quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O Bacuri do Faz-ânsia, crônica de Mayron Régis

Bacuri, Platonia insignis. Foto de Hellen Perrone / Wikipédia

[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] Alguns caminhos ficam para trás e sem ter e nem pra quê eles voltam a ser frequentados. O caminho do Brejão ficava atrás do que hoje é a propriedade do Vicente de Paula na Chapada do povoado Carrancas, município de Buriti, Baixo Parnaiba maranhense. A sua avô andava por esse caminho sempre que ia a casa de sua irmã. Os vaqueiros usavam o Caminho do Brejão para levar o gado até o Tabuleiro, também município de Buriti. O Vicente conta isso com uma ponta de orgulho.

Os proprietários de terra ou somente seus vaqueiros se juntavam em uma comitiva e saiam pela Chapada como num cortejo. A família dos Madalena, proprietária de terras nas Laranjeiras, carreou muito gado por veredas nas Chapadas de Buriti; o seu Antonio Madalena que hora e outra descarreira funcionários de empresas de soja e de eucalipto que indagam sobre os limites da sua terra que pega parte das Laranjeiras e parte das Carrancas. Uma vez, o seu Antonio Madalena palestrou tanto sobre o dia em que fora preso a mando dos sojicultores que o Vicente de Paula não via a hora de ir embora. Ele não para quieto em suas propriedades. O Vicente tê-lo encontrado foi um achado.

Hoje em dia, dificilmente, acertar-se-ia o Caminho do Brejão. Tampouco o Caminho da Gameleira e o Caminho do Vaqueiro. As fazendas de soja e de eucalipto substituíram os caminhos do gado pelos seus próprios caminhos, sem nomeá-los, é claro. O Caminho do Vaqueiro nunca existiria se dependesse da soja. A história do Caminho do Vaqueiro decorre da abundância de frutas na Chapada. Os vaqueiros escolhiam caminhos que se encostavam a áreas ricas em Bacuri e cortavam apenas o essencial para que um grupo de pessoas e de animais não se ferisse em alguma árvore.

As Chapadas, em muitos casos, comportavam mata fechada e onde os bacurizeiros se sobressaiam em numero e em altura, essa mata se fechava mais ainda. Os vaqueiros percorriam essas Chapadas com olhos no chão para que nenhum bacuri escapasse. Um dos bacuris mais famosos dessa época era o faz ânsia. Deram esse nome a ele porque um vaqueiro comeu tanto bacuri que deu ânsia de vomitar e morreu em plena Chapada.

* Mayron Régis, Colaborador do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

** Crônica enviada pelo Autor e originalmente publicada no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.
EcoDebate, 30/01/2014

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