sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Agricultura urbana: O contato com o rural no espaço urbano

Como um resquício do rural dentro do espaço urbano, a agricultura conta cada vez mais com o apoio da população de grandes cidades que buscam uma vida mais saudável e sustentável. Locais como condomínios, jardins de escolas, coberturas de prédios e terrenos vazios podem ser utilizados para o plantio de espécies que não exigem muito espaço, em geral, hortaliças e frutas.

Em busca de uma melhor qualidade de vida e uma alimentação mais saudável, o lucro é deixado de lado e não aparece como fator mais importante dessas iniciativas. O que vale é o contato com a terra e o prazer de tirar o alimento de lugares que nada produziriam se ficassem intocados.

“Há novas iniciativas de conectar essas hortas a supermercados locais. Ligar a fonte da comida à distribuição. As crianças estão tão envolvidas que não parecem que moram na cidade”, disse Alejandra Martin, 44, mexicana radicada nos EUA há 32 anos e que hoje atua como voluntária em uma horta comunitária.

Sorocaba e seu exemplo de agricultura urbana

O exemplo de maior sucesso na cidade de Sorocaba localiza-se na avenida Santa Cruz. Instalada debaixo da linha de energia elétrica de alta tensão e resultado de um acordo entre a Prefeitura e companhia de energia CPFL Piratininga, a horta possui atualmente cerca de 300 metros de extensão, divididos entre seis moradores que cuidam da horta. Cada um tem sua parte e plantam principalmente verduras. Mas também cultivaram maracujá e beterraba, entre outras espécies.

O aposentado Alcides Pereira de Souza, 61 anos, que trabalhou como mecânico de caminhões, cuida de uma parte da horta comunitária. Planta couve, alface e rúcula. Mesmo assim tem gente que invade para pegar verduras e destruir os canteiros. “Se pegar um ou dois pés de alface não tem problema. Não pode é entrar para destruir”, diz Alcides. O vandalismo ocorre, “mas a maioria dos moradores têm respeito pela nossa horta”, descreve o aposentado.

O lucro bruto que Alcides tem com a horta é de cerca de um salário mínimo. Desse valor, ele tira o custo das mudas, do esterco, ferramentas e utensílios. “Não trabalho pelo dinheiro, que é pouco. Para mim, é um lazer”, conforme Alcides. A avenida tem bastante trânsito e alguns motoristas, geralmente de outras cidades, param o carro para ver a horta de perto. “Realmente chama a atenção, assim no meio da cidade”, concorda o aposentado.

Curitiba e o apoio público a iniciativas de agricultura urbana

Vizinhos, comunidades organizadas e outros grupos de pessoas interessadas em ter uma horta coletiva podem contar com assistência técnica da Prefeitura de Curitiba. Por meio da Secretaria Municipal do Abastecimento, agrônomos e técnicos dão todo suporte necessário a famílias interessadas em transformar terrenos ociosos em áreas de produção de alimentos.

Em Curitiba a prefeitura já oferece aos moradores o suporte necessário, através de agrônomos e técnicos, para transformar terrenos ociosos em áreas de produção de alimentos. Além das orientações profissionais, a prefeitura oferece ainda insumos, técnicas de preparo de solo e de plantio, além de uma avaliação prévia do programa.

A cidade conta atualmente com uma área de cultivo de aproximadamente 250 hectares de terra, divididos em mais de 1300 hortas espalhadas por todo território curitibano. No ano de 2010 a produção atingiu a marca de 4.700 toneladas.

“As vantagens das hortas vão além do alimento. É um método barato de eliminar terrenos baldios, que muitas vezes viram depósitos de lixo e de foco de mosquitos na cidade. As hortas também evitam a impermeabilização do solo, um problema grave nos grandes centros urbanos, além de ser um exercício de cidadania quando envolve grupos de pessoas”, explica o secretário municipal do Abastecimento, Humberto Malucelli.

O caso dos Estados Unidos

Alejandra Martin, 44, mexicana radicada nos EUA há 32 anos, viveu em vários lugares do mundo por causa de seu trabalho, mas usou o cultivo de alimentos para criar raízes em um lugar: San Francisco, na Califórnia.

Fez dois cursos sobre o tema e hoje atua como voluntária em uma horta comunitária. Também faz parte de um grupo que debate as políticas de agricultura urbana na cidade em que mora.

“As pessoas estão mais preocupadas com a origem de sua comida, mas há também outro movimento, social, pelo qual muitas organizações estão utilizando a agricultura como meio de se conectar com a juventude e diminuir os índices de criminalidade”, diz Alejandra.

Um estudo da organização Design Trust for Public Space aponta que em 2013 haviam 900 pequenas fazendas e hortas na cidade de Nova York, cultivando alimentos e criando pequenos animais, como galinhas e abelhas.

“Há novas iniciativas de conectar essas hortas a supermercados locais. Ligar a fonte da comida à distribuição. As crianças estão tão envolvidas que não parecem que moram na cidade”, disse.

Apesar do espaço limitado em San Francisco, Alejandra afirma que o movimento ainda tem como se ampliar.

A cidade não tem cultivos em coberturas de prédios, o que pode ajudar na expansão. “Nas hortas públicas que temos, há uma lista de espera para que as pessoas tenham acesso a seu próprio espaço de cultivo”, diz.


Link:

Nenhum comentário:

Postar um comentário