sábado, 2 de novembro de 2013

Pequi também é remédio

MARIA VITÓRIA Da equipe do Correio 

O agrônomo Ednaldo Carvalho, 62 anos, está preocupado. O estoque de cápsulas que ele toma diariamente desde agosto chegando ao fim. “O remédio controla os meus batimentos cardíacos e evita a ação dos radicais livres. Estou mais disposto”, anima-se o maratonista. Ele consome todos os dias uma cápsula de pequi.

Além de uma iguaria típica de Goiás e Minas Gerais, odiada por uns, amada por outros, o pequi é remédio, como constataram pesquisadores do Laboratório de Genética do Instituto de Ciências Biológicas da UnB. O estudo concluiu que o fruto pode ser indicado como eficiente redutor da ação dos radicais livres — moléculas que se formam no organismo humano e reagem de forma danosa às células sadia. “O óleo extraído da polpa é rico em ômega 9 e tem o mesmo efeito do azeite extravirgem: controla os índices de colesterol no sangue”, explica César Koppe Grisólia, responsável pela pesquisa. No próximo dia 28, a bióloga Ana Luiza Miranda Vilela vai defender uma tese de doutorado com base nos estudos.

A investigação tem aval clínico, com pesquisa em humanos, e o uso do pequi como medicamento foi patenteado pela UnB, que agora procura parceiros para cuidar da comercialização do produto. A parte final da avaliação, com voluntários, teve início em agosto, com a participação de maratonistas do Distrito Federal. Entre eles, estava Ednaldo, líder do grupo de corrida Quero-Quero. “Sou uma prova da eficácia terapêutica do pequi. Com 62 anos, participei, em dezembro, da Maratona de Honolulu, no Havaí”, conta. Os 125 atletas selecionados fizeram coleta de sangue e durante 15 dias consumiram a cápsula. Depois, nova coleta. “Os testes laboratoriais comprovaram a redução de radicais livres e das taxas de colesterol. Está provado: o pequi é rico em antioxidantes, como carotenoides, vitamina C e compostos fenólicos (flavonoides e taninos)”, atesta Grisólia.

Para o professor, o resultado da pesquisa chama a atenção para a necessidade de preservação do cerrado. “A madeira do pequizeiro é usada para fazer carvão e nossa pesquisa mostra que essa planta tem mais valor em pé do que dentro de um saco de carvão”, diz o biólogo. Para Grisólia, assim como o pequizeiro, deve haver muitas outras espécies que ainda não foram devidamente estudadas.

O maratonista e agrônomo Ednaldo já tem certeza do efeito terapêutico do pequi. E pretende continuar usufruindo deste benefício. “Quando as cápsulas acabarem, vou comprar óleo de pequi”, diz, esperançoso de que alguma farmácia de manipulação ou laboratório se interesse em investir nas cápsulas. 

Link:
Flor de pequi

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