sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Intervenções espirituais e religiosas na saúde são benéficas

Por Valéria Dias - valdias@usp.br
Publicado em 12/fevereiro/2016

A partir de uma revisão sistemática da literatura científica sobre intervenções espirituais e religiosas na saúde, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) verificaram que a grande maioria dos artigos publicados sobre o tema apontam que essas terapias trouxeram resultados positivos para os pacientes.
Redução de sintomas de ansiedade é um dos benefícios citados nos artigos

A revisão foi realizada pela pesquisadora Juliane Piasseschi de Bernardin Gonçalves e os dados estão descritos no artigo Religious and spiritual interventions in mental health care: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled clinical trials, publicado na revista Psychological Medicine, em julho de 2015. O objetivo do trabalho foi compreender a relação dos efeitos de uma intervenção espiritual ou religiosa na saúde.

De acordo com Juliane, a literatura científica tem apresentado evidências sobre a importância da dimensão espiritual e religiosa no tratamento de pacientes, seja relacionada à saúde física ou mental. “Porém, a grande maioria dos estudos apenas observa correlações entre espiritualidade/religiosidade e a saúde sem, entretanto, poder identificar uma relação causal, isto é, se um desses fatores favorece diretamente o outro. Para se demonstrar uma relação de causa – efeito são necessários estudos clínicos formulados especificamente para esse objetivo, chamados de ensaios clínicos randomizados”, explica.

A pesquisa consistiu na análise preliminar de 5 mil artigos nacionais e internacionais, em língua inglesa, portuguesa ou espanhola, selecionados nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO, The Cochrane Collaboration, Embase e Scielo.

Posteriormente, foram selecionados 39 artigos que, além da boa qualidade metodológica, abordavam terapias e intervenções alternativas como meditação, técnicas de psicoterapia, recursos audiovisuais, serviços de capelaria em hospitais, atividades em igrejas, serviço pastoral, exercícios físicos, ou oferecendo algum tipo de discussão de cunho filosófico, religioso ou espiritual, onde houvesse, obrigatoriamente, a participação ativa dos pacientes. “Excluímos os artigos que relatavam, por exemplo, a realização de orações à distância ou aqueles onde o paciente não teve uma postura de protagonista durante a intervenção”, explica Juliane.

Nos artigos analisados, encontra-se uma grande variedade de populações estudadas: sobreviventes de câncer, depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, pós-operatório cardíaco, jovens saudáveis com problemas de aprendizagem, obesos, voluntários saudáveis e pessoas com HIV/aids, etc.

Os pesquisadores constataram que a maioria dos resultados das intervenções espirituais ou religiosas são, no mínimo, equivalentes aos grupos controle (que não abordaram espiritualidade e religiosidade).

Meta-análise

A pesquisa também contemplou a meta-análise: uma forma estatística de reunir os dados da revisão sistemática dos 39 artigos e analisar, via software, a similaridade entre eles. “A meta-análise confirmou os resultados para a redução dos sintomas de ansiedade, independente da população e do modelo terapêutico usado nos estudos, e uma tendência à melhora nos casos de depressão.”

Para Juliane, esses resultados são importantes pois mostram que há diversas formas de se trabalhar com a religiosidade e a espiritualidade. “Chamamos de religiosidade negativa quando há uma ênfase na punição, no castigo, na necessidade de sofrer para expurgar os pecados. Isso pode trazer desfechos negativos para pacientes”, explica.

Outro aspecto positivo do trabalho é mostrar as diversas possibilidades de fazer uma intervenção espiritual ou religiosa: o número de sessões, o tempo, além das diferenças entre as várias doenças estudadas.

A pesquisa faz parte da dissertação de mestrado Intervenções espirituais e/ou religiosas na saúde: revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos controlados, apresentada em 2014 no Departamento de Psiquiatria da FMUSP. O trabalho contou com a participação dos professores da FMUSP, Paulo Rossi Menezes, e do orientador Homero Vallada, além de Giancarlo Luchetti, docente da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Foto: Dennis Yang/Wikimedia Commons

Mais informações: email juliane.pbg@usp.br, no Programa em Saúde Espiritualidade e Religiosidade (ProSER-LIM23) do IPq

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