quarta-feira, 16 de março de 2016

60% dos pacientes utilizam plantas medicinais

Adriana Carvalho, do Laboratório de Pesquisa em Oncologia Clínica da UFS.

Associação entre plantas e medicamentos da quimioterapia pode causar riscos

A fitoterapia e as plantas medicinais estão sendo utilizadas cada vez mais pelos pacientes oncológicos como forma decontrole da doença. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe aponta que 60% dospacientes oncológicos do Sistema Único de Saúde (SUS) e 50% dos pacientes da rede privada utilizam plantasmedicinais e medicamentos fitoterápicos junto com medicamentos da quimioterapia. Para a doutora em FarmacologiaAdriana Andrade Carvalho, essa associação pode causar sérios riscos para a saúde do paciente.

O estudo vem sendo realizado pelo Grupo de Pesquisa do Laboratório de Pesquisa em Oncologia Clínica e Experimental (Lapoce) com o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado deSergipe (Fapitec/SE). A coordenadora do projeto e coordenadora do Lapoce, professora Adriana Carvalho, explica queum trabalho inicial já estava sendo realizado no município de Lagarto, abordando o uso das plantas medicinais pelapopulação. A partir dessa pesquisa, foi constatado que o câncer foi a segunda doença crônica mais prevalente naregião e que muitos pacientes oncológicos utilizam plantas medicinais durante o tratamento do câncer.

“Cerca de 40% dos pacientes que residem em Lagarto utilizam plantas medicinais junto com os medicamentos daquimioterapia. A partir desse dado alarmante, visto que as plantas medicinais podem interagir com os medicamentos,decidimos expandir a nossa pesquisa focando só em pacientes oncológicos, que é o que estamos realizando aqui emAracaju”, completou a pesquisadora.

Riscos

A interação das plantas medicinais e dos fitoterápicos com os medicamentos da quimioterapia pode trazer sériosriscos para o paciente. A pesquisadora Adriana Carvalho explica que o paciente oncológico faz uso de váriosmedicamentos, tanto aqueles utilizados para tratar o tumor, tanto os medicamentos de suporte que utilizamos paramediar as reações adversas do paciente. Algumas interações já estão previstas na literatura, como explica apesquisadora.

“Com os dados já coletados até o momento, já conseguimos observar algumas interações medicamentosas, como ainteração causada entre Capim-Limão e a Ciclofosfamida. Essa planta pode tanto aumentar a concentração plasmáticado fármaco quanto diminuir, resultando ou na ineficácia do tratamento ou no aumento dos efeitos adversos.Alterações na biodisponibilidade do quimioterápico é preocupante principalmente por se tratar de drogas com baixoíndice terapêutico, isto é, a dose terapêutica está próxima a dose letal”, pontuou.

A pesquisadora ainda aponta outras interações perigosas para o paciente. A babosa, por exemplo, interage comdiurético, que é um medicamento utilizado por pacientes hipertensos e pode ser utilizado como medicamento desuporte. A reação é grave, pois a babosa potencializa a excreção de potássio, que o diurético já libera, podendo levarao quadro de hipocalemia, podendo causar arritmias e insuficiência respiratória. A interação de duas plantasmedicinais também podem causar riscos. Segundo a pesquisadora Adriana Carvalho, uso da erva cidreira e dacamomila juntas pode aumentar o nível sedativo acima do nível normal. O uso da camomila e do maracujá tambémpode alterar a coagulação sanguínea. Todas essas interações foram observadas nesse estudo.

Pesquisa

O estudo está sendo realizado na rede pública no Hospital Cirurgia e no Hospital Urgência de Sergipe (Huse). Na redeparticular, quatro clínicas em Aracaju participaram do estudo. Ao todo, 650 pacientes oncológicos participaram dapesquisa. Durante o mapeamento, foi possível constatar que as plantas medicinais mais utilizadas pelos pacientesatendidos na rede privada foram a erva cidreira (43,29%), camomila (39,02%) e boldo (29,89%). Já na rede pública(SUS) foram: erva cidreira (56,70%), capim santo (39,17%) e camomila (33%). Já os medicamentos fitoterápicos maisutilizados foram a própolis (3,05%) e avelós (1,83%).

A pesquisadora Adriana Carvalho destaca a importância do mapeamento do uso de plantas medicinais dessespacientes oncológicos para o uso racional das plantas medicinais e dos fitoterápicos.

“Para a saúde pública é muito importante porque a OMS já reconhece as práticas integrativas e complementarescomo terapêuticas. Além disso, com a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares(PNPIC), as plantas medicinais e fitoterápicas foram institucionalizados no SUS. Porém devemos ter cautela naorientação do uso, e principalmente, no não-uso de plantas medicinais e fitoterápicos por paciente oncológico. Ocâncer traz um estigma de dor e morte muito forte e percebemos que o paciente vê na planta medicinal como umaforma de controle da doença, de esperança... São pacientes que psicologicamente estão muito sensibilizados. Écomplicado tirar isso do paciente de forma brusca, por isso é importante o uso racional e orientação humanizada”,finaliza.

PPSUS

A pesquisa sobre o uso de plantas medicinais e fitoterápicos é fruto do edital do Programa de Pesquisas para o SUSdesenvolvido pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE). Oprograma tem por objetivo desenvolver pesquisas voltadas para as demandas do SUS.

Assessoria de Comunicação da Fapitec/SE

Foto: Fapitec/SE.
29/02/2016 

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