quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Proteína TOR pode ser a chave para controlar o crescimento de plantas

21 de julho de 2016

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – As moléculas de açúcares, resultantes da fixação do CO2 pela fotossíntese, constituem a fonte primária de energia bioquímica que sustenta o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Em condições ambientais adequadas, quanto mais energia disponível maior a eficiência do crescimento e, consequentemente, maior o acúmulo de biomassa. Esta inclui a celulose como a principal fonte de carbono para produção da chamada bioenergia de segunda geração. E a proteína TOR pode ser uma chave para otimizar o processo.

Essa enzima do tipo quinase, cuja sigla deriva da expressão em língua inglesa Target of Rapamycin, foi descoberta graças ao antibiótico rapamicina, que é capaz de bloquear sua ação. Desde a descoberta, diversos estudos indicam um papel fundamental da TOR no processo de crescimento e divisão celular de todos os seres eucariotos – ou seja, aqueles constituídos por células dotadas de núcleo. Assim, a TOR é quase onipresente no mundo vivo, regulando o crescimento de uma gama de seres que vai dos fungos aos humanos.

Um artigo de revisão – do qual participaram os brasileiros Camila Caldana e Michel Vincentz –, publicado na Annual Review of Plant Biology, destacou o papel dessa quinase na regulação dos processos vitais: “TOR Signaling and Nutrient Sensing”.

Camila Caldana é pesquisadora do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), e Michel Vincentz é professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp). Ambos têm apoio da FAPESP para suas pesquisas.

Caldana é apoiada pela FAPESP por meio do programa Jovens Pesquisadores (Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes), com a pesquisa “Regulação do crescimento pela via ‘target of rapamycin’ (TOR) em plantas”.


“A integração entre sinais ambientais, como água, nutrientes, temperatura e luz, e os processos intracelulares, como crescimento celular e metabolismo, é condição para a vida. Para poderem sobreviver e se multiplicar, as células precisam responder de forma adequada ao ambiente. Uma das vias de sinalização que garantem essa integração envolve a quinase TOR”, disse Vincentz à Agência FAPESP.

“Se os fatores ambientais são favoráveis, essa via é disparada para que a multiplicação e o crescimento celular ocorram. Quando os fatores ambientais se tornam desfavoráveis, ela é interrompida, e outras vias, entre elas a comandada pela quinase SnRK1, de função antagônica, passam a ser ativadas, assegurando a preservação do metabolismo energético até que a condição propícia se restabeleça”, prosseguiu.

Considerando apenas dois entre muitos exemplos possíveis, a TOR participa tanto do crescimento das plantas quanto de carcinomas. Nas plantas, esse crescimento pode ter grande interesse, pois promove a produtividade e a produção de biomassa. No câncer, ao contrário, busca-se o desenvolvimento de drogas que suscitem a inibição da multiplicação celular. Daí a importância de se estudar em profundidade a atuação dessa proteína, seus alvos e antagonistas.

“Enquanto a TOR promove o crescimento, a SnRK1 o limita, fazendo com que a planta redirecione seu metabolismo e passe a utilizar suas reservas. Nossos estudos mostraram que essas duas quinases antagônicas desempenham papéis centrais no uso balanceado de carbono e no metabolismo energético, entre outros processos. Então, há um grande interesse em entender como as duas vias interagem”, afirmou Caldana.

Em experimentos recentes, os dois pesquisadores obtiveram mutantes da planta-modelo Arabidopsis thaliana por meio do “silenciamento condicional” da TOR. O “silenciamento condicional” é um procedimento que permite o controle temporal e quantitativo da expressão gênica. A inibição da atividade de TOR resultou em alterações no metabolismo de energia, lipídios e carbono, com o acúmulo de aminoácidos, amido e triacilglicerídeos.

“Por meio desse sistema, é possível controlar o crescimento da planta até que ela atinja uma determinada biomassa. Uma vez que esse estágio tenha sido alcançado, o silenciamento, seguido de uma reprogramação metabólica, poderia resultar na produção e no acúmulo de fontes de açúcares, potencialmente envolvidos em vários aspectos da produtividade”, ponderou Caldana.

“A compreensão dos mecanismos que controlam o direcionamento adequado do carbono para otimização do crescimento em um ambiente flutuante pode abrir perspectivas para a manipulação de rotas de conversão e manipulação dos carboidratos para desenvolver uma agricultura mais eficiente e respeitosa ao meio ambiente, no contexto das mudanças climáticas”, concluiu a pesquisadora. 
A compreensão da atividade dessa quinase e sua manipulação genética abririam novas perspectivas para aumentar a quantidade e a qualidade da biomassa (Foto: Arabidopsis thaliana/Wikimedia Commons)

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