sábado, 22 de fevereiro de 2014

Brasília: Exposição no Museu Nacional fala sobre saúde no Brasil


A Arte da Saúde em exposição interativa no Museu Nacional

Publicado em fevereiro 14, 2014

Adriana Varejão, Bispo do Rosário, Jac Leirner e Cildo Meireles são apenas alguns dos nomes de destaque da mostra. Pinturas, esculturas, instalações, vídeos, performances e anúncios de medicamentos contam a história da saúde no Brasil. Interatividade é a marca da exposição que será inaugurada no dia 19 de fevereiro

Bê-á-bá, Bê-é-bé, Bê-i-Bi…otônico Fontoura! Quem não se lembra deste jingle do tônico que foi eternizado pelo personagem Jeca Tatuzinho, criado por Monteiro Lobato no início do século passado, para divulgar o produto que prometia combater sintomas como a falta de ânimo e o cansaço? Considerado o autor mais prestigiado da literatura infantil brasileira, o escritor foi apenas um dos artistas que, ao longo de sua trajetória, utilizou a arte para dar voz à saúde.

Na arte contemporânea, Adriana Varejão, Arthur Bispo do Rosário, Cildo Meireles, Jac Leirner, José Eduardo, Paulo Bruscky, Vicente de Mello, Cao Guimarães, Fabio Magalhães, Hugo Fortes e Sissi Fonseca, Gustavo Magalhães, José Paulo, Louise D.D., Milton Marques, Nazareth Pacheco, Raquel Nava e Rodrigo Braga são exemplos de nomes consagrados no mundo das artes plásticas que têm o tema saúde como poética de alguns de seus trabalhos.

A arte faz por si só essa aproximação, misturando cada vez mais questões artísticas, estéticas e conceituais aos meandros do cotidiano, em todas as instâncias: o corpo, a mente, a ética, o processo de cura, enfim a saúde humana. E é esta a proposta de À sua Saúde, exposição que irá exibir, de forma lúdica e interativa, a história da saúde no Brasil, país que ocupa o sexto lugar no ranking mundial de consumo de medicamentos e que, segundo dados da Anvisa, chegará à quarta posição em 2016.

Dividida em dois núcleos – Histórico e Contemporâneo – À sua Saúde irá apresentar ao visitante um universo em que os temas saúde e arte estão conectados e que, sobrepostos, espelham a complexa rede na qual se emaranha o mundo atual. Com curadoria de Daiana Castilho Dias e Polyanna Morgana, a exposição foi concebida com o objetivo de mostrar ao público brasileiro a importância de um tema que não trata apenas de saúde pública, mas ensina muito sobre o próprio ser humano. O Núcleo Histórico está dividido em três eixos temáticos: Cura Xamânica, Cura Tradicional e a Cura pela Fé.

Quem nunca experimentou um chá para aliviar um sintoma?
Quem nunca agradeceu aos céus por uma cura alcançada?
Quem não se preocupa em manter boa disposição física e mental?
Quem não gosta de ter uma boa farmácia perto de casa?
Quem não se importa com a alimentação?

Algumas dessas experiências cotidianas serão vivenciadas de modo lúdico e interativo na exposição. A começar pelo passeio pela primeira botica do Brasil, montada em tamanho natural, a partir de desenho histórico de Debret. Um dos pontos altos dessa instalação, que faz parte do módulo Cura Tradicional, é a área “Cheiros do Pará”, indispensáveis na indústria da cosmética brasileira, e que poderão ser experimentados pelos visitantes. A evolução dos medicamentos no país também será exibida.

Para expressar a força da Cura Xamânica, a história dos fitoterápicos em outra grande instalação interativa: sacos de chás de vários tamanhos estarão pendurados no teto e acessíveis a quem desejar saber mais sobre cada erva e suas propriedades. Na Cura pela Fé, a sala dos milagres, dos ex-votos, que surpreendem o público misturando ficção e realidade.

Ambientes criados para relatar a Revolta da Vacina, um dos mais pitorescos eventos da história do país, protagonizada pelo sanitarista Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, em 1904, e a quarentena imposta aos viajantes que chegavam ao país pelos portos de Salvador e Rio de Janeiro, promovem uma volta ao tempo. A instalação de um porto cenográfico, com o som do mar, os objetos de época e o registro de artistas que acompanhavam os viajantes, entre os quais Debret, Rugendas e mais recentemente Marc Ferrez, além de quatro animações, colocam o público no meio dos acontecimentos.

Vendendo saúde

Do início do século passado até hoje, o consumo de medicamentos no Brasil não para de crescer: em 2006, o país ocupava a 10ª posição no ranking mundial; hoje é o sexto. E projeções indicam que em 2016 ocupará o quarto lugar. Para disputar a preferência dos consumidores, a publicidade é uma forte aliada. E os anúncios que fizeram história no país poderão ser conferidos na mostra, assim como a evolução dos rótulos de alguns medicamentos, que mostram as tendências do design de cada época.

A saúde na arte contemporânea

O entendimento de saúde em um sentido mais amplo do termo, que integra a relação entre natureza e ser humano, está presente na poética de muitos artistas plásticos. A importância da saúde na vida da sociedade á apontada pela arte contemporânea como forma de reação às injustiças sociais e também como alerta para que todos pensem de que maneira podem contribuir para cuidar de si e do outro. Bispo do Rosário é um bom exemplo: criou um universo lúdico de bordados, assemblages, estandartes e objetos num dos mais obscuros períodos da psiquiatria, driblando os mecanismos de poder dos manicômios
da época, que praticavam tratamentos à base de eletrochoques e até lobotomias.

À sua Saúde apresentará 22 trabalhos do artista, dois dos quais inéditos.

Adriana Varejão, por outro lado, se apropria de ícones da civilização europeia e denuncia a violência da colonização: neste caso, subverte o mobiliário barroco e cria cadeiras feitas de carne seca, na obra “Elegia Mineira”. Fabio Magalhães usa imagens do próprio corpo como matéria-prima de suas pinturas; Paulo Bruscky e Jac Leirner utilizam imagens médicas para desenvolver obras cujo conceito está ancorado numa outra forma de compreensão do corpo.

Os trabalhos de Rodrigo Braga, que recuperam uma medicina quase ritualística (um retorno ao olhar místico de cura pela natureza), se encontram com o humor seco de Raquel Nava, cujas fotografias constroem situações inusitadas entre elementos da natureza e objetos de limpeza. A obra RIO OIR, de Cildo Meireles, tem como foco as fronteiras aquáticas. Tanto no jogo de palavras proposto pelo palíndromo que compõe o nome da obra, quanto no objeto de arte em si, há uma relação direta de mapeamento das fronteiras dos rios brasileiros com um interesse puramente poético, de criação de uma paisagem sonora, que amplia a do conceito de paisagem já iniciada nos trabalhos de Rodrigo Braga e Raquel Nava.

O Núcleo Contemporâneo da exposição contém obras dos seguintes artistas: Adriana Varejão, Arthur Bispo do Rosário, Cao Guimarães, Cildo Meireles, Fabio Magalhães, Gustavo Magalhães, Hugo Fortes e Sissi Fonseca, Jac Leirner, José Eduardo, José Paulo, Louise D.D., Milton Marques, Nazareth Pacheco, Paulo Bruscky, Raquel Nava, Rodrigo Braga e Vicente de Mello.

À Sua Saúde
De 19 de fevereiro a 30 de março
Museu Nacional do Conjunto Cultural da República | Brasília | DF
Visitação de terça a domingo, das 9h às 18h30

Entrada Franca

Publicado em fevereiro 13, 2014

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