sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Bacuri magu, crônica de Mayron Régis


Bacuri, Platonia insignis. Foto de Hellen Perrone / Wikipédia

[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] O assentamento recebeu o nome de Bacuri/Magu. A maior parte das pessoas se surpreendeu com a sua criação. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva assinou o decreto de desapropriação em 2010. Neste ano, além da fazenda Bacuri/Magu, localizada nos municípios de São Bernardo e Araioses, desapropriou-se a fazenda Veredão, em Chapadinha.

As duas desapropriações quase não arranharam o quadro de paralisia geral que se instalara nas ações do governo federal referentes a reforma agrária no Cerrado leste maranhense. Os pedidos de vistoria excediam a capacidade técnica-administrativa do Incra no Maranhão. A inexistência de e a pouca eficiência das políticas publicas caracterizavam a relação entre o Estado e a sociedade na região do Baixo Parnaíba maranhense. O Estado abandonou a região a sua própria sorte. Nada a estranhar. O Estado nunca entendeu o Baixo Parnaíba maranhense, assim como nunca entendeu outras regiões pobres do Maranhão e do Brasil.

O desentendimento começa ao se interpretar o Baixo Parnaíba como uma região só e como uma região desprovida de vida produtiva em seu interior. A vida produtiva de parte do interior do Brasil desinteressa ao Estado brasileiro e a interpretação do Estado quanto a esse mesmo interior se limita ao que as oligarquias regionais lhe repassam de informação.

O Cerrado não serve para promover a reforma agrária. Disseminou-se essa afirmação por muito tempo. Domingos, ex-presidente da associação do povoado São Raimundo, município de Urbano Santos, no ano de 2005, contestou o laudo do Incra em audiência publica, realizada no município de Brejo, em que estava presente o então superintendente Raimundo Monteiro. Ele desafiou o superintendente do Incra a explicar-se quanto aos motivos que levaram o Incra a considerar a fazenda São Raimundo inapropriada para a reforma agrária. Segundo Domingos, 50 famílias viviam dos recursos naturais e da agricultura numa área de 1600 hectares, um dado que se confrontava com as conclusões do laudo agronômico do Incra.

O Incra obedece a critérios que parecem inexpugnáveis para os agricultores familiares e esses critérios favorecem o latifúndio. A comunidade de São Raimundo se rebelou contra as conclusões do Incra e o órgão refez o laudo o que possibilitou o avanço do processo de desapropriação. O processo de desapropriação da fazenda “Bacuri/Magu” foi menos traumático. Não houve contestações. A área era acompanhada pela Diocese de Brejo.

No caminho que se percorre, passa-se antes por Cana Brava para, logo em seguida, deparar-se com as Araras e com o Buriti Redondo, povoados que fazem parte do assentamento. O que os antigos proprietários projetavam para essa área de 3.600 hectares? Experimentou-se a soja na região e ela não tem dado muito retorno. Com o desacerto da soja, o eucalipto aparece como possibilidade econômica e social, na qual grupos políticos financiariam seus projetos particulares.

* Mayron Régis, Colaborador do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

** Crônica enviada pelo Autor e originalmente publicada no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.
EcoDebate, 14/02/2014
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