quinta-feira, 14 de julho de 2016

Fazenda em SP mostra viabilidade da agrossilvicultura de grande escala

A Fazenda da Toca, empresa privada de São Paulo, está demonstrando a viabilidade da agrossilvicultura — o cultivo de árvores em conjunto com culturas agrícolas ou com criação de animais — de grande escala, inclusive em terras com solo altamente degradado.

Segundo o Banco Mundial, o empreendimento pode pôr fim ao mito de que a agrossilvicultura em grande escala é demasiadamente cara e requer mão de obra intensiva para atrair o setor privado.
Fazenda Toca, em São Paulo, adota o cultivo de árvores juntamente a culturas agrícolas. Foto: Instagram

Por Gregor Wolf e Werner Kornexl

A pecuária e a agricultura têm sido os impulsores principais do desmatamento e da degradação da terra no Brasil, utilizando práticas de uso da terra às custas do meio ambiente, causando escassez de água, perda da biodiversidade e persistência da pobreza.

Não há dúvida de que a restauração da terra e das florestas para reparar os ecossistemas é urgentemente necessária no Brasil. Isso é sobretudo evidente no estado de São Paulo, onde a escassez da água, causada por uma seca prolongada e bacias hidrográficas degradadas, está ameaçando a metrópole de mais de 20 milhões de habitantes. Infelizmente, devido a percepções de que a restauração da terra é proibitivamente cara, as intervenções têm sido lentas.

No entanto, em uma fazenda em São Paulo é possível ver que há mudanças a caminho. Há novas evidências de que práticas de agrossilvicultura — o cultivo de árvores em conjunto com culturas agrícolas ou com criação de animais — desenvolvidas localmente oferecem sistemas de produção financeiramente viáveis, ao mesmo tempo restaurando o solo e a cobertura da vegetação em larga escala.

A Fazenda da Toca, empresa privada de São Paulo, está demonstrando a viabilidade da agricultura e agrossilvicultura de grande escala, inclusive em terras com solo altamente degradado. O local pode pôr fim ao mito de que a agrossilvicultura em grande escala é inviável, demasiadamente cara e requer mão de obra intensiva para atrair o setor privado.

O empreendimento está apto a demonstrar que as práticas de agrossilvicultura não somente restauram áreas degradadas, mas também são mais lucrativas do que as práticas agrícolas convencionais. Qual é o segredo de sua eficácia? Simples: não se trata de um enfoque ou de uma técnica únicos. Ao contrário, é uma combinação de intervenções, inteligentemente sequenciadas, que estão produzindo resultados positivos.

Os solos degradados são estabilizados com diferentes espécies de grama para aumentar a matéria orgânica, espécies exóticas de crescimento rápido proporcionam sombra e biomassa, ao passo que árvores frutíferas e espécies nativas de madeira de alto valor geram fluxo de caixa e retornos de longo prazo. Seguindo esses princípios — em variações e abordagens múltiplas — a agrossilvicultura na Fazenda da Toca já é lucrativa sem subsídios ou outros incentivos, mostrando que a atividade em larga escala é viável.

A Fazenda da Toca também experimenta inovações tecnológicas diferentes. Por exemplo, tem trabalhado em parcerias estratégicas para desenvolver tecnologias e criar equipamentos de agrossilvicultura mecanizada em parceria com empresas locais. Essa maneira de agir reduz custos e cria redes nacionais para divulgar técnicas e modelos de uso da terra financeiramente viáveis, preparando assim o cenário parar uma ampla adoção deste método.

Recentemente, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura — uma coalizão de mais de 100 parceiros privados, grandes empresas e ONGs — organizou um evento para discutir a forma de acelerar a ampliação do modelo Fazendo da Toca no estado e em outras áreas do país.

O objetivo da coalizão é contribuir para o recente compromisso do Brasil na COP21 de enfrentar os problemas de degradação da terra e dos recursos, bem como ajudar a cumprir até 2030 a meta nacional de restaurar 12 milhões de hectares de terras degradadas, recuperando mais 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e assim melhorando outros 5 milhões de hectares de sistemas de cultivo-pecuária-silvicultura.

Um dos principais resultados desse processo singular — também aprendido de cultivos florestais de larga escala bem-sucedidos no sul do país — é o seguinte: a restauração não pode estar separada da agrossilvicultura produtiva ou de sistemas agrossilvopastoris, ou seja, o processo deve proporcionar aos agricultores renda em dinheiro logo no início do processo, ao mesmo tempo restaurando o solo e as funções ecológicas.

A experiência da Fazenda da Toca oferece um importante estudo de caso para a implementação do Desafio de Bonn, cuja meta é restaurar 150 milhões de hectares de terras desmatadas e degradadas do mundo até 2020 e 350 milhões até 2030. Até hoje, 31 países deram um passo à frente comprometendo-se a restaurar áreas degradadas. No entanto, há apenas alguns lugares em que esse esforço concentrado está em andamento, reforçado pela evidência de que a restauração em grande escala é financeiramente viável.

A estrutura normativa avançada do Brasil e o Código Florestal oferecem o contexto para essa meta desafiadora. No entanto, ainda precisam ser abordados: financiamento adequado, disponibilidade de sementes, mercados, conhecimento de genética e práticas de silvicultura de espécies nativas, bem como viabilidade financeira.

Experiências como a da Fazenda da Toca trazem a esperança de que o Brasil possa realmente ampliar a restauração, cumprindo as metas de restauração determinadas pelo Código Florestal, bem como cumprindo os compromissos estabelecidos em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas na COP21.

Da ONU Brasil, in EcoDebate, 14/07/2016

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