quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Fatores que afetam os teores de princípios ativos - VI

Cultura de tecido - I

Texto:
Farmacêutica Erica Carvalho Lamari
Engenheiro agrônomo Marcos Roberto Furlan

Ainda são poucas as pesquisas sobre a influência da cultura de tecido (ou micropropagação), com relação à produção de princípios ativos nas plantas medicinais. Dependendo da espécie, diferentes resultados são obtidos. 

Na cultura de tecido, as células ou os tecidos vegetais se desenvolvem em ambiente com condições controladas. Nesse local, essas partes se multiplicam e crescem de forma não organizada ou se transformam em uma nova planta (figura 1). 

É comum o uso da expressão "in vitro" - crescimento fora do corpo" - como sinônimo de cultura de tecidos. Os explants ("estacas em miniaturas") são obtidos de novas brotações ou de novas inflorescências, e as plântulas geradas são removidas do frasco para serem cultivadas, por exemplo, no campo ou nas sementeiras.

Para espécies medicinais com dificuldades de serem propagadas de forma agâmica (assexuada), a cultura de tecido é uma solução eficaz. No entanto, é importante verificar as alterações que ocorrem quanto à composição química, principalmente com relação aos princípios ativos responsáveis pela ação farmacológica.

Nesta série de textos, serão fornecidos aspectos teóricos e exemplos de pesquisas relacionadas ao tema.
Figura 1. Caminhos seguidos para a multiplicação e regeneração de plantas a partir de cultura de tecidos.Fonte: Abbott (1977), citado por Pasqual (1985).

Referências

PASQUAL, M. Regeneração de plantas "in vitro" e radiosensitividade de tecidos nucelares de euros. Piracicaba, 1985. 107p. Tese (Doutorado em Agronomia) - ESALQ-USP, 1985.


Destaques do artigo: Produção de metabólitos secundários em cultura de células e tecidos de plantas: o exemplo dos gêneros Tabernaemontana e Aspidosperma
Autores: FUMAGALI, Elisângela; GONÇALVES, Regina Aparecida Correia; MACHADO, Maria de Fátima Pires Silva, VIDOTI; Gentil José; OLIVEIRA, Arildo José Braz de. 

Rev. bras. farmacogn. vol.18 no.4 João Pessoa Oct./Dec. 2008

Resumo

Os estudos dos metabólitos secundários de plantas se desenvolveram aceleradamente nos últimos 50 anos. Estes compostos são conhecidos por desempenharem um papel importante na adaptação das plantas aos seus ambientes e também representam uma fonte importante de substâncias farmacologicamente ativas. As técnicas de cultura de células de plantas iniciaram-se na década de 1960 como uma possível ferramenta para estudar e produzir os metabólitos secundários de plantas. O uso de cultura de células de planta para a produção de substâncias de interesse contribuiu grandemente para avanços em diversas áreas da fisiologia e bioquímica vegetal. Diferentes estratégias, usando sistemas de cultura in vitro, foram estudadas com o objetivo de aumentar a produção de metabólitos secundários. As plantas dos gêneros Aspidosperma e Tabernaemontana são importantes fontes de alcaloides indólicos biologicamente ativos, sendo que no Brasil existe um número considerável de espécies destes gêneros. As culturas de células de Aspidosperma e Tabernaemontana foram iniciadas há pelo menos 16 anos, as quais produzem um grande número de alcaloides, o que estimulou o desenvolvimento de diversas técnicas para sua produção, extração e identificação.

Esquema de produção via "cultura de tecido"
Conclusões

O uso de cultura de células de planta para a produção de substâncias químicas e medicamentos contribuiu grandemente para avanços em diversas áreas da fisiologia e bioquímica vegetal. O uso de ferramentas genéticas e o grande conhecimento atual sobre a regulação das vias do metabolismo secundário poderão fornecer a base para a produção destes metabólitos em níveis aceitáveis comercialmente. 

Estas evidências somadas a grande demanda atual no uso de produtos naturais com propósitos medicinais somados com as pequenas quantidades normalmente existentes nas plantas e as preocupantes implicações ambientais geradas pela coleta predatória e indiscriminada das plantas em seu ambiente natural, renovam o interesse pela utilização das tecnologias de cultura de células de plantas.

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