quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Uso de babosa em animais


Texto

Médica Veterinária Luciana Bruno
e-mail - lbrunovet@gmail.com 

Das numerosas espécies do gênero Aloe, a babosa, denominada cientificamente por Aloe barbadensis Miller (sinonímia Aloe vera) e pertencente à família Asphodelaceae, pode chegar a 60 cm de altura. Esta espécie e a Aloe arborescens são as mais comuns no Brasil.

É amplamente utilizada externamente como cosmético e como medicamento, devido aos seus efeitos emoliente, hidratante, hipoalergênico, colerético e laxante anti-inflamatório, assim como, efeitos antisséptico (bactericida, fungicida e virucida) e anti-inflamatório. Como tem efeito adstringente, é rapidamente absorvida pela pele. Consequentemente, promove a vasoconstricção dos vasos capilares da região afetada, facilitando o processo de cicatrização e, por isso, vem sendo muito utilizada no tratamento de queimaduras, de feridas comuns (como cortes ou lesões ulcerativas) e cirúrgicas não profundas, eczemas, dermatites, hematomas, piodermites, alergias, picadas de inseto, além de poder ser utilizada em alguns casos de dores articulares. Mas atenção, se deve ter muito cuidado ao extrair o gel ou o látex (substâncias que serão explicadas a seguir) da planta, para que se evite a contaminação por sujidades e por microrganismos devido ao manejo inadequado.

Há duas porções no interior das folhas da babosa. A mais interna formada pela substância transparente denominada de gel (mucilagem), a qual é um composto de tecido parenquimático rico em polissacarídeos e de consistência viscosa. Cientistas identificaram que na polpa crua da babosa contém aproximadamente 98,5% de água, enquanto que a mucilagem, ou o gel propriamente dito, consiste de cerca de 99,5% de água. O restante 0,5 - 1% de material sólido consiste de uma gama de compostos, incluindo solúveis em água e vitaminas lipossolúveis, minerais, enzimas solúveis em gordura, polissacáridos, compostos fenólicos e ácidos orgânicos. Dentre seus compostos, estão 18 dos mais importantes para o homem, mas um, em especial, o polissacarídeo de reserva, denominado acemanano (ou acemannan), considerado imunoestimulante muito eficaz, comprovadamente pela FDA (Food and Drug Administration, EUA). Este gel recobre a mucosa gástrica, protegendo-a e favorecendo a diminuição da acidez. Também são encontradas a glutamina, a glicina, a histidina, etc que são substâncias de efeitos anti-ulcerativo e anti-inflamatório da parede gástrica e intestinal. E, além do gel, mais externamente, está o látex (substância de coloração amarelada e sabor amargo) é utilizado como laxativo, pois possui propriedades carminativas devido à presença das antraquinonas (aloína, emodina (aloe-modina), barbaloína), além de magnésio que aumenta o peristaltismo.

Acredita-se que as atividades biológicas da babosa devem ser atribuídas a uma ação sinérgica dos compostos nela contidos, ao invés de uma substância química em específico.

Na veterinária, a maioria das indicações é para uso externo, pois o gel da Aloe vera forma uma película sobre a pele, sobre as feridas, e, devido à presença dos taninos que tem ação secativa, mantém as feridas ulceradas secas, prevenindo contra a contaminação secundária. Portanto, promove a redução do processo inflamatório, e, consequentemente, reduz a dor e devido a presença de algumas vitaminas que possuem efeito sobre a Angiogênese, promove o aumento de vasos capilares na região afetada, o que favorece uma excelente regeneração celular da epiderme.

Agora vem a pergunta, como extraímos o gel da planta sem que o misturemos ao látex?

· retirar somente 1-2 folhas da planta; 

· lave-as em água corrente para retirar todas as sujidades; 

· o corte deverá ser o mais próximo da base possível e a extremidade da ponta da folha deverá ser eliminada também; 

· corte a borda espinhosa de ambos os lados da folha; 

· separar a pele de uma das faces da folha, tomando o devido cuidado para descartar a parte amarelada, que é o látex, que se encontra rente a pele; e 

· repetir o mesmo procedimento com a outra face da folha. 

Deve-se lembrar de que, além de fazer a desinfecção da lamina da faca com solução de hipoclorito de sódio na concentração 5,0 - 10,0% (método para facas de frigorífico) ( p/v) (imergir a faca e aguardar no mínimo 15 minutos, logo após, enxaguar), este procedimento de extração do gel deverá ser feito sobre uma superfície devidamente higienizada para não contaminar o gel com outras substancias indesejadas. 


Sempre que for utilizado o gel sobre feridas abertas ou queimaduras, certificar-se de que a ferida esteja limpa porque será necessário o uso de curativo para evitar que o animal promova a lambedura da ferida, prevenindo a contaminação. Ou na pior das hipóteses, indica-se o uso de colar Elisabetano. O período de cicatrização depende de vários fatores como a profundidade e extensão da área afetada, podendo chegar a 21-27 dias de uso do gel da Aloe sobre a ferida. Só suspender o uso quando a ferida estiver completamente fechada e se observar o crescimento de pelos na região tratada.

Deve-se evitar o uso interno em animais devido as diferenças morfo-fisiologicas das diferentes espécies, além de evitar o uso em animais gestantes, pois devido ao aumento do peristaltismo pode levar a um processo abortivo. Pois as antraquinonas presentes na babosa, mais especificamente no látex, quando do uso prolongado pode provocar a carcinogênese na parede intestinal (intestino grosso), além de ter efeito hepatotóxico levando a um quadro de hepatite aguda.

Sugestão de tratamento:

Sobre lesões superficiais, incluindo hematomas e dermatites, utilizar o gel a 50% (diluído preferencialmente em água destilada). Durante aproximadamente 30 dias.

Sobre queimaduras, utilizar o gel puro sobre a ferida bem limpa, e fazer curativo. Durante aproximadamente 30 dias.

No caso do uso cosmético, existem alguns produtos no mercado de custo variável, sendo os mais indicados os Hipoalergênicos. Logo, para um melhor resultado antes do banho efetue uma pré-lavagem com Shampoo Biodegradável Neutro. Após a pré-lavagem e com o animal molhado aplique o Shampoo de Aloe Vera massageando sempre no sentido contrário dos pêlos. Comece pela cabeça em direção à cauda. Deixar agir por 3 minutos, enxague e repita a operação inicial, se necessário. Repetir quinzenalmente.

O shampoo pode ser substituído pela receita que é livre de detergente citada abaixo:

- 2 xícaras de água; 2 colheres de chá de sabão líquido de Castela; 2 colheres de sopa do gel da babosa; e ½-1 colher de chá de glicerina vegetal ou óleo vegetal. Aplicar sobre a pele úmida, esfregar, vai ser observado pouca espuma devido a ausência do detergente, e enxaguar bem para completa retirada do produto.

Ou manipular em farmácia magistral, Shampoo de Aloe a 0,5-0,8%, considerando-se o pH da pele dos animais de 7-7,5; sendo que as maiores variações encontradas são nos bovinos : 4,8 a 6,8 e nos equinos : 4,8 a 6,8, na sudorese podendo chegar a 7,9. O ideal é que o pH do shampoo seja o mais próximo da pele da espécie animal a ser usada.

Em caso de processos alérgicos, se o animal não tiver seborreia, então procure usar o xampu com Clorexidine 2,5% + Babosa (Aloe vera) 3% + base qsp sem perfume, que vai agir como antisséptico e cicatrizante.

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