quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Andiroba - Uma Árvore Ecologicamente Rentável

por Priscila Geha Steffen e Michele Montanha

Redação EcoTerra Brasil

"Proteger a natureza e garantir geração de emprego e renda de forma sustentável são ações possíveis na região amazônica. A extração da andiroba é uma prática que mostra resultados"

A árvore de andiroba, conhecida como rainha da floresta, é encontrada em áreas desde o Paraguai até a América Central. Na região amazônica está principalmente em áreas úmidas, como a seringueira. É uma árvore de grande porte que pode chegar a 30 metros de altura. Nos estados do Pará, Acre e Amazonas, as sementes de andiroba são um grande atrativo, pois delas é extraído um óleo considerado medicinal e que pode ser empregado de forma diversificada. O óleo de andiroba é indicado como anti-inflamatório para dores musculares e micoses nas áreas externas do corpo. Também combate a diabetes e o reumatismo através da homeopatia. O bálsamo é usado para a fabricação de sabonetes medicinais e para uso tópico em luxações. O óleo da semente também serve como protetor solar. Em determinados períodos do dia na região, principalmente no fim da tarde e à noite, é grande a incidência de mosquitos, por isso, muitos índios da Amazônia misturam a andiroba ao urucum, o que se torna um eficaz repelente de insetos. No mercado também existe a vela de andiroba com ação repelente, que é comercializada por algumas empresas, e substitui produtos à base de citronela, uma planta aromática.

Toda essa diversidade atrai a atenção de pesquisadores e comunidades da região amazônica para a extração consciente dessa matéria-prima valiosa. Alguns projetos já estão sendo desenvolvidos para que os moradores entendam todas as etapas e formas da utilização, tanto da semente quanto da árvore, de forma sustentável.

Segundo Sebastião Pinto de Souza, conhecido como Bastos, presidente administrativo dos projetos da andiroba em comunidades do município de Caruari, no Amazonas, as sementes são retiradas das árvores sem que elas sejam derrubadas. Para a extração do óleo, a semente tem que ser espremida. É importante que algumas sementes fiquem no chão para ocorrer o processo de germinação. A andiroba floresce apenas uma vez por ano, entre os meses de agosto e outubro. Sua madeira é muito semelhante ao mogno só que mais densa, o que a torna um atrativo para os madeireiros e a faz ser muito procurada para exportação. “Existe uma diferença quando se procura valorizar o fruto e não a árvore, embora se admita o abate quando ela já não tem mais utilidade para a regeneração da espécie”, diz Bastos.

Andiroba e o terceiro setor

O terceiro setor – organizações sem fins lucrativos e não governamentais – é um segmento crescente que já conta com cerca de 220 mil instituições sem fins lucrativos e 10 milhões de voluntários que atendem diretamente mais de 40 milhões de pessoas, segundo estudo feito pelo Instituto Superior de Estudos da Religião – RJ (ISER).

Projetos e pesquisas como os desenvolvidos nas comunidades que cultivam a andiroba estimulam a formação de um mercado forte no terceiro setor, com muitas possibilidades para moradores da região amazônica, para pesquisadores e também para os empresários que tenham consciência ecológica.

A comunidade do Roque, que fica no município de Caruari, às margens do rio Juruá, viveu a decadência econômica e social com o declínio da cultura da borracha. No entanto, esta e outras comunidades do local se beneficiam hoje com a extração e o cultivo da andiroba. Com pouco mais de 350 habitantes, ela se organizou em cooperativa e hoje trabalha diariamente na extração da casca da andiroba. É um processo em grande desenvolvimento, que conquistou o mercado de estados como São Paulo e despertou o interesse de outras comunidades que usavam as sementes oleaginosas apenas para uso doméstico.
 
Segundo dados do engenheiro elétrico José de Castro, professor da Universidade do Amazonas e autor do projeto de aproveitamento de oleaginosas na região, a comunidade do Roque tem encomenda garantida para o ano todo. Castro desenvolve o projeto de aproveitamento para a geração de energia nas comunidades há seis anos e tem o apoio financeiro da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Ele observa a otimização da produção. “Passamos de uma capacidade de produção do óleo de andiroba de 20 quilos por dia para cerca de 800 quilos por dia. Entendemos que a assistência aos moradores deve continuar porque novas espécies estão na lista de possíveis aproveitamentos adicionais, como é o caso da ucuúba ou virola, fonte natural de sabão, do uricuri e do cacau nativo”. Castro diz ainda que em 2004 a comunidade comercializou 36 toneladas de óleo vegetal de andiroba e murumuru para a fabricação de remédios e produtos de beleza. Foram investidos cerca de R$ 300 mil nas comunidades.

A importância de um projeto como este é a possibilidade de geração de renda local por meio de uma alternativa para a atividade de cultivo que usa o solo em substituição à floresta em pé. Esse dinheiro é pago pelas sementes coletadas e pelos serviços prestados ao processo produtivo de óleo. Segundo José de Castro, a própria cooperativa local é responsável pela gestão dos recursos obtidos da venda dos óleos.

Projetos e pesquisas como os desenvolvidos nas comunidades que cultivam a andiroba estimulam a formação de um mercado forte no terceiro setor, com muitas possibilidades para moradores da região amazônica, para pesquisadores e também para os empresários que tenham consciência ecológica.

Mercado consciente

A extração do óleo de andiroba estimula a consciência das empresas, que se preocupam cada vez mais com a conservação do meio ambiente ao utilizar recursos naturais. O caso mais recente do uso comercial do óleo é o da empresa Natu-Science, pioneira mundial no uso sustentável de produtos provenientes da andiroba.

A ideia começou a partir da vela feita com a semente da fruta da andiroba, desenvolvida pelo Instituto Far-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que licenciou a fabricação do produto para a NatuScience, em 1998. Os estudos comprovam que a vela, principal produto comercial da matéria-prima, é um repelente com 100% de eficácia no combate aos mosquitos da dengue e da febre amarela, além de inibir a ação do mosquito da malária. Outro diferencial é que a vela de andiroba é atóxica, não contém perfume e não produz fumaça. A empresa trabalha em parceria com as comunidades amazônicas, que vendem a andiroba, e depois passam por um controle de qualidade feito em parcerias com universidades públicas. Para Regina de Castro, Diretora de Marketing da empresa, é importante fazer esse trabalho em conjunto e de forma consciente: “A parceria com as comunidades é capaz de promover o uso racional dos recursos naturais e da biodiversidade sem esgotá-los, além de dar tempo para que o consumidor amadureça a experiência de um consumo sustentável”. A NatuScience ampliou o uso do óleo de andiroba para a fabricação de sabonetes, óleos terapêuticos e uma tocha sólida iluminadora e repelente para áreas externas.

As comunidades se tornam independentes e aprendem a cuidar e explorar a riqueza do meio ambiente no local. Esses são ótimos exemplos de que é possível aproveitar os recursos naturais sem degradar o ambiente. 

O despertar da sociedade para o consumo consciente é fator essencial para avançar projetos como o do engenheiro Bastos, do professor e engenheiro José de Castro e da empresa NatuScience. As comunidades se tornam independentes e aprendem a cuidar e explorar a riqueza do meio ambiente no local. Esses são ótimos exemplos de que é possível aproveitar os recursos naturais sem degradar o ambiente. A rede que se forma com o trabalho do terceiro setor multiplica a ação nos outros setores e o meio ambiente passa a ser corretamente explorado. “O aproveitamento de recursos naturais da Amazônia de modo sustentável passa, necessariamente, pela capacitação de profissionais em diversas áreas do conhecimento científico, pela capacitação da mão-de-obra nas comunidades e pela interiorização das tecnologias robustas e de fácil operação. Isso tudo é capaz de agregar valor aos recursos florestais locais e instalar uma política sustentada da valorização desses recursos”, afirma José de Castro.

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