segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Como será o futuro das cidades em um Planeta mais aquecido? artigo de Eloy F. Casagrande Jr.


Estrago no Centro Cívico de Curitiba – foto Josianne Ritz

[EcoDebate] Os estragos causados pela forte chuva de granizo e ventos com mais de 60 km/h que causou caos em Curitiba no dia 03 de outubro de 2103, foi uma amostra do poderemos enfrentar daqui para frente, tendo em vista que o mês de setembro foi marcado por três diferentes relatórios sobre as emissões dos gases do efeito estufa, nos apresentando um quadro bastante preocupante. Apesar dos inúmeros encontros mundiais para discutir o aquecimento global, governos não conseguem adotar um modelo econômico de baixa emissão de carbono, sendo comprovado nos diferentes relatórios, o aumento das emissões a nível global e no Brasil. Assim, catástrofes climáticas passarão a ser rotineiras e teremos de estar mais bem preparados.

O documento mais importante dos três estudos realizados foi divulgado no dia 27 de setembro, em Estocolmo, na Suécia, pelos cientistas que compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmando que a temperatura do planeta pode subir 5 graus Celsius ainda neste século, o que poderá elevar o nível do dos oceanos em até 82 centímetros.

O quinto relatório de avaliação (AR5) se baseia na revisão de milhares de pesquisas realizadas nos últimos cinco anos sobre a mudança climática global, destacando com 90% de certeza, que mais de 20% do CO2 emitido permanecerá na atmosfera por mais de mil anos após as emissões cessarem. Isto não significa o fim do mundo, mas a necessidade de começarmos a planejar cidades mais ecointeligentes e a ter planos de emergência mais eficientes para minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Sofreremos mais com calores intensos, chuvas fortes e inundações em maior escala, aumento de tornados e furacões mais agressivos, sem contar com problemas na produção agrícola, acidificação dos oceanos e fornecimento de energia, principalmente, para quem depende das hidrelétricas, entre outros.

O fracasso de se implantar o Protocolo de Quioto, que buscava uma acordo entre as nações para a redução das emissões, associado as crises econômicas, inicialmente nos Estados Unidos e depois na Europa, não nos dá muita esperança de que algo efetivo vá acontecer neste plano nos próximos anos.

Um segundo estudo foi publicado no Global 500 Climate Change Report 2013, de autoria de uma organização não governamental, conhecida como CDP (Carbon Disclosure Project), relatando que entre as 500 maiores empresa globais, apenas 50 empresas são responsáveis por 73% dos 3,6 mil milhões de toneladas de gases do efeito estufa.

Empresas como a Wal Mart, o Bank of America, a Bayer, a Samsung, a Volkswagen, a AT&T, a Basf, Dow Chemical, Exxon Mobil, FedEx, Shell, entre outras marcas bem conhecidas do público aparecem no relatório. Do Brasil, a Petrobrás e a Vale do Rio Doce são as representantes da turma da ganância e da fumaça! As empresas de energia representam a grande maioria destes 10% das grandes poluidoras e pouco fazem para mudar seu padrão. Investimentos em projeto de energias renováveis são pífios se comparados com o dinheiro gasto na contínua exploração dos combustíveis fósseis, basta ver o Pré-Sal no Brasil. Alguém sabe dizer o que aconteceu com o pró-alcool e os programa dos biocombustíveis? Ou onde estão as facilidades para se implantar energia solar e/ou eólica? Tudo fora das prioridades!

O terceiro relatório é do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), alerta para o fato de que mesmo com o recente decréscimo no desmatamento ilegal em 2012, caso não houver novas políticas e medidas de mitigação, a tendência é que as emissões brasileiras voltem a aumentar após 2020, podendo chegar a 2,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, por ano, em 2030. Não é somente com as emissões do desmatamento que especialistas estão preocupados, mas com o aumento de consumo de todas as classes sociais do país, projetando o Brasil como o quinto maior mercado consumidor do mundo em 2030. Isto significa mais demanda de energia, de construções (normalmente insustentáveis com alta pegada de carbono associada aos materiais), mais automóveis ainda com motores a combustão, mais viagens aéreas, mais produtos eletro-eletrônicos e eletrodomésticos de baixa eficiência energética, etc.

Se o leitor visitar os sítios da internet das administrações públicas e das empresas, provavelmente irá encontrar um logo discurso sobre responsabilidade socioambiental e seus compromissos com as metas do milênio em relação a sustentabilidade, além de uma longa lista de prêmios recebidos por iniciativas do gênero. Bem, já se dizia por aí: repita mil vezes uma mentira que ela se tornará verdade. Eles contam com isto!

Prof. Dr. Eloy F. Casagrande Jr.
Coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

EcoDebate, 07/10/2013

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