segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Plantas medicinais e diabetes

Texto: Thais Poças - Nutricionista - pós-graduanda em Fitoterapia 

O diabetes melito se situa entre as dez principais causas de morte nos países ocidentais e, apesar dos progressos em seu controle clínico, ainda não foi possível controlar de fato suas consequências letais. 

Esta doença é um distúrbio crônico que afeta o metabolismo de carboidratos, de gorduras e de proteínas. Aspecto característico do diabete melito é a hiperglicemia, condição na qual o organismo perdeu, parcialmente, o poder de “queimar” os açúcares fornecidos pelos alimentos ingeridos. Como resultado, o açúcar não "queimado" é acumulado no sangue, e o excesso deste açúcar no sangue, com a consequente falta de produção de energia, dará origem aos sintomas de fraqueza, de perda de peso, de inflamação, de poliúria, dentre outros sintomas.

Há muito tempo as plantas têm sido utilizadas para complementar o tratamento farmacológico do diabetes ou ser a principal fonte de controle da doença. Fato é que poucos estudos explicam os mecanismos de ação das plantas que produzem o efeito antidiabetogênico.

Produza plantas que auxiliam no controle da diabetes

Um quintal repleto de plantas que auxiliam no tratamento só trará benefício quando utilizado com sabedoria e orientação de um profissional. Os chás por infusão ou por decocção são as formas mais comuns de se obter o efeito fitoterápico das folhas, dos frutos ou das raízes, lembrando que os efeitos tóxicos não são descritos na sua maioria. Doses menores e variação é a melhor forma de evitar uma sobrecarga hepática, pois a metabolização ocorre principalmente no fígado. 

Plantas ´no tratamento da diabetes citadas na literatura

Baccharis trimera (carqueja): parte usada: a planta inteira; planta florida. Utilizada na forma de chá acreditando-se, sobretudo, nos efeitos emagrecedor, digestivo e antidiabético. 

Annona muricata (graviola): parte usada: raiz, fruto, folhas. Estudos evidenciaram potente efeito hipoglicemiante.

Myrcia multiflora (pedra-hume-caá): parte usada: folhas. Em experimentos pré-clínicos, o chá foi capaz de inibir a absorção intestinal de glicose em animais. As folhas de pedra-hume-caá säo empregadas com bastante frequência no tratamento de diabetes. 

Chrysobalanus icaco (abageru): parte usada: folhas. Uso do chá das folhas (previamente moídas) é capaz de reduzir a glicemia média em pacientes diabéticos, através do bloqueio na absorção intestinal de glicose.

Bignonia tuira (cipó-tuíra): parte usada: folhas. Chá das folhas secas, extrato ou infusão diminui a glicemia, o mecanismo de ação não foi definido, mas os autores sugerem que a queda na glicemia tenha sido independente de insulina, e aventam a possibilidade de que o efeito da planta seja através da regeneração da célula beta lesada.

Sonchus asper (dente-de-leão): parte usada: raízes, folhas. A infusão das folhas verdes da planta reduz a glicemia de pacientes diabéticos.

Arctium lappa e Arctium minus (bardana): parte usada: raízes, folhas. A bardana é utilizada no tratamento do diabetes como agente hipoglicemiante. No Brasil, cresce espontaneamente nos campos, sub-bosques e áreas ruderais, sendo considerada muitas vezes uma planta invasora. Extratos da raiz e folha possuem efeito hipoglicemiante.

Gymnema sylvestre (gumar): parte usada: folhas. O vegetal parece atuar em parte pelo aumento da secreção de insulina. Em coelhos diabéticos, a glicemia foi reduzida à metade após 24 horas do consumo do chá. Foram observados efeitos, tais como: aumento da glicogênese e do anabolismo proteico e aumento das atividades de enzimas insulino-dependentes. Clinicamente, a G. sylvestre pode abolir ou reduzir as sensações gustativas de doce, o mascar das folhas abole o paladar doce (devido a uma fração chamada ácido gymnemico), daí o nome popular “gumar” (“destruidor de açúcar”).

Pterocarpus marsupium: parte usada: casca. Auxilia na regeneração das células beta funcionais do pâncreas. Os dois princípios ativos antidiabéticos marsupsina e pteroestilbeno foram encontrados na casca de Pterocarpus marsupium. Esta espécie não é encontrada vegetando espontaneamente no Brasil.

Momordica charantia (melão-de-são-caetano): parte usada: folhas e raiz. O extrato alcoólico de suas folhas e ramos demonstrou impedir a elevação do teor de açúcar no sangue.

Cissus verticillata (uva-do-mato): parte usada: folhas. O chá de suas folhas apresenta atividade hipoglicemiante, justificado por seus flavonoides.

Pesquisadores observaram que Cucurbita ficifolia (abóbora), Phaseolus vulgaris (feijão), Opuntia streptacantha (nopal), Spinacea oleracea (espinafre), Cucumis sativus (pepino) e Cuminum cyminum (cominho) diminuem significativamente o pico hiperglicemiante após a administração da glicose. Também ofereceram bom resultado os seguintes vegetais: Brassica oleracea var. botrytis (couve-flor), beterraba (Beta vulgaris), gengibre (Zingiber officinalis), Allium cepa (cebola) e Allium sativum (alho).

Um cardápio rico destas plantas, orientado por profissional da saúde devidamente habilitado para prescrição, deve ser estimulado para que os diabéticos tenham melhor controle da doença.

Bibliografia:

Plantas Medicinais Antidiabéticas – Uma abordagem multidisciplinar. Luiz Antonio Ranzeiro de Bragança. Editora da Universidade Federal Fluminense. Niterói, RJ — 1996.

Flavonóides de Cissus verticillata e a atividade hipoglicemiante do chá de suas folhas. Wagner L. R. Barbosa1*; Wallace R. A. dos Santos2; Lucianna N. Pinto1; Isabel C.C. Tavares2. Departamento de Farmácia, Centro de Ciências da Saúde Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil.

Alguns vegetais brasileiros empregados no tratamento da diabetes. Fernando de OliveiraI; Maria Lucia SaitoII. Rev. bras. farmacogn. vol.2-3-4 São Paulo 1989.

Avaliação in vivo do efeito hipoglicemiante de extratos obtidos da raiz e folha de bardana Arctium minus (Hill.) Bernh. Vera Lúcia de Liz Oliveira Cavalli1*, Crissiane Sordi1, Karlúcio Tonini1, Adriana Grando1, Tânia Muneron1, Ariene Guigi1, Walter Antônio Roman Júnior2. Rev. Bras. Farmacogn. Braz J. Pharmacogn. 17(1): Jan./Mar. 2007.

Diabetes melito: plantas e princípios ativos naturais hipoglicemiantes. Giuseppina Negri. Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo – SP.

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