terça-feira, 7 de julho de 2015

Informação científica qualifica debate sobre drogas no país

02.07.2015


A maconha causa depressão e transtornos mentais. A maconha provoca câncer de pulmão. A maconha é uma erva natural sem contraindicações. A legalização da maconha resultará no aumento do consumo. No debate acirrado sobre as drogas no Brasil e no mundo, muitas supostas verdades como essas circulam no senso comum e na imprensa. Mas quais serão os riscos reais oferecidos pela maconha e por outras drogas lícitas e ilícitas?
Os impactos da maconha na saúde foram o tema da mesa Maconha e Saúde: Mitos e evidências (Fotos: Peter Ilicciev)

Este foi o tema principal da mesa Maconha e Saúde: Mitos e evidências, que reuniu três médicos psiquiatras nesta quarta-feira (1º/7), dentro da programação do seminário internacional Maconha: usos, políticas e interfaces com a saúde e direitos, realizado pela Fiocruz nos auditórios Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj).
Psiquiatra da Universidade de São Paulo, Camila Magalhães Silveira ressaltou os avanços científicos das últimas décadas

Com a mediação de Antônio Ivo de Carvalho, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, o debate teve o objetivo de subsidiar e qualificar com informação científica a discussão sobre maconha e drogas no país. Representante do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq HC-FMUSP), Camila Magalhães Silveira destacou as evidências científicas coletadas nos últimos vinte anos.

“Nós tivemos um incremento importante de evidências nas últimas décadas. Os estudos com usuários crônicos e regulares de maconha têm avançado muito, assim como a investigação sobre os possíveis efeitos confundidores, que deturpam as análises. As evidências brasileiras ainda são muito escassas, mas houve um aumento considerável de estudos com amostras representativas na Austrália, Europa, Reino Unido e Estados Unidos”, afirmou a psiquiatra.

No cenário nacional, Camila Magalhães Silveira explicou que a maconha é a substância mais usada, mas a sua prevalência ainda é muito menor do que em outros países. Estima-se que 2,5% da população brasileira usaram maconha no último ano, contra 12,6% nos Estados Unidos e 10% na Espanha. “Os principais prejuízos da maconha estão associados ao uso crônico e à idade de início precoce”, apontou a especialista, com a ressalva de que sua relevância em saúde pública é muito menor do que os impactos causados por álcool e tabaco.
Luiz Fernando Tófoli disse que a proibição e o preconceito interditaram o debate sobre as drogas no país

Psiquiatra da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (LEIPSI), Luiz Fernando Tófoli disse que o preconceito atrapalhou e adiou os estudos sobre a maconha no país. “O conhecimento da ciência ainda é limitado e a interpretação dos resultados dessas pesquisas está sempre sujeita a um viés ideológico”, disse Tófoli.

O especialista da Unicamp assinalou ainda que está provado que a maconha cura alguns tipos de câncer em ratos, mas não está cientificamente provada sua eficácia em seres humanos. “A melhor evidência que nós temos sobre maconha e câncer é que a maconha é um excelente tratamento para efeitos colaterais em quimioterapia. Por isso eu estou convencido que não existe categoria médica mais sensível à questão da legalização da maconha medicinal do que os oncologistas”, ressaltou.
Marcelo Santos Cruz defendeu medidas de redução de danos em vez da simples proibição das drogas

Vice-presidente da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (Abramd) e psiquiatra do Projad (Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas) da UFRJ, Marcelo Santos Cruz destacou os bons resultados do uso medicinal do canabidiol no tratamento de epilepsia refratária, anorexia e dores espásticas. Entre os riscos, estão os prejuízos para a atenção, a motivação e a memória e a possibilidade de dependência.

“A maconha oferece riscos, mas isso não justifica a sua proibição. Outras drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, oferecem riscos até maiores”, disse o psiquiatra. Utilizando o exemplo da diminuição do consumo do tabaco com estratégicas não proibicionistas, Marcelo Santos Cruz sugere outras estratégias para a diminuição do risco do uso da maconha, como o aumento e o controle do preço e o monopólio do Estado do todo ou parte da cadeia de produção.

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