quinta-feira, 23 de abril de 2015

Em Planaltina (DF) um exemplo de Farmácia pública verde

23.04.2015

Os médicos do Hospital Regional de Planaltina já sabem. Quando aparece alguém por lá com sintomas de resfriado, bronquite ou tosse, um remédio natural pode ser prescrito para ajudar - xarope de guaco. Se o assunto for incômodo muscular, a pomada da maria milagrosa faz valer o nome.

Compostos à base de espinheira santa e boldo são uma beleza para o estômago. O rigor científico, que se mistura ao saber da natureza, está a dez passos de distância: no Cerpis (Centro de Referência de Práticas Integrativas em Saúde), os remédios são oferecidos de graça, mediante receita.O centro é mantido pela Secretaria de Saúde desde 1983 e fica ao lado do hospital e do posto de saúde. 

Em 2014, foram distribuídos no Cerpis 4,2 mil medicamentos, totalizando 32 mil atendimentos. “Ao longo desses 30 anos, a adesão da comunidade foi surpreendente”, atesta, orgulhoso, o médico Marcos Freire, gerente do local. Todo o processo produtivo é feito no local. As plantas são recolhidas, deixadas para secagem em uma espécie de cabana feita com placas de zinco onde ficam por uma semana, em média, sob calor de 40º. Em seguida, as folhas ressecadas são levadas para o laboratório. 

A farmacêutica Isabele Aguiar, de apenas 26 anos, é a responsável pela manipulação há três anos. Até então, contudo, não dava muita atenção ao assunto. “Foi uma novidade que me encantou bastante. A gente sai engessado da faculdade, sai sem ver nada disso com profundidade, e a população valoriza muito. Uma frasquinho que a gente produz já deixa alguém alegre”, comenta.

Problemas A crise que afeta o sistema público de saúde não exclui, é claro, o Cerpis. Não existe mais, por exemplo, um jardineiro. “Cuidamos das plantas com ajuda de voluntários. Estamos na penúria”, comenta o gerente Marcos Freire. O local também precisa de reformas, já que a estrutura está ultrapassada. Os frascos dos remédios, cuja licitação foi feita em 2012, só chegaram no fim do ano passado. O jeito, em tempos de crise financeira, é apelar para
a ajuda da comunidade. “Esses dias estava faltando açúcar para fazer o xarope, e o pessoal trouxe dois pacotes”, comenta a farmacêutica.

Preconceito Segundo o médico, a desconfiança contra os remédios aparece, de vez em quando. “Existe muito preconceito, indisposição, que buscamos romper. Falam que é coisa da vovó, essas coisas”, comenta Marcos. “Mas a adesão da comunidade foi impressionante.” Depois de tanto tempo, o gerente só tem a celebrar: pelo menos a fitoterapia já foi regulamentada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que reconhece os benefícios das plantas e o inseriu no contexto do SUS (Sistema Único de Saúde). O sonho é continuar a expandir para que, em todo o hospital, também exista uma horta.

Texto: Fabiana Magalhães 


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