redução de bebidas alcoólicas, realização de exercícios físicos, cessação/atenuação do tabagismo e a substituição da gordura saturada por poliinsaturados e monoinsaturados. Em relação ao tratamento farmacológico, para o hipertenso leve, é recomendado fármaco que pertença a uma das seis classes de anti-hipertensivos (diuréticos, betabloqueadores, simpatolíticos de ação central, antagonistas dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora de angiotensina e antagonistas do receptor de angiotensina II). Caso não seja obtido o controle da pressão arterial com monoterapia, pode-se aumentar a dose do fármaco, associar a outro fármaco ou substituir a monoterapia (SBC, 2010).

A utilização de plantas na prevenção e/ou na cura de moléstias é hábito corriqueiro na história da humanidade (Oliveira et al, 2007). Desde os primórdios da civilização, o homem pré-histórico já disponibilizava os recursos vegetais como terapêutica. É importante salientar, que o uso de plantas medicinais integra-se à história da Medicina e da Farmácia e revela-se nos dias de hoje, com a Fitoterapia ocupando lugar de destaque no arsenal terapêutico (Costa et al, 1998). Entretanto, as plantas medicinais produzem compostos bioativos, que podem atuar de forma dúbia (Ritter et al, 2002). É importante esclarecer que plantas medicinais e, por consequência, os medicamentos fitoterápicos são constituídos de misturas complexas de substâncias bioativas, denominados compostos secundários, que podem ser responsáveis por ações polivalentes (Alexandre et al, 2007). No medicamento fitoterápico, ao contrário do medicamento sintético, não há substância ativa isolada, o que dificulta informações acerca de sua ação farmacológica e biodisponibilidade. 

Outro aspecto importante acerca da Fitoterapia são as possíveis interações medicamentosas que venham ocorrer entre medicamentos sintéticos e fitoterápicos. O termo interações medicamentosas se refere à interferência de dado fármaco na ação de outro, ou de alimento ou nutriente na ação de medicamentos (Cordeiro et al, 2005).

As respostas decorrentes da interação podem acarretar potencialização do efeito terapêutico, redução da eficácia, aparecimento de reações adversas com distintos graus de gravidade ou ainda, não causar nenhuma modificação no efeito desejado do medicamento (Secolli, 2001). Desta forma, as interações podem ser benéficas ou indesejáveis, podendo ainda, ser divididas em três categorias segundo a fase farmacológica determinante (Vale, 1997):a. Farmacêutica – incompatibilidade física, química ou físico-química entre dois ou mais fármacos, conservantes e diluentes.

b. Farmacocinética – modificação dos farmácos em seu trânsito pelo organismo: absorção, distribuição, armazenamento, metabolismo e eliminação. 

c. Farmacodinâmica – modificação do efeito bioquímico ou fisiológico do fármaco. Geralmente, ocorre no local de ação dos medicamentos (receptores farmacológicos) por meio de mecanismos bioquímicos específicos, sendo capaz de causar efeitos semelhantes (sinergismo) ou opostos (antagonismo) (Secolli, 2001).

A utilização inadequada de determinado fitoterápico ou droga vegetal mesmo de baixa toxicidade, pode induzir distúrbios graves desde que pré-existam outros fatores de risco tais como contra-indicações ou uso concomitante de outros medicamentos (Silveira et al, 2008).

Alerta que se faz prioritário, é que medicamentos fitoterápicos ou drogas vegetais não são isentas de efeitos tóxicos e/ ou colaterais, como muitos se equivocam em acreditar, contrapondo - se ao consenso popular, que diz que “se é natural é bom; se não fizer bem, mal não fará” (Oliveira et al, 2007).

Tais pressuposições vêm validar estudos de drogas vegetais, fitoterápicos e fármacos sintéticos, de forma a identificar as possíveis interações e mecanismos de ação farmacológica destes medicamentos, de forma poder assegurar o seu uso racional. Na Tabela 1 é descrito uma revisão sistemática sobre efeitos farmacológicos, constituintes químicos, efeitos adversos e potencial interação de plantas medicinais utilizadas como anti-hipertensivas.

Conclusão

A Fitoterapia, como instrumento terapêutico, dispõe de medicamentos e drogas vegetais tão eficazes e seguras quanto os medicamentos sintéticos. No entanto, o uso de fitoterápicos como coadjuvante no tratamento da Hipertensão requer estudos farmacológicos preliminares do quadro clinico de cada paciente, por profissional habilitado, bem como orientações de uso racional e possíveis interações.

Referências

4- MINISTÉRIO DA SAUDE. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. MS/ANVISA. Resolução RDC 10, de 9 de março de 2010. DOU. 2010.

5- ALEXANDRE, R.F. et al. Interações entre fármacos e medicamentos fitoterápicos à base de ginkgo ou ginseng. Revista Brasileira de Farmacognosia. v. 18, 1:117-136. 2008.

6- ARA TACHJIAN, M.D.; VIQAR MARIA, M.B.B.S.; ARSHAD JAHANGIR, M.D. Use of Herbal Products and Potential Interactions in Patients With Cardiovascular Diseases. Journal of American College of Cardiology. v. 55; 6. 2010.

7- BARBOSA-FILHO, J.M. et al. Natural products inhibitors of the angiotensin converting enzyme (ACE). A review between 1980-2000. Revista Brasileira de Farmacognosia. v. 16; 3:.421-446. 2006.

8- CORDEIRO, C.H.G.; CHUNG, M.C., SACRAMENTO, L.V.S. do. Interações medicamentosas de fitoterápicos e fármacos: Hypericum perforatum e Piper methysticum. Revista Brasileira de Farmacognosia. v.15; 3:272-278, 2005.

9- COSTA, A. F. E. et al. Plantas medicinais utilizadas por pacientes atendidos nos ambulatórios do Hospital Universitário Walter Cantidio da Universidade Federal do Ceará. Pesq. Med. Fortaleza. v. 1;2:20-25. 1998.

10- COSTA, M.C.C.D. Uso popular e ações farmacológicas de Plectranthus barbatus Andr. (Lamiaceae): revisão dos trabalhos publicados de 1970 a 2003. Rev Bras Pl Med. v. 8;2:81-88. 2006.

11- CUNHA, A.P.; SILVA, A; SILVA E ROQUE, O.R. Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2003. 701p.

12- GARCIA GOMEZ, L. J; SANCHEZ-MUNIZ, F. J. Revisión: Efectos cardiovasculares del ajo (Allium sativum). ALAN, v.50, 3 :219-229. 2000.

13- JUNIOR, D. M.; PIERIN, A. M. G.; GUIMARÃES, A. Tratamento da hipertensão arterial Respostas de médicos brasileiros a um inquérito. Rev. Ass. Med. Brasil. v. 43;3:249-254.  2001.

14- Kapel et al. Production, in continuous enzymatic membrane reactor, of an anti-hypertensive hydrolysate from an industrial alfalfa white protein concentrate exhibiting ACE inhibitory and opioid activities. Food Chemistry. v 98;1:120-126. 2006.

15- MARTÍN, L.S.M.M. et al. Actividad diurética y antipirética de un extracto fluido de Rosmarinus officinalis L. em ratas. Rev Cubana Plant Med. v. 09, 1.2004.

16- NICOLETTI, M.A.; et al. Uso popular de medicamentos contendo drogas de origem vegetal e/ou plantas medicinais: principais interações decorrentes. Revista saúde (UnG. Online), v. 4:26-39. 2010.

17- NOLDIN, V. F.; FILHO, V.C. Composição química e atividades biológicas de Cynara scolymus L. (Alcachofra) cultivadas no Brasil. Quim. Nova. v. 26;3:331-334. 2008.

18- OLIVEIRA, C. J. de; ARAÚJO, T. L. de. Plantas medicinais: usos e crenças de idosos portadores de hipertensão arterial. Revista Eletrônica de Enfermagem. v.9;1:93-105. 2007. Disponível em: www.fen.ufg.br/revista/v9/n1/v9n1a07.htm. Acesso em dezembro 2010.

19- PDR. Phisicians Desk Reference for Herbal Medicines. 2a ed. 2000.

20- PÉRES, D. S.; MAGNA, J. M.; VIANA, L. A. Portador de hipertensão arterial: atitudes, crenças, percepções, pensamentos e práticas. Revista Saúde Pública. v. 37;5:635-642. 2003.

21- PORTE, A.; GODOY, R.L.O. Alecrim (Rosmarinus officinalis): propriedades antimicrobiana e química do óleo essencial. B.CEPPA. v. 19; 2:193-210. 2001.

22- RIBEIRO, A. B. Hipertensão arterial. Medicina Atual. Disponível em: www.scribd.com/doc/23732524/HAS-Hipertensao-arterial-sistemica. Acesso em maio de 2010.

23- RITTER, M. R. et al. Plantas usadas como medicinais no município de Ipê, RS, Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia. v. 12;2:51-62.2002.

24- SECOLI, S.R. Interações medicamentosas: fundamentos para a prática clínica da enfermagem. Rev Esc Enf USP. v. 35; 1;28-34. 2001.

25- SILVEIRA, P. F da; BANDEIRA, M. A. M; ARRAIS, P. S. D. Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade. Revista Brasileira de Farmacognosia. v. 18;4:618-626. 2008.

26- SINGI, G. et al. Efeitos agudos das frações hexânicas de Alho (Allium sativum L.), de Capim-Limão (Cymbopogom citratus (DC) Stapf] e de suas associações sobre a pressão arterial de ratos anestesiados. Acta Farm. Bonaerense. v. 25;1:108-111. 2006.

27- SBC. SOCIEDADE BR A SILEIR A DE CARDIOLOGIA /SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO/ SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq. Bras Cardiol. v.95:1-51.2010.

28- VALE, N.B. Interações medicamentosas na anestesia venosa. Revista Brasileira de Anestesiologia. v. 47;5:465-476. 1997.

A tabela com os efeitos farmacológicos e reações adversas de plantas medicinais utilizadas como anti-hipertensivas deve ser lida no link do artigo: http://www.ufop.br/downloads/farmacia_revista24_artigo_tecnico.pdf

Sobre alcachofra retirado do mesmo artigo no http://quintaisimortais.blogspot.com.br/2012/06/artigo-sobre-plantas-medicinais-e.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário