terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Companhias de bebidas adotam estratégias agressivas para evitar prejuízo no mercado global

Fonte: ABRASCO - Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2016 


Relatório da CSPI aponta práticas semelhantes às da indústria do tabaco em mercados sem regulação e propõe medidas

Com a acentuada queda das vendas de refrigerantes e demais bebidas carbonatadas nas nações desenvolvidas, a indústria de bebidas açucaradas busca compensar essas perdas por meio de agressiva estratégias de aumento de consumo e de vendas nos países de baixa e/ou média renda, como Brasil, Índia e México. As ações são as mesmas já utilizadas pela indústria do tabaco antes das regulações do setor e contribuem diretamente para o aumento da epidemia da obesidade, principalmente entre jovens e crianças. A análise desse cenário e a indicação de medidas para enfrentar esse desafio de saúde pública em diversos níveis de governança estão no relatório A CARBONATAÇÃO DO MUNDO – A comercialização e o impacto de bebidas com açúcar na saúde, em países de baixa e média renda, realizado pela Center for Science in Public Interest (CSPI), organização não governamental norte-americana dedicada à promoção e defesa da alimentação saudável e adequada e atuante desde a década de 1970. No Brasil, a responsabilidade de divulgação do estudo está a cargo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).



Redigido por Allyn L. Taylor, expert em diplomacia em saúde global da Escola de Direito da Universidade de Washington e por Michael F. Jacobson, presidente da ONG norte-americana, o estudo mostra como Coca-Cola, Pepsi, e outras empresas nacionais e regionais de refrigerante estão expandindo seu alcance em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o consumo per capita de bebidas carbonatadas e/ou adoçadas com açúcar diminuiu 25% entre 1998 e 2014, os braços das companhias na América Latina, Ásia, Oriente Médio e nos países africanos têm estratégias projetadas para aumentar o consumo até 2018. No alvo da ação, 3,5 bilhões de adolescentes e jovens até os 20 anos, chamados por Gary Fayard, diretor financeiro da Coca-Cola de “nosso núcleo demográfico”.

Políticas mundiais, ações locais: Somente a Coca-Cola Company pretende investir mais de 30 bilhões de dólares nos mercados emergentes entre os anos em 2012 e 2017. Para a maior player global do segmento, o crescimento nesses países é fundamental, uma vez que pretende dobrar sua receita entre 2010 e 2020. Somente no terceiro trimestre de 2015 a empresa apresentou valor consolidado acima de 11 bilhões de dólares.

O relatório destaca o caso mexicano como exemplo. O país é um dos maiores consumidores destas bebidas e tem uma das taxas mais altas de obesidade no mundo. Apesar de o governo do Enrique Peña Nieto estar tentando reverter o quadro por meio de medida que ficou conhecida como “imposto dos refrescos”, o marco regulatório está sofrendo ataques diretos do setor. “Estes são os países com população em crescimento populacional e de renda, com governos de menor probabilidade para acionar ações para deter o consumo”, reforça Michael F. Jacobson, presidente da CSPI.

“Ao centrar investimentos para estão investindo bilhões de dólares por ano em países como o Brasil, China, Índia e México não só para construir fábricas de engarrafamento, mas também para criar redes de distribuição e promover os seus produtos para maximizar as vendas”, destaca o estudo, que traz ainda dados econômicos da China, na África do Sul e Filipinas.

Múltiplas governanças: O Relatório propõe ainda medidas de governança para diversos setores da sociedade, compreendendo que o enfrentamento da epidemia da obesidade necessita de ações dos múltiplos atores envolvidos, da Organização Mundial da Saúde (OMS) aos restaurantes e demais espaços de alimentação, passando, principalmente, pelos governos nacionais, fabricantes e entidades e associações de entidades civis. Dentre as propostas, destacam-se a restrição do conteúdo de açúcar presente nas bebidas a cerca de um quarto dos níveis atuais; o oferecimento, por parte da OMS de ferramentas aos países para incentivar a redução de consumo de bebidas; redução das embalagens e volume máximo de venda de bebidas, entre outros.

Para Inês Rugani, professora do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (INU/Uerj) e coordenadora do Grupo Temático Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva (GT ANSC/Abrasco), o documento é extremamente relevante por sistematizar informações que reiteram e comprovam o que vem sendo apontado por inúmeros pesquisadores e ativistas de diversos países.

“O estudo dá o devido destaque às ações regulatórias dirigidas a, por exemplo, propaganda, rotulagem, taxação, oferta de produtos em locais como cantinas escolares, e alteração da composição dessas bebidas, valorizando a importância de os países serem apoiados em seu esforço de consolidação e expansão de medidas regulatórias voltadas à promoção da alimentação adequada e saudável”, destaca Inês.

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