quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Resenha do texto Patrimônio e Globalização: o caso das culturas alimentares

Autora da resenha:
Camilla Bassanello Chagas, acadêmica de Nutrição da Universidade de Taubaté

Resenha do texto 7, Patrimônio e Globalização: o caso das culturas alimentares, p. 129. Autor: Jesús Contreras Hernández

Canesqui, Ana Maria. Garcia, Rosa Wanda Diez. Antropologia e NutriçãoUm diálogo possível. 20 ed. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 2005.



Patrimônio e Globalização: O caso das culturas alimentares

Globalização é um termo novo, apesar de ser um sistema antigo com manifestações do presente e de particularidades do passado como a “tradição” e o “patrimônio”, com inúmeros significados, sendo o mais comum, o processo transformação social progressiva e multidimensional na economia, no turismo, na cultura, na ecologia etc..

Patrimônio se relaciona com o que o passado quer conservar ou que o presente quer construir, não só esteticamente por artefatos e por edifícios, mas permitindo, em ambos os tempos, interpretar a história, dando sentido a vida em sociedade, possibilitando que esse coletivo cultural, econômico ou político, permaneça “vivo”.

A globalização fez com que nossa sociedade se tornasse cada vez mais industrializada e consumista, trazendo como consequência a falta de tempo, mais laica, e concentrada em centros urbanos. Fazendo com que coisas tradicionais como, por exemplo, feriados religiosos e dias festivos, além de sistemas simples como os mercados e as colheitas agrícolas que tinham épocas a serem plantadas e colhidas, se desnaturalizassem e se adequassem à vida do ser humano, coincidindo dias festivos com finais de semana e férias, concentrando comércios diferentes em um único lugar como os hipermercados, sem demonstrarem características próprias.

Ate a alimentação comum se adequou ao novo ritmo de vida mundial, passando de diversificado para "hiper-especializado", havendo a necessidade do aumento da demanda na produção, tornando a agricultura industrializada mais eficiente e quantitativa, mas deficiente em qualidade, fazendo com que muitas espécies de plantas e animais desaparecessem da alimentação e da cozinha familiar. 

A conseqüência dessa disponibilidade alimentar foi a mundialização de trocas culturais de hábitos alimentares, não só em países desenvolvidos mas também em países subdesenvolvidos, tornando-se homogeneizados, repercutindo na desritualização das refeições domésticas e reduzindo influências religiosas e morais.

Nos países mais industrializados, a alimentação atualmente está mais baseada nas estratégias de marketing do que nas práticas tradicionais. As grandes empresas agroalimentares controlam a produção e a distribuição, apesar de mais pessoas rejeitarem a “indústria alimentar”. Este processo também pode representar uma alteração significante nos gastos orçamentários familiares, nos países industrializados e do terceiro mundo, fazendo que grandes empresas invistam em maior variedade de produtos, pensando em produtos com alterações de sabores, cores, tamanhos e até resistentes a ação do tempo. Os chamados alimentos transgênicos ou OGM’s (organismos geneticamente modificados), fornecem substâncias, cujo consumo prolongado trazem consequências ainda desconhecidas, para suprir a demanda de crescimento social e de consumo. Esses novos valores podem trazer a má nutrição, dentre outros problemas de saúde.

O conteúdo de nossa alimentação modificou-se muito, nos últimos anos, e as indústrias criaram alimentos “dual”, tendo seu lado artificial. Tentando conservar a parte “natural”, para que se tenha menos resistências dos consumidores aos produtos industrializados. Depois que alguns chegaram a afirmar que animais e vegetais são “mutantes”, em relação aos seus antepassados de 30 a 40 anos atrás. Manifestação da chamada ‘modernidade alimentar’, preocupando-se cada vez mais com lucros, superespecialização, e crescimento das cidades, pois a tecnologia favorece mais ao produtor, ao vendedor e ao transportador, que ao consumidor, modificando a relação do homem com sua alimentação, diante da ‘cozinha industrial’, muito destacado pelos meios de comunicação como alimentos cheios de risco.

A artificialidade do alimento forca a modificação do perfil do comensal, assim como a ruptura com as tradições ancestrais sobre como se alimentar adequadamente. Mas também fez com que alguns indivíduos se tornassem mais desconfiados com tanta oferta alimentar, ligado ao seu instinto de sobrevivência. As intoxicações alimentares transformaram-se em internacionais, junto com alergias e intolerâncias alimentares. 

A industrialização e a globalização provocaram a perda da identidade alimentar, mas alguns consumidores ainda precisam dela. Trata-se de assegurar a origem ou a identidade dos alimentos.

Alguns gastrônomos já se queixam disso. Contudo, com essa perda de identidade, resgatam-se as variedades locais e regionais e os alimentos frescos, incentivando a concorrência dos mercados em pequena escala com os de maior escala, destacando-se pelo sabor e pelas qualidades artesanais. Atributos que as grandes industrializadoras pretendem explorar por meio de selos em seus produtos, aproveitando a frustração do consumidor com suas mercadorias, ditas “sem graça”, sem sabor e sem nostalgia, caracterizada pela valorização do aspecto *hedonista da comida, do produto e matéria-prima. 

*Hedonista: partidário de hedonismo; Doutrina que considera que o prazer individual e imediato e o único bem possível, principio e fim da vida moral.

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