terça-feira, 17 de junho de 2014

Conhecendo climas e relacionando com meio ambiente, artigo de Roberto Naime

El Niño

[EcoDebate] A maioria das classificações climáticas são empíricas, e classificam os grupos climáticos de acordo com seus efeitos sobre os elementos ou fenômenos dependentes do clima, principalmente a vegetação. A maioria dos climatólogos e dos botânicos concorda que a vegetação natural opera como um integrador das características do clima em uma região, sendo um adequado termômetro de referência para mensurar a temperatura média.

Inegavelmente isto é uma simplificação, mas o estudo do clima sempre teve por primeira motivação a flora, e atualmente alguns climas são referidos pela vegetação que os acompanha, como os bosques úmidos, a taiga e a tundra.

A principal classificação em uso é debitada a Wladimir Köppen, um botânico e climatólogo que tinha por objetivo definir formulações que pudessem atuar como fronteiras climáticas que correspondessem a determinadas formas de vegetação. Ele publicou sua primeira versão do esquema em 1900, e uma versão revisada em 1918, que continua norteando o trabalho dos climatólogos até hoje, ainda que com alguns aperfeiçoamentos (Köppen, 1948).

O clima do Brasil pode ser classificado como equatorial, tropical e subtropical, mas existem muitas diferenças regionais. A classificação climática mais utilizada é a de Köppen (que considera fatores como vegetação, relevo, regime pluvial e temperatura dentre outras, e representa com letras características os regimes (Köppen, 1948),

A classificação de Köppen está baseada na subdivisão dos climas terrestres em 5 tipos, definidos por temperaturas: A, B, C, D e E. Somente o tipo B está definido pelas precipitações pluviométricas, sendo usadas letras adicionais minúsculas para definir o subtipo:

Tipo A: os climas deste tipo são os mais quentes e são classificados com base nas estações de maior precipitação pluviométrica. Tipo Af quando não tem estação seca, Am, quando tem curta estação seca e Aw quando tem estação seca invernal;

Tipo B: designa um tipo de clima que depende mais da disponibilidade de recursos hídricos; os climas áridos não dependem apenas das precipitações, estabelecendo relações muito próprias entre as plantas e todo conjunto de fatores associados, principalmente a evaporação; ainda que seja difícil de avaliar a precipitação, é válido afirmar que a temperatura exerce controle sobre este fenômeno; a classificação determina 2 tipos de climas secos: BW para climas áridos e BS para semiáridos, utilizando as letras “h” para quentes e “k” para frios;

Os tipos C (temperados) e D (frios) são intermediários, e sempre são acompanhados pelas letras “f” quando não tem estação seca, “w” quando a estação seca é no inverno e “s” para verões secos; também é utilizada como símbolo uma letra adicional (a, b,c ou d) indicando o calor do verão ou o frio do inverno;

Os tipos E são os climas mais frios, convencionalmente separados em tundras (ET) e Inlandsis (EF)

As classificações climáticas, baseadas em aspectos da vegetação, são muito úteis e relevantes sobre a atividade humana, indicando potencial agrícola e condições ambientais.

O Brasil está situado em 2 áreas climáticas. Cerca de 92% do território está acima do Trópico de Capricórnio, constituindo-se, portanto em zona Tropical. Apenas a São Paulo e a região Sul do país se localizam na zona temperada.

A classificação climática de Köppen, aplicada às regiões brasileiras é a seguinte:

Am: zonas com temperaturas e pluviosidade elevadas, com médias de temperaturas superiores a 22ºC em todos os meses e as mínimas no mês mais frio maiores do que 20ºC;

Aw: regiões com temperaturas elevadas, com chuva no verão e seca no inverno, com as médias de temperatura superiores a 20ºC e no mês mais frio do ano, mínimas inferiores a 18ºC;

Aw’: zonas com temperaturas elevadas com chuva no verão e outono, com temperaturas sempre superiores a 20ºC;

Cwa: porções com temperaturas moderadas, com verão quente e chuvoso, sendo que no mês mais frio a média de temperatura é menor de 20ºC;

Cfa: zonas com temperaturas moderadas, com chuvas bem distribuídas e verão quente, sendo que nos meses de inverno ocorrem geadas, sendo a média de temperatura neste período inferior a 16ºC e no mês mais quente as temperaturas são maiores do que 30ºC;

Af: zonas com temperaturas elevadas, sem estação seca, com temperaturas sempre maiores do que 20ºC;

As: zonas com alta pluviosidade no inverno e outono, com temperaturas médias elevadas, sempre maiores do que 20ºC;

BSh: temperaturas elevadas com chuvas escassas no inverno, com temperaturas superiores a 22ºC;

Cwb: estação de verão branda e chuvosa, com temperatura moderada, geadas no inverno e as médias de temperatura no inverno e outono inferiores a 18ºC, com temperaturas mínimas inferiores a 12ºC;

Cfb: zonas com temperaturas moderadas com chuvas bem distribuídas e verão brando, podendo ocorrer geadas tanto no inverno como no outono, com as médias de temperatura inferiores a 20ºC, exceto no verão; no inverno as médias são inferiores a 14ºC, com mínimas inferiores a 8ºC.

Na questão climática, a discussão ambiental se amplia muito. Desde fenômenos históricos, até novas realidades com profundas mudanças climáticas e fenômenos meteorológicos diversos afetam as populações e interferem nos planejamentos.

A geada é uma ocorrência tradicional. Expressa o congelamento do orvalho na superfície, podendo atingir diferentes intensidades. Para ocorrer este congelamento, não é necessário que a temperatura do ar esteja menor do que 0ºC. Isto porque na superfície, a temperatura pode ser até 5ºC menor que no ar, dependendo da perda de radiação pela superfície. A temperatura na superfície é chamada de temperatura na relva. Desta forma com temperaturas de até 5ºC positiva, pode haver a ocorrência de geadas.

Quando se forma apenas uma camada de gelo na superfície, denomina-se geada branca. E quando a seiva das plantas se congela chama-se geada negra. Este último tipo é muito devastador para a agricultura, mas só ocorre em regiões muito frias, que no Brasil são restritas a algumas cidades serranas do sul.

As geadas negras podem se formar devido à ação dos ventos frios que ocorrem em horários do dia em que o ar está mais seco e não forma geada branca ao mesmo tempo.

As geadas atingem diferentes intensidades. São fracas quando a temperatura do ar está entre 3ºC e 5ºC positivos. Moderada quando as temperaturas do ar estão entre 1ºC e 3ºC. E geada forte quando a temperatura do ar está igual ou menor a 0ºC.

Já foram registradas geadas com temperaturas de até 6ºC positivos, pois a temperatura da relva ficou até 7ºC menor que o ar. Isto ocorre, porque dependendo das condições de umidade relativa do ar, a perda de temperatura na superfície é muito maior.

El Nino é o nome dado a um fenômeno que ocorre nas águas do Oceano Pacífico e que altera as condições do clima em diversas partes do planeta. Esta denominação foi criada por pescadores do Peru, em razão de que o litoral deste país é muito atingido pelo fenômeno que causa graves danos. O El Niño dura de 12 a 18 meses, com intervalos de 2 a 7 anos. Os efeitos são muito variados, produzindo secas em algumas regiões, temperaturas elevadas em outras, e enchentes em outras áreas.

Todas estas mudanças ocorrem devido ao aumento da temperatura na superfície do mar nas águas do Oceano Pacífico equatorial, principalmente na região oriental. Esta mudança gera diminuição da pressão atmosférica na região, diminuindo a temperatura do ar e aumentando a umidade. Esta alteração causa mudança de direção e velocidade dos ventos a nível global, fazendo com que as massas de ar mudem de comportamento em várias regiões da Terra.

KÖPPEN, W. Climatología con un studio de los climas de la tierra. México: FCE, 1948.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

EcoDebate, 17/06/2014

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