domingo, 21 de dezembro de 2014

O valor das frutas amazônicas

Jornal da Universidade Federal do Pará. Ano XXIX Nº 118. Abril e Maio de 2014.

Açaí, bacuri e tucumã apresentam alto teor de ferro e manganês. 


por Amanda Pinho / Abril e Maio 2014
fotos Laís Teixeira


A Dissertação Determinação e Avaliação da Bioacessibilidade in vitro de Constituintes Inorgânicos em Frutas da Região Amazônica objetiva a valorização de frutas regionais, a partir da divulgação da propriedade nutricional de frutos, como açaí, taperebá, pupunha, jambo, entre outros, popularmente consumidos não só no Pará, mas também na Região Amazônica.

Bianca Alves, autora da pesquisa, conta que a literatura existente carece de registro de informações sobre as frutas regionais, frequentemente limitando-se ao cupuaçu e ao açaí, frutos que já apresentam uma certa notoriedade nacional e internacional. “Não há referências ao teor de proteínas, vitaminas, e minerais principalmente. Queremos mostrar o potencial que a Amazônia tem com relação às frutas. Um potencial nutricional enorme, que é desconhecido”, afirma a pesquisadora.

Realizada em duas etapas, a pesquisa estudou o potencial nutricional de vinte e duas frutas típicas da região, identificando o teor total de oito minerais - cálcio, cobre, ferro, potássio, magnésio, manganês, sódio e zinco - em cada uma delas.

A segunda etapa foi a realização do processo de bioacessibilidade, que analisa, a partir do teor total, a quantidade de mineral disponível para absorção pelo organismo. Nessa fase, em razão do tempo e do trabalho necessários para a realização do processo, apenas cobre, ferro e manganês foram selecionados para estudo em quatro frutas: o açaí, o açaí branco, o bacuri e o tucumã.

Apresentada em 2013, no Programa de Pós-Graduação em Química, vinculado ao Instituto de Ciências Exatas e Naturais - ICEN, sob a orientação da professora Kelly das Graças Fernandes Dantas, a pesquisa, agora, aguarda publicação no meio acadêmico e serve de base para o desenvolvimento de outros projetos, como Trabalhos de Conclusão de Curso dos alunos da Graduação em Química.
Seleção considerou as frutas mais consumidas

Bianca Alves conta que a escolha pelas vinte e duas frutas regionais deu-se com base no consumo desses frutos na região, os quais, segundo a pesquisadora, “têm consumo contínuo por parte da população”. Ela acrescenta que foi coletado o número máximo de frutas com o qual fosse possível trabalhar dentro do tempo estipulado para o desenvolvimento da dissertação.

A escolha pelos minerais a serem analisados também se deu a partir de seus graus de relevância, sendo escolhidos os mais importantes ao nosso organismo. “Todos esses minerais estão relacionados ao nosso metabolismo e são todos essenciais para o nosso organismo, cada um com a sua função”, explica. Nessa etapa da pesquisa, os valores totais dos minerais foram comparados com os recomendados para a ingestão diária. Entre os resultados obtidos, destaca-se a baixa concentração de zinco e magnésio e a alta concentração de manganês.

No caso do zinco, a ingestão diária recomendada pelo Food & Institute of Medicine varia de 8mg a 11mg, enquanto os valores encontrados nas vinte e duas frutas analisadas ficaram entre 0,51mg e 2,34mg. Já o magnésio, cuja recomendação fica entre 240mg e 420mg diários, apresentou variação entre 35,9mg e 219,85mg. A concentração do manganês, entretanto, variou de 0,19mg a 70,99mg, enquanto o recomendado fica entre 1,8mg e 2,3mg por dia.

Segundo a pesquisadora, todo mineral, dependendo da concentração, pode ser bom ou tóxico para o organismo. O açaí, por exemplo, por ser “plantado em áreas de várzea, com grande concentração de água, apresenta maior concentração de minerais. No caso do manganês, foi observada uma concentração alta nas amostras de açaí”, revela.
Bioacessibilidade diz como o mineral é absorvido

A alta concentração de determinado mineral não significa a absorção completa por parte do organismo, o que justifica a segunda etapa da pesquisa. “Só a partir do estudo de bioacessibilidade, é possível dizer quanto o organismo está absorvendo desse mineral e, então, iremos saber se ele está trazendo malefício ou benefício para o organismo”, acrescenta Bianca Alves. O processo de bioacessibilidade consiste na simulação in vitro das digestões gástrica e gastrointestinal das frutas.

Para essa etapa, foram selecionadas quatro frutas: o tucumã, o açaí branco, o açaí e o bacuri, nas quais, apenas o cobre, o ferro e o manganês foram analisados, uma vez que esses foram os elementos que apresentaram as maiores concentrações. Entre os resultados encontrados nessa etapa, a amostra de bacuri apresentou o menor percentual de bioacessibilidade para o cobre. A bioacessibilidade encontrada para o ferro no açaí, no açaí branco, no bacuri e no tucumã foram semelhantes, sendo que todas as frutas apresentaram concentração acima do percentual de absorção diária de ferro e manganês.

Segundo Bianca, “os resultados obtidos neste estudo valorizam as frutas cultivadas no Brasil, em especial, as frutas da Região Amazônica, mostrando seu potencial nutricional, quando relacionado ao teor de minerais”.

Minerais servem para...
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