sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Oxbo Raspberry & Blueberry Harvesters

Mint Harvester.mp4

Mint Harvesting Machine

Marigold or gaindha farming in West Bengal

Integrated Soil Fertility Management: Contributions of practices to clim...

Cinco benefícios dos grãos de leguminosas

Coffee-Banana Intercropping: Implementation guidance for policymakers a...

Cinco benefícios dos grãos de leguminosas

El estado de los bosques del mundo 2016

Sustainable Agribusiness & Food Value Chains

Coffee

Beans

Antioxidants

Nuts

Turmeric

Flax Seeds

Soy

How Not To Die: The Role of Diet in Preventing, Arresting, and Reversing...

What’s the “Natural” Human Diet?

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

ECOhabitat na Sociedade do Sol (Episódio 1- Parte 1/8)

Florestas Comestíveis

Agrofloresta Kilombo Tenondê

Cidade Aberta | A importância da Permacultura Urbana

Certificação Orgânica Participativa

Passo a passo para a Certificação Orgânica de alimentos

Bate papo Orgânico: Alimentos Orgânicos - O que é mito e o que é verdade!

Soluções Homeopáticas na Agricultura Orgânica

Embrapa lança plataforma online sobre Novo Código Florestal

Foto: Embrapa

A partir desta quarta-feira (27), as contribuições desenvolvidas pela Embrapa e parceiros, com o objetivo de ajudar a proteger e restaurar a vegetação nativa do país, estarão acessíveis em meio eletrônico no Portal Embrapa. Essas informações, para as Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Uso Restrito, estão disponíveis para os diferentes biomas e fitofisionomias do país num único ambiente na internet. Batizado de “Código Florestal: contribuições para adequação ambiental da paisagem rural”, o hotsite também será uma ferramenta voltada para facilitar o entendimento da Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei 12.651, de 25 de maio de 2012) – legislação que ficou conhecida como novo “Código Florestal”.

Esse é o resultado de um trabalho, coordenado pelo Departamento de Transferência de Tecnologia da Embrapa, que envolveu mais de duas centenas de pesquisadores e analistas da Empresa e de diversas instituições parceiras, entre elas várias universidades e institutos federais e estaduais, no âmbito do Projeto Especial da Embrapa “Soluções tecnológicas para a adequação da paisagem rural ao Código Florestal Brasileiro”. “O tema Código Florestal foi incluído entre as prioridades da Diretoria da Embrapa, e no site conseguimos agregar as experiências em restauração, boas práticas agropecuárias, a indicação das espécies nativas por biomas, viveiros de produção de sementes e mudas, soluções tecnológicas e publicações da Embrapa e de instituições de pesquisa, ou seja, ele será um grande repositório de informações que servirá como subsídio aos produtores e técnicos na elaboração dos Programas de Recuperação Ambiental (PRA), e do Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas ou Alteradas (PRADA). Ressaltamos que será uma página dinâmica, constantemente atualizada com novas informações”, afirma Soraya Barrios, responsável pela liderança desse projeto.

As estratégias de recuperação apresentadas vão desde as mais simples como cercar e deixar a natureza se recuperar, até as mais elaboradas, como semeadura direta e plantios de mudas. “Temos que dar alternativas para o produtor. Estamos trabalhando há mais de quatro anos nesse desafio de procurar onde estavam essas informações dentro e fora da Embrapa e fazê-las chegar a quem precisa”, relatou o pesquisador da Embrapa Cerrados, José Felipe Ribeiro, colaborador do projeto no âmbito do Bioma Cerrados.

Estas estratégias de recuperação foram identificadas em função de sua aplicação dentro da propriedade rural, em quatro tipos: Regeneração natural sem manejo, Regeneração natural com manejo, Plantio em área total e Sistemas agroflorestais. Em cada uma dessas estratégias, que tem ainda suas subdivisões, como por exemplo, se o plantio é direto ou por meio de mudas, o produtor rural, assim como demais interessados no assunto, pode acessar informações relativas ao controle dos fatores de degradação, os resultados esperados (demonstrados por meio de imagens), como deve ser feito o monitoramento e quais os riscos possíveis ao se usar a técnica.

No hotsite, são apresentadas algumas experiências da Embrapa em recuperação de áreas degradadas com o uso dessas estratégias. “As experiências estão divididas por bioma e, ao acessá-las, é possível obter a descrição do passo a passo utilizado em sua implantação, bem como a estratégia de recuperação usada”, esclarece o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Ladislau Skorupa, também envolvido neste estudo. Além disso, o internauta também pode ter acesso a algumas boas práticas agrícolas, como terraceamento, sistema de plantio direto, sistemas silvipastoris, dentre outros, que contribuem para a sustentabilidade da produção no campo. Essas informações são importantes na medida em que a nova legislação reconhece a existência de áreas rurais consolidadas (com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008) e traz regras para que as propriedades rurais possam se adequar, por meio da recomposição ou compensação das áreas afetadas, ou seja, por meio da adoção de boas práticas agrícolas. “Nesse sentido, a adoção de boas práticas agrícolas é condição fundamental para garantir a continuidade do uso dessas áreas de forma sustentável, e essa é uma contribuição importante da Embrapa”, afirma Ladislau Skorupa.

Espécies nativas – além dessas estratégias de recuperação, a página especial vai apresentar a relação das principais espécies vegetais nativas sugeridas para a recuperação dessas áreas. Atributos biológicos, ecológicos e econômicos estarão descritos em cada uma delas. Por enquanto, estão disponíveis apenas espécies com potencial econômico e ambiental do bioma Cerrado, mas essa relação será ampliada, para os demais biomas brasileiros: Mata Atlântica, Amazônia, Pampa, Pantanal e Caatinga. Com a obrigatoriedade de registro das propriedades no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e consequente necessidade de resolver os passivos ambientais dessas propriedades, informações como essas são consideradas de suma importância para orientar o produtor na hora da tomada de decisão com quais espécies recuperar.

O trabalho de levantamento dessas espécies foi realizado em parceria com Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável e do Serviço Florestal Brasileiro. As recomendações foram baseadas em pesquisas bibliográficas e validações realizadas em encontros com diferentes atores que trabalham com o tema na Embrapa, nas Universidades, no terceiro setor e na iniciativa privada.

Por meio dessa parceira, também será lançado até o final de setembro o Webambiente®, uma ferramenta que indicará as espécies nativas de acordo com as condições ambientais específicas do local e da fitofisionomia que o produtor gostaria de recuperar em sua propriedade. Espera-se que estas informações possam auxiliar os produtores na preparação do PRADA e também as Organizações Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs) no julgamento e no monitoramento desses projetos.

O hotsite apresenta ainda informações georreferenciadas relativas à obtenção de mudas e sementes, com a relação de viveiristas, produtores de sementes e de materiais de propagação. Os dados foram fornecidos pelos próprios produtores, nos formulários de declaração apresentados ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), parceiro nesta iniciativa. Inicialmente serão disponibilizadas informações para o estado de Minas Gerais, esses dados serão completados para os demais estados na medida em que as informações qualificadas ficarem disponíveis.

Esse site será um espaço que não esgotará todas as questões envolvidas com a regularização ambiental das propriedades rurais, mas apresentará o que a Embrapa e parceiros tem a oferecer e como sua rede de Unidades de pesquisa, espalhada por todo o País, estará à disposição da sociedade. A Embrapa em colaboração com parceiros e outras instituições públicas e privadas envolvidas na geração de conhecimentos e tecnologias aplicadas na restauração florestal esperam com essa contribuição, auxiliar para que o novo Código Florestal gere os benefícios que a sociedade tanto almeja em termos de sustentabilidade para a agricultura brasileira.

Serviço


Fonte: Embrapa

in EcoDebate, 29/07/2016

Agrotóxicos ameaçam colônias de aves da Antártica

Por Peter Moon | Agência FAPESP
Estudo identifica contaminantes orgânicos no sangue de petréis-gigantes (Foto: Colônia de petréis gigantes na ilha Elefante, no arquipélago das Shetland do Sul, na Península Antártica/Fernanda Imperatrice Colabuono)

Pesquisadores confirmaram a presença de contaminantes orgânicos no sangue de petréis-gigantes do sul de diversas colônias na Península Antártica. Estudos de carcaças e outros tecidos já tinham dado sinais da contaminação, agora confirmados a partir de amostras de sangue em que foi detectada a presença de diversas substâncias nocivas, entre as quais o DDT, pesticida banido nos Estados Unidos em 1972, quando se constatou que seu uso ameaçava a sobrevivência de diversas espécies de aves de rapina.

A pesquisa foi realizada pela bióloga Fernanda Imperatrice Colabuono, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Ela estudou os animais das colônias de petréis-gigantes das ilhas Elefante e Livingston, no arquipélago das Shetland do Sul, na Península Antártica, com bolsa de pós-doutorado e bolsa de estágio de pesquisa no exteriorda FAPESP.

A pesquisa teve apoio também da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e do National Institute of Standards and Technology dos Estados Unidos, com o apoio logístico do Programa Antártico Brasileiro.

O petrel-gigante-do-sul (Macronectes giganteus) é um animal magnífico e um importante predador de topo no Atlântico Sul e Oceano Austral. Com envergadura de asas de cerca de 2 metros, é uma das maiores aves voadoras do planeta, menor apenas que o albatroz e o condor. São também longevos. Petréis-gigantes podem viver mais de 50 anos. Passam a vida nos céus dos mares do Sul do planeta, à procura de comida.

Na época do acasalamento, durante o verão antártico, os petréis-gigantes retornam à mesma colônia onde nasceram. Para os biólogos, essa é uma vantagem para o estudo da espécie. Uma vez identificado e marcado, um indivíduo pode ter sua vida estudada por vários anos.

Nos verões antárticos de 2011/2012 e 2012/2013, Colabuono coletou amostras de sangue de 113 indivíduos e constatou a presença de contaminantes orgânicos como bifenilos policlorados (PCBs), hexaclorobenzeno (HCB), pentaclorobenzeno (PeCB), diclorodifeniltricloroetano (DDTs) e derivados, o pesticida clordano (banido nos Estados Unidos em 1988) e o formicida Mirex (banido nos Estados Unidos em 1978 e recentemente no Brasil).

Segundo Colabuono, todos esses poluentes orgânicos são persistentes no meio ambiente, têm ação cancerígena, causam disfunção hormonal e problemas reprodutivos. Os resultados foram publicados num artigo em Environmental Pollution.

Colabuono afirma que, comparado aos níveis de contaminação nas aves do hemisfério norte, os níveis de contaminação detectados nas colônias de petreis na Península Antártica ainda são baixos. O objetivo agora é monitorá-los no longo prazo, para se “ter um indicativo da tendência de aumento ou decréscimo desses contaminantes ao longo dos anos no ambiente em que estas aves vivem”, diz a bióloga.

Cadeia de contaminação

O DDT é transportado pelo ar e pela chuva. Uma vez em rios e lagos, se acumula na cadeia alimentar. Os insetos contaminados são comidos por peixes e estes por outros predadores. Em cada patamar da cadeia alimentar o nível de acúmulo de DDT nos tecidos aumenta.

Seus efeitos nocivos se tornam mais visíveis quando se atinge o ápice da cadeia, nos predadores de topo. O petrel-gigante é um deles. Ele se alimenta de peixes, lulas e até de carcaças de outras aves. Ou seja, no trajeto de uma longa vida, ao comer centenas de quilos de peixes contaminados, a quantidade de contaminantes nos tecidos do petrel sempre aumenta.

Foi o que aconteceu nos Estados Unidos com os falcões-peregrinos e os condores da Califórnia. Nos anos 1960, suas populações começaram a declinar dramaticamente. Os condores chegaram a contar apenas umas poucas centenas de indivíduos. Estavam a um passo da completa extinção.

Foi quando se descobriu o papel do DDT naquela tragédia. Ao se acumular no corpo das fêmeas adultas, o DDT era repassado à casca de seus ovos, que se tornavam finas e frágeis, partindo com grande frequência. A reprodução da espécie estava ameaçada. Em 1972, a produção, comercialização e o uso do DDT foram banidos nos Estados Unidos. Com o tempo, as populações de falcões e condores começaram a se recuperar.

O Brasil é atualmente o maior consumidor mundial de agrotóxicos. O uso proibido do DDT foi proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas em 2009 – mas, como ele persiste no meio ambiente, sua presença ainda é detectada nos tecidos de animais como o petrel. A preocupação de Colabuono em acompanhar a vida de seus petréis-gigantes tem fundamento.

O artigo de Fernanda I. Colabuono, Stacy S. Vander Pol, Kevin M. Huncik, Satie Taniguchi, Maria V. Petry, John R. Kucklick, Rosalinda C. Montone, Persistent organic pollutants in blood samples of Southern Giant Petrels (Macronectes giganteus) from the South Shetland Islands, Antarctica, publicado em Environmental Pollution, pode ser acessado no endereço http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0269749116304298.

in EcoDebate, 02/08/2016

Escola de ensino integral é modelo na superação da desigualdade, mostra pesquisa

Pesquisa que mapeou escolas brasileiras e estrangeiras mostra que o ensino integral no ensino médio ajuda a superar as desigualdades em questões como inclusão social, autonomia, etnia, raça, gênero e sexualidade. O estudo foi divulgado ontem (2), na capital paulista, durante o Seminário Internacional Educação Integral e Ensino Médio: Desafios e Perspectivas na Garantia da Equidade, promovido pelo Centro de Referências em Educação Integral, Instituto Unibanco e Cidade Escola Aprendiz.

Foram selecionadas 29 escolas (12 delas estrangeiras), que se destacaram pela qualidade na educação ao vencer prêmios ou por indicação de secretarias municipais e estaduais de educação. Os pesquisadores escolheram instituições de países como Estados Unidos, Afeganistão, Peru e Argentina.

“São países que têm um tipo de trajetória muito semelhante à nossa, que têm com necessidade de reafirmar a integralidade da educação, mas que ainda não conseguiram fechar a equação do desenvolvimento integral”, disse Julia Dietrich, gestora do Programa Centro de Referências em Educação Integral.

Desenvolvimento integral

Julia afirmou que o ensino integral não significa apenas a ampliação do tempo do aluno dentro do ambiente escolar e tem a ver com o desenvolvimento do indivíduo em suas múltiplas dimensões (física, intelectual, emocional e social).

“Todo projeto político-pedagógico de escolas no Brasil quer formar cidadãos críticos, cientes do seu papel no mundo, capazes de transformar as suas realidades. O que a escola faz, na verdade, é inviabilizar esse processo. Cria cidadãos apáticos, fechados, com uma prioridade conteudista e não com uma abordagem do tipo: para que serve determinado conteúdo? O que a gente quer com isso?”.

Ângela Meirelles de Oliveira, doutora em história e pesquisadora da USP, que também atuou na pesquisa, disse que o ensino vem sendo relacionado erroneamente à instrução no Brasil. “A gente tem que reforçar que a educação precisa lidar com o sujeito como um todo. Não pode só instruir um ser que não esteja minimamente protegido. Sem fome, sem preconceito ou não tendo sua integridade respeitada”, explica.

Escola sem partido

Para Ângela, a proposta defendida por setores da sociedade de escola sem partido representa uma falácia. “A gente sabe que ninguém quer doutrinação na educação, mas eles estão usando esse texto genérico para escamotear uma tentativa grave de controlar a fala de docentes. O grande estopim foi o que eles chamam equivocadamente da ideologia de gênero, o que não existe. O texto da lei abre para numerosos equívocos que acaba com a liberdade de opinião, com a própria noção de educação. Eles defendem que professor não é educador, um absurdo”, disse.

A partir das conclusões do estudo, foram elaboradas 92 recomendações para as escolas interessadas em introduzir o ensino integral. Além de derrubar preconceitos, os pesquisadores recomendam o fortalecimento da autonomia do estudante, a possibilidade de intervir no seu próprio currículo escolar, nas decisões da escola e a promoção da diversidade.

Por Fernanda Cruz, da Agência Brasil, in EcoDebate, 03/08/2016

Pesquisa do Insa conclui que água de reuso na irrigação melhora fertilidade do semiárido

Estudo realizado com espécies nativas da caatinga revelou aumento de 800% de matéria orgânica e redução dos níveis de alumínio no solo. Água residuária exerce a função de adubo líquido, afirma pesquisadora do Insa.
Irrigar o solo com água de reuso aumenta a matéria orgânica. Crédito: Insa

Irrigar o solo com água de reuso aumenta a matéria orgânica, contribuindo para a recuperação de áreas degradadas destinadas ao plantio. É o que revela pesquisa realizada no Instituto Nacional do Semiárido (Insa), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações em Campina Grande (PB). O estudo foi feito em uma área de 3,6 mil metros quadrados na qual foram plantadas espécies nativas da caatinga. Após 17 meses de irrigação com água residuária, análises dos nutrientes revelaram um aumento de 800% de matéria orgânica no solo.

Além disso, segundo a pesquisa, realizada entre outubro de 2012 e maio de 2014, o teor de Fósforo (P) cresceu de 2.33 gramas por quilograma para 19.12 gramas. Houve ainda substancial aumento de Nitrogênio, Cálcio e Magnésio e redução dos níveis de alumínio.

A pesquisadora Vanessa Gomes, do Núcleo de Ciências do Solo e Mineralogia do Insa, afirma que o aumento desses nutrientes e a diminuição no teor de alumínio beneficia o solo, contribuindo para a recuperação das áreas degradadas destinadas ao plantio. O estudo resultou em dissertação de mestrado na Universidade Federal da Paraíba.

“A irrigação com água residuária exerce a função de adubo líquido, tornando o uso do esgoto doméstico viável para melhorar a fertilidade do solo em zonas semiáridas e diminuir o estresse hídrico da região”, conclui a pesquisadora.

Fonte: Insa

in EcoDebate, 03/08/2016

Revista Radis de agosto destaca impacto de grandes eventos no Rio

Revista Radis / Fiocruz
Célio e Felipe vão vestir laranja no mês dos Jogos Olímpicos. Laranja é a cor dos garis. Maria de Lourdes, a Maria dos Camelôs, fechará a barraquinha de roupas femininas que mantém no Centro da Cidade nos três feriados municipais decretados pelo Prefeito — mas seu espírito olímpico não é mais o mesmo de quando torcia pelo Brasil com churrasco e roda de samba. Dona Irone, a mãe de Vitor Santiago, terá pouco tempo para ver os atletas disputando medalha pela TV. Ela agora se dedica integralmente aos cuidados do filho baleado pelo Exército quando voltava para casa, na favela Vila Pinheiro, no Rio de Janeiro. Rodrigo, o motorista da linha 804, que atravessa a zona oeste da capital fluminense, estará em trânsito, como sempre. O vigia Altair Antunes, que perdeu a casa durante a remoção da Vila Autódromo, achava que tinha o direito de ficar ali por “99 anos”. Anda desacreditado do país da festa olímpica.

Desde que o sotaque carregado do membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou o Rio de Janeiro como cidade-sede da Olimpíada de 2016, já se passaram sete anos. Antes, em 2007, a capital fluminense havia recebido os Jogos Panamericanos e, em 2014, viria a sediar a Copa do Mundo da Fifa. A sucessão de megaeventos gerou uma série de transformações no espaço urbano da cidade, deixando o Rio mais dividido. Às vésperas da abertura dos jogos, o muro que separa um conjunto de favelas da principal via de acesso ao Aeroporto Internacional ganhou adesivos coloridos. Autoridades dizem que as placas cumprem a função de isolar acusticamente o local e impedir o acesso dos moradores das comunidades próximas às vias expressas. Para os moradores, é maquiagem para turista ver.

Nesta reportagem, Radis discute o direito à cidade e o impacto dos grandes eventos no cotidiano de seus habitantes. Ouviu pesquisadores e especialistas, mas também conversou com esses heróis anônimos que contam a cidade do cartão-postal pelo avesso.

Cidades para quem?

Millôr Fernandes, humorista, escritor e atleta nas horas vagas, costumava elogiar o frescobol como o mais democrático dos esportes, o único em que não há vencidos nem vencedores. No frescobol, para que o jogo funcione, é necessário cooperar com o parceiro. Ao lembrar dessa curiosidade durante uma aula pública no Centro do Rio de Janeiro, em março, o urbanista Carlos Vainer utilizou uma metáfora oportuna para um país às voltas com a realização de uma Olimpíada: nossas cidades estão cada vez menos tomadas pelo espírito colaborativo do frescobol. Para o professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur-UFRJ), o modelo de cidade evidenciado pelos megaeventos é competitivo.
Foto: Radis/Fiocruz

De um lado dessa arena, está um projeto de cidade mais humana, destinada às pessoas, em que o interesse público fala mais alto e valores como a solidariedade ainda não viraram um clichê. Do outro, a cidade-espetáculo, voltada para os negócios, uma nova forma de regime urbano que funciona sob a caneta do mercado e da economia. “Ao aproveitar os jogos como desculpa para transformar uma cidade, o que está em disputa é um novo projeto hegemônico”, disse Vainer. “E o modelo que resulta desse processo é segregador e excludente, só acelera as desigualdades”. Isso o estudioso chama de “cidade de exceção” — numa referência ao conceito de “estado de exceção”, caracterizado pela suspensão temporária de direitos e garantias constitucionais.

Na “cidade de exceção”, esclareceu, a ordem pública sucumbe a uma série de desvios dos padrões tradicionais. É o que acontece durante os preparativos para a realização de uma Copa ou de uma Olimpíada, quando se cria toda uma legislação específica para servir aos interesses do capital: regime diferenciado de contratação, isenção tributária para hotéis, leis que permitem que municípios se endividem com obras, exemplificou. No caso do Rio de Janeiro, para receber os Jogos Olímpicos de 2016, a cidade passou por transformações que modificaram o seu desenho urbano e afetaram profundamente a vida de seus habitantes.

“Desculpe os transtornos”

Ao trafegar pela cidade, o morador se depara com um verdadeiro canteiro de obras — muitas delas inacabadas — que incluem desde a construção de instalações esportivas e reforma dos equipamentos até infraestrutura no campo da mobilidade: modernização e expansão do metrô, construção de corredores de ônibus e de sistemas de transporte urbano, obras viárias e reformas de aeroporto. Muito além dos transtornos temporários, a passagem do megaevento pela cidade deixa marcas dramáticas. O Comitê Popular da Copa e Olimpíadas — uma articulação de organizações populares e sindicais, pesquisadores e atingidos pelas obras dos megaeventos, que atua no Brasil desde 2010 — estima que, no Rio de Janeiro, por razões direta ou indiretamente vinculadas às intervenções do Projeto Olímpico, pelo menos 4.120 famílias já foram removidas de suas comunidades e 2.486 permanecem ameaçadas de remoção.

“Nossas cidades passam por uma representação ideológica que encobre a realidade”. Foi o que disse a urbanista e professora da Universidade de São Paulo (USP), Ermínia Terezinha Menon Maricato, durante uma palestra realizada no final de junho, na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) — no Rio, os meses que antecederam a Olimpíada foram tomados por palestras, seminários e atos públicos que discutiram os impactos dos megaeventos. Ermínia citou o exemplo do Porto Maravilha — projeto de requalificação da região portuária do Rio — como um emblema dessa cidade-espetáculo que nega a tragédia urbana varrendo para as margens da cidade tudo o que não cabe no mercado imobiliário.

De acordo com o Dossiê “Megaeventos e violações dos direitos humanos no Rio de Janeiro”, a região portuária, com cerca de 5 milhões de metros quadrados, abrigava vários prédios públicos da União, do estado e do município que estavam vazios e ociosos. Sem cumprir a sua função social, esses imóveis foram ocupados por populações sem-teto, removidas durante as obras de reestruturação da região. Para Ermínia, em função de um mercado imobiliário altamente especulativo, cada vez mais a população de vulneráveis vai sendo expulsa e, em muitos casos, passa a ocupar áreas ambientalmente frágeis. Foi o que aconteceu em São Paulo, cidade que também teve o seu traçado urbano alterado por conta da Copa do Mundo da Fifa, em 2014.

A urbanista sustenta que as cidades brasileiras vivem um progresso conservador, com saltos de modernidade que carregam o atraso, o machismo e o preconceito. Ela apontou um mapa de São Paulo em que se pode ver a concentração de empregos em uma área central com uma enorme quantidade de habitações na periferia. “É um massacre passar cerca de duas horas e 40 minutos da sua vida, diariamente, no transporte”, indignou-se, acrescentando que trabalhador não “evapora” depois da jornada de trabalho. “Deveria haver um controle do uso e da ocupação do solo com sistema viário eficaz que te permitisse morar a 100 quilômetros do emprego e isso não ser um problema”.

Em entrevista à Radis, o pesquisador do Observatório das Metrópoles, Orlando Júnior, disse que nesse modelo de cidade mercantilizada em que os negócios falam mais alto que as pessoas, o resultado é uma cidade partida com espaços urbanos cada vez mais desiguais. “É uma irracionalidade promover o deslocamento das classes populares construindo periferias ou o que pode ser chamado de não-cidade”, argumentou. Para Orlando, tudo se resume a uma questão de prioridades. “Independente de gostarmos ou não da derrubada da Perimetral, precisamos saber em que medida isso era prioridade para a cidade do Rio de Janeiro”, diz ele, referindo-se ao viaduto que veio abaixo como parte do Projeto Olímpico.

Continue a leitura da reportagem no site da Radis.

Confira também a edição 167 (agosto de 2016) da revista na íntegra.

in EcoDebate, 04/08/2016

Congresso volta à ativa; e as ameaças aos direitos socioambientais continuam

Índios protestam contra a PEC 215 e outros projetos que ameaçam seus direitos durante a Mobilização Nacional Indígena, em Brasília, em 2013 | Fábio Nascimento – MNI

O Congresso acaba de retomar suas atividades, depois do recesso branco de 15 dias. E voltam a pairar sobre os direitos socioambientais várias ameaças. Confira alguns dos principais projetos que atentam contra o meio ambiente e os direitos de populações indígenas e tradicionais
O Congresso retomou suas atividades nesta semana. E as ameaças aos direitos socioambientais continuam. Dividida em frentes distintas, a atuação da bancada ruralista, do lobby de grandes mineradoras e empreiteiras segue na Câmara e no Senado. Veja abaixo e entenda quais são as principais ameaças ao meio ambiente, às populações indígenas e tradicionais e porque precisamos seguir acompanhando cada uma delas!

Proposta de Emenda à Constituição 65/2012 > O fim do licenciamento ambiental

A PEC 65/2012 simplesmente acaba com o licenciamento ambiental, o principal instrumento de controle e prevenção de danos socioambientais previsto na lei. Prevê que a mera apresentação dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA-Rima) de um empreendimento implicará sua autorização e que, daí em diante, ele não poderá ser suspenso ou cancelado. Caso aprovado o projeto, não haverá análise aprofundada da viabilidade socioambiental de qualquer obra. Populações e ecossistemas ficarão à mercê da boa vontade dos empresários. A PEC voltou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que deve apreciar parecer contrário do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em breve. Na sequência, o projeto vai a plenário e, se aprovado, à Câmara. Ele foi incluído na “Agenda Brasil”, conjunta de propostas prioritárias do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A PEC é de autoria do senador Acir Gurgacz (PDT-RO). Em entrevista, ele reconheceu que a proposta pode beneficiar uma empresa da família. No Supremo Tribunal Federal (STF), Gurgacz é alvo de uma ação, acusado de falsificação de documentos, e um inquérito sobre crimes tributários, além de ações em outras instâncias judiciais (veja). O ISA publicou um editorial sobre o assunto e vem participando da mobilização contra a PEC junto com o Ministério Público Federal (MPF) e outras organizações.

Projeto de Lei do Senado 654/2015 > Licenciamento Ambiental a Jato!

O PLS pretende enfraquecer o licenciamento ambiental, reduzindo para cerca de oito meses o prazo para o licenciamento de grandes obras consideradas estratégicas pelo governo – um “Licenciamento a Jato”. O projeto interessa grandes empresas, como empreiteiras, várias envolvidas nos recentes escândalos de corrupção. Se for aprovado, aumentam os riscos de desastres, como o de Mariana (MG), e as dificuldades para evitar e atenuar os danos socioambientais de empreendimentos. A proposta não prevê a realização de audiências públicas e elimina uma série de etapas do licenciamento, inclusive o sistema trifásico (licenças Prévia, de Instalação e de Operação). Pelo projeto, se um órgão governamental envolvido descumprir os prazos, automaticamente será considerado que ele aprova o licenciamento, num “quem cala consente”. O projeto pode ser votado a qualquer momento no plenário do Senado. Se for aprovado, segue para a Câmara. A proposta é do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e relatada pelo senador Blairo Maggi (PR-MT), hoje ministro da Agricultura e um dos maiores produtores de soja do mundo. Jucá é um dos principais adversários dos direitos indígenas, alvo de quatro inquéritos no STF e duas ações na Justiça Federal (leia mais). Ele é mencionado nas operações Lava Jato e Zelotes. Maggi é alvo de um inquérito no STF, acusado de lavagem de dinheiro, e uma ação na Justiça Federal por improbidade administrativa (veja aqui). O ISA elaborou um manifesto, assinado por mais de 130 organizações, e uma nota pedindo discussão mais aprofundada da matéria. Os dois documentos foram fundamentais namobilização contra o PLS.

Projeto de Lei do Senado 620/2015 > Biodiversidade em perigo!

O PLS visa autorizar a implantação de parques e áreas de aquicultura em até 0,5% da superfície de lagos de hidrelétricas, açudes e barragens de domínio da União. Sob esse pretexto, fragiliza ou acaba com os dispositivos que visam exercer algum controle sobre as atividades do setor. Por exemplo, permite a atividade pesqueira sem licença, concessão, autorização ou registro expedido pelo órgão competente. A proposta abre caminho para a introdução de espécies não nativas nessas áreas, uma das maiores ameaças à biodiversidade, à pesca e aquicultura com peixes nativos. O projeto pode ser votado a qualquer momento na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Se aprovado em outras comissões da casa, pode seguir direto para a Câmara, sem passar pelo plenário. O projeto é de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), candidato à prefeitura do Rio e ministro da Pesca no governo Dilma, e atende grandes empresas do setor. O ISA publicou um artigo sobre o tema e encaminhou ao Senado uma nota técnica contra a proposta.

Proposta de Emenda à Constituição 215/2000 > A grande ameaça aos direitos indígenas

É uma das mais graves ameaças aos direitos indígenas garantidos na Constituição e uma das principais bandeiras ruralistas. Pretende transferir do governo federal ao Congresso a última palavra sobre as Terras Indígenas, além de abri-las a empreendimentos de alto impacto socioambiental e prever uma série de dificuldades às demarcações. Caso aprovado o projeto, o reconhecimento de Terras Indígenas deverá ser paralisado de vez. O projeto pode ser votado no plenário da Câmara. Se aprovado, segue ao Senado. O relator na Comissão Especial da Câmara foi o deputado ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR), aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O ISA elaborou um parecer técnico sobre as consequências da possível aprovação da PEC e articulou um manifesto assinado por 48 senadores contra ela. A organização tem apoiado ativamente a Mobilização Nacional Indígena, a principal articulação contra a PEC.

Proposta de Emenda à Constituição nº 76/2011 > Escancarando as portas das Terras Indígenas

Também de autoria do senador Blairo Maggi (PR-MT), a proposta pretende abrir as Terras Indígenas à instalação de hidrelétricas, empreendimentos com alto potencial de destruição do meio ambiente e dos modos de vida das populações tradicionais. Aguarda votação no plenário do Senado. Se aprovada, segue para a Câmara. Junto com líderes indígenas, o ISA denunciou o projeto na Conferência do Clima de Paris (COP-21), em dezembro de 2015, um dos maiores encontros sobre Meio Ambiente da História (leia aqui).

Projetos de Lei 1.216/2015 e 1.218/2015 > Mais demora e dificuldades para as demarcações

Na prática, pretendem dificultar ao máximo as demarcações de Terras Indígenas, por exemplo, instituindo o “marco temporal” para comprovar o direito à terra: se aprovadas, só seriam reconhecidos os territórios que estivessem ocupados pelos indígenas na data da promulgação da Constituição Federal, 5 de outubro de 1988. Os projetos estão na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e, de lá, seguem para o plenário. Se aprovados, vão ao Senado. Autor do PL 1216, o deputado ruralista Covatti Filho (PP-RS) é financiado por empresas do agronegócio.

Projeto de Lei 1.610/1996 > Mineração em Terra Indígena não!

Mais um projeto de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), objetiva permitir a mineração em Terras Indígenas. A proposta ameaça povos indígenas e o meio ambiente, uma vez que a mineração é uma atividade com alto grau de impacto socioambiental. As comunidades indígenas não foram consultadas sobre a proposta, contrariando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário. O relator na Comissão Especial que analisa o projeto na Câmara, deputado Édio Lopes (PMDB-RR), é réu em ação por peculato no STF, recebeu doações de campanha da mineradora Vale e de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato (veja entrevista com o relator). Se aprovado na Comissão Especial, o PL segue ao plenário. Há vários anos, o ISA monitora a tramitação do projeto e os pedidos de pesquisa e lavra sobrepostos às Terras Indígenas na Amazônia para chamar a atenção para essa ameaça.

Novo Código de Mineração (PL 37/2011) > Mineração: a quem interessa?

Pretende simplificar os procedimentos necessários para a execução de atividades minerárias, que têm, em geral, grandes impactos socioambientais. Traz poucas salvaguardas ambientais, sociais e trabalhistas para as populações e áreas afetadas. A proposição é de interesse das grandes mineradoras, pois enfraquece o poder do Estado de regular o acesso do setor privado aos recursos minerais. O atual relator do projeto, deputado Laudívio Carvalho (SD-MG), está finalizando uma nova proposta, mas ainda não se sabe qual texto final será votado, em que instância (se numa comissão ou no plenário) nem quando. A mineradora Vale está entre as doadoras de campanha do deputado. Carvalho foi relator do projeto defendido pela indústria armamentista que pretende liberar o porte de armas. O ISA foi um dos autores da denúncia inédita apresentada no Conselho de Ética da Câmara e no STF contra o antigo relator do projeto, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), sob a acusação de que ele vinha defendendo os interesses de seus financiadores de campanha. O ISA também participa do Comitê em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, articulação de movimentos sociais e organizações da sociedade civil que se opõe ao projeto.

Projeto de Lei da Câmara 34/2015 (na Câmara, antigo PL 4.148/2008) > É transgênico? A gente precisa saber!

O projeto acaba com a obrigatoriedade do símbolo “T” nas embalagens, que avisa quando um produto é transgênico. A proposta foi aprovada na Câmara e depois rejeitada na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, após divulgação de parecer e manifestação contrária do ISA e de organizações parceiras em audiência pública. A proposta tramita hoje na Comissão de Agricultura do Senado e, depois dela, segue para as comissões de Assuntos Sociais e de Meio Ambiente. O autor do PL, deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS), é um dos parlamentares ruralistas mais radicais e um dos principais articuladores de projetos anti-indígenas e antiambientais na Câmara. Em 2013, em discurso em Vicente Dutra (RS), disse que “quilombolas, índios, gays, lésbicas” são “tudo que não presta”. Ele é alvo de um dos inquéritos da Operação Lava Jato no STF. Tem entre seus financiadores de campanha grandes empresas do agronegócio e a empreiteira Queiroz Galvão, também envolvida na Lava Jato (saiba mais).

Informe do ISA – Instituto Socioambiental, in EcoDebate, 04/08/2016

Abordagem da Política Nacional de Educação Ambiental e a função social da escola, artigo de Débora Barros Andrade

[EcoDebate] A Lei Federal Nº 9.795, sancionada em 27 de abril de 1999, institui a “Política Nacional de Educação Ambiental”. Essa é a mais recente e a mais importante lei para a EA. Nela são definidos os princípios relativos à EA que deverão ser seguidos em todo o País. Essa Lei foi regulamentada em 25 de junho de 2002, através do Decreto N.º 4.281. A lei estabelece que todos tem direito à educação ambiental. A EA como um “componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”.

Nas escolas, a EA deverá estar presente em todos os níveis de ensino, como tema transversal, sem constituir disciplina específica, como uma prática educativa integrada, envolvendo todos os professores, que deverão ser habilitados para incluir o tema nos diversos assuntos tratados em sala de aula. A dimensão ambiental deve ser incluída em todos os currículos de formação dos professores. Os professores em atividade deverão receber formação complementar na área. De acordo com a lei que institui a “Política Nacional de Educação Ambiental”, fazendo parte dos princípios básicos da educação ambiental: 

O enfoque holístico, democrático e participativo;

A concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a – interdependência entre o meio natural, socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; 

O pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; 

A permanente avaliação crítica do processo educativo; 

A abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;

A vinculação entre a ética, educação, trabalho e as práticas sociais; 

O reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. 

São objetivos fundamentais da EA definidos na referida lei (entre outros):

Democratização das informações; 

Fortalecimento da consciência crítica sobre a problemática social e ambiental;

Incentivo à participação individual e coletiva, de forma permanente e responsável na preservação do meio ambiente;

O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade;

O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações.

No artigo 205 da Constituição Brasileira de 1988 estão consagrados os fins da educação: o pleno desenvolvimento da pessoa o prepara para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, fins que concretizam o bem comum (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988/2005).

A Educação integral, que o Estado tem a obrigação de oferecer ao cidadão, supõe a formação moral, emocional e social do ser humano. Encaixa nesse contexto a EA, de fundamental relevância para a formatação de uma sociedade sustentável.

Através dela será atingido o objetivo de mudança de atitudes, comportamentos e procedimentos capazes de promover o desenvolvimento sustentável, o estabelecimento de uma nova aliança entre a humanidade e a natureza. Só assim se garantirá uma razão que não seja sinônimo de autodestruição, exigindo-se o componente ético nas relações econômicas, políticas e sociais.

É de grande relevância salientar que o artigo 208, parágrafo 2º da Constituição Federal preceitua que o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder público, ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. Assim a ‘não inclusão’ da EA ou sua oferta de forma irregular acarreta na responsabilização da autoridade competente (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988/2005).

Para que uma disciplina ganhe corpo e forma é fundamental que haja um conjunto de princípios e normas específicas a informá-la. No caso da EA, esses princípios e normas devem facilitar o conhecimento e promover o relacionamento harmonioso e equilibrado entre o homem e a natureza, com o escopo de regular toda atividade que possa direta ou indiretamente a sanidade do ambiente em sua dimensão global, que é o ambiente natural e artificial.

Embora a EA já tenha sido reconhecida como uma ciência educacional, pela UNESCO e pela Agenda 21, e apesar da determinação explícita do inciso VI, parágrafo 1º do artigo 225 da Constituição Federal ao Poder Público de promover a Educação Ambiental em todos os níveis de Ensino, pouco se faz para a implantação concreta no ensino brasileiro (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988/2005).

A Lei n. 9.795 (1999) instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando que esta não deve constituir-se em uma disciplina autônoma, mas deve permear todas as disciplinas, de forma transversal.

Conforme palavras do professor Paulo de Bessa Antunes, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, essa lei é uma norma jurídica confusa e de difícil compreensão (Antunes, 1999).

Salienta-se, ainda, que quando a Política Nacional de Educação Ambiental se expressa contra a criação dessa disciplina, o faz de modo autoritário.

A interdisciplinaridade é proposta pedagógica de difícil execução. Entre os profissionais que trabalham com EA não há consenso sobre o que seja essa prática.

Não se realizam encontros para planejamento de projetos interdisciplinares. Os professores carecem de tempo e de formação específica, o que dificulta o desenvolvimento do trabalho, consequentemente no processo de ensino e aprendizagem. É penosa a tarefa de promover a inclusão transversal e interdisciplinar de temas em uma estrutura organizada em torno de disciplinas escolares, sem que se tenha como foco uma disciplina autônoma e específica que promova a integração.

A consciência ecológica é importante para o reconhecimento da responsabilidade da presente geração pela manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações futuras.

O equilíbrio ecológico é a capacidade de um ecossistema compensar as variações provocadas por fatores exteriores, permitindo a existência, a evolução e o desenvolvimento do homem e dos seres vivos, sem uma ordem hierárquica entre os elementos da natureza.

As ações das pessoas que procedem nesse equilíbrio em relação ao meio ambiente que resultam de uma consciência ambiental que só é formada em decorrência de uma efetiva EA. Só ela forma no educando a sensibilidade e conscientização, que traz à ética, os valores, as atitudes e as ações sobre o ambiente. A EA é a mediadora fundamental da relação homem/natureza. Com o aumento dos desastres ecológicos surgiu à consciência ambientalista e ecológica, despertando as autoridades para o problema da degradação e destruição do meio ambiente, natural e cultural. Nascendo a necessidade da proteção jurídica do meio ambiente, com o combate pela lei de todas as formas de perturbação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, de onde foi surgindo à legislação ambiental.

A EA, de acordo com a lei, é obrigatoriamente oferecida pelo Poder Público à coletividade, de maneira formal, não formal e informal. Através dela forma-se uma consciência ecológica e proporciona-se a todos a possibilidade de adquirir conhecimentos, valores e atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade ambiental.

De acordo com Carvalho (2004) só a EA poderá formar o “sujeito ecológico”, que em sua versão de gestor social seja capaz de compreender política e tecnicamente a crise socioambiental e de enfrentá-la, mediando conflitos e planejando ações (Carvalho, 2004).

No artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil (1988/2005, p. 103), diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações”, e também diz que “promover a EA em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.

Débora Barros Andrade
Mestre em Ciências da Educação pela Unisal -Assunção- PY.
Bióloga com registro na classe CRBio08ª nº 105.263/08-D
Especialista em Educação Ambiental-Uniter/Ibpex.
Especialista em Docência do Ensino Superior -Uniaméricas-Ceará.
Especialista em Gestão Escolar – Progestão-Bahia;
Técnica em Secretária Escolar / IFBA-Jacobina.
Licenciada em Biologia FTC
Licenciando em Química -ISEED FAVED-Faculdade.
Professora do Ensino Fundamental II, e Superior da Rede Pública e Privada.
Orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC
Supervisora de Estágio Supervisionado
Palestrante.

in EcoDebate, 04/08/2016
"Abordagem da Política Nacional de Educação Ambiental e a função social da escola, artigo de Débora Barros Andrade," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 4/08/2016,https://www.ecodebate.com.br/2016/08/04/abordagem-da-politica-nacional-de-educacao-ambiental-e-a-funcao-social-da-escola-artigo-de-debora-barros-andrade/.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Nico Koedam VUB Urban biodiversity Stedelijke biodiversiteit SD

Become a Biodiversity Explorer | John LaPolla | TEDxTowsonU

Livro destaca biodiversidade em paisagens agrícolas do Sudeste

23 de maio de 2016

Diego Freire | Agência FAPESP – Com uma economia fortemente baseada na cana-de-açúcar, em plantações de eucalipto e na pecuária, o Estado de São Paulo tem paisagens naturais continuamente transformadas pelo uso intenso do solo, o que altera também o hábitat natural de diversas espécies nativas.

O papel da ciência no equilíbrio dessa relação é abordado em Biodiversity in Agricultural Landscapes of Southeastern Brazil, publicado pela editora alemã De Gruyter. O livro reúne textos de pesquisadores de diversas instituições, que abordam as dimensões humanas e biológicas relativas à conservação da biodiversidade em paisagens alteradas do Sudeste do Brasil, contemplando fauna e flora.

“O que antes era visto como um conflito, a relação entre produção e conservação, hoje se apresenta como uma interdependência. Mas, para que essa relação ocorra de maneira equilibrada, é preciso conhecer em profundidade a biodiversidade dessas paisagens agrícolas, contribuindo para o desenvolvimento da agricultura e também para a conservação das espécies”, disse Luciano Martins Verdade, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do programa BIOTA-FAPESP.

Verdade, que é um dos editores do livro, conta que muito do conhecimento apresentado na obra é derivado das pesquisas realizadas no âmbito do BIOTA, cujo objetivo é conhecer, mapear e analisar a biodiversidade do Estado de São Paulo, incluindo a fauna, a flora e os microrganismos, avaliando as possibilidades de exploração sustentável de plantas ou de animais com potencial econômico e subsidiando a formulação de políticas de conservação.

“Graças ao conhecimento acumulado ao longo de inúmeras dessas pesquisas foi possível apresentar uma revisão histórica dos processos que mudaram a paisagem no Estado de São Paulo e que seguem provocando importantes transformações”, disse.

A partir desse panorama, os autores discutem, já no primeiro capítulo, os principais elementos que caracterizam uma área bem preservada, tratando dos diferentes tipos de pressão que os hábitats sofrem e dos processos ecológicos resultantes delas, além do papel das populações locais em iniciativas de conservação. São abordados a história da agricultura no estado, os impactos agrícolas na vida selvagem e perspectivas para o futuro do setor, entre outros temas.

Nos capítulos seguintes é travada uma discussão sobre a atenção dada por pesquisadores às influências da atividade humana sobre as espécies selvagens e seus hábitats, como os impactos da construção de estradas.

“A maioria dos biomas tem sido intensamente modificada, mas alguns ainda são capazes de preservar uma biodiversidade considerável. O caminho para um equilíbrio não deve se restringir à biologia, mas também contemplar todas as dimensões humanas envolvidas para que se possa alcançar o ideal de conservação da biodiversidade em paisagens agrícolas”, disse Verdade.

Também é abordada a biodiversidade para além das plantas e dos animais, contemplando os microrganismos do solo. O capítulo 5, por exemplo, trata dos mecanismos de avaliação da diversidade e da estrutura das comunidades microbianas do solo por meio de ferramentas moleculares.

Também são apresentadas tecnologias de sequenciamento, técnicas biogeoquímicas para avaliação da qualidade da fertilidade do solo e aspectos relacionados à biomassa microbiana.

Os autores apresentam ainda estudos de caso sobre a relação entre a diversidade de aves e o uso da terra em paisagens agrícolas, os padrões alimentares de macacos bugios em uma floresta urbana, a geometria de determinadas paisagens e os padrões de queda de folhas em uma região do Sudeste brasileiro.

O livro está disponível na íntegra, em acesso aberto e para download gratuito, no site da editora. Também é possível comprar exemplares impressos.

Biodiversity in Agricultural Landscapes of Southeastern Brazil 
Editores: Carla Gheler-Costa, Maria Carolina Lyra-Jorge e Luciano Martins Verdade 
Lançamento: 2016 
Preço: US$ 224 (acesso aberto on-line) 
Páginas: 342
Mais informações: De Gruyter
Obra com download gratuito aborda aspectos biológicos e humanos relativos à conservação da biodiversidade em paisagens alteradas pela agricultura

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Bactérias do intestino podem ser gatilho para o diabetes tipo 1

20 de julho de 2016

Karina Toledo | Agência FAPESP – Estudos recentes têm mostrado que portadores de diabetes frequentemente apresentam um desequilíbrio entre as bactérias benéficas e as patogênicas que compõem a microbiota intestinal – condição conhecida como disbiose, potencialmente maléfica ao organismo. Não está claro, contudo, se isso é uma das causas ou uma consequência dessa doença metabólica.

Novas evidências publicadas por pesquisadores brasileiros no Journal of Experimental Medicine sugerem que, quando bactérias intestinais conseguem escapar para os gânglios linfáticos localizados próximos ao pâncreas – devido a alterações de permeabilidade da parede do intestino causadas pelo processo de disbiose –, elas podem ativar certos receptores existentes em células do sistema imune inato (primeira linha de defesa do organismo), particularmente nos macrófagos e nas células dendríticas.

Segundo os autores, essa ativação induziria uma condição pró-inflamatória no organismo e favoreceria o desenvolvimento de uma resposta imunológica direcionada (adaptativa) às células beta produtoras de insulina no pâncreas – processo que resulta no chamado diabetes tipo 1 ou autoimune.

“A fase final de desenvolvimento do diabetes tipo 1 já é bem compreendida. Sabe-se que o sistema imune, em um dado momento, passa a considerar as células beta do pâncreas como algo estranho ao organismo. Consequentemente, células específicas conhecidas como linfócitos T são ativadas e anticorpos são produzidos para destruir as produtoras de insulina. Porém, ainda não está claro quais são os gatilhos acionados no sistema imune inato para induzir a resposta imune adaptativa. Neste estudo, mostramos que há envolvimento de um receptor intracelular chamado NOD2”, contou Daniela Carlos, pesquisadora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), e coordenadora da pesquisa apoiada pela FAPESP.

As conclusões apresentadas no artigo são baseadas em experimentos com camundongos realizados durante o mestrado de Frederico R. C. Costa, sob orientação de Daniela e com a colaboração do professor da FMRP-USP João Santana Silva.

Nos ensaios, o grupo observou que camundongos modificados geneticamente para não expressar a proteína NOD2 eram resistentes ao desenvolvimento do diabetes tipo 1 mesmo quando desafiados com um estímulo químico.

“Para induzir diabetes em roedores sadios no laboratório é administrada uma droga chamada estreptozotocina, que é tóxica para as células beta do pâncreas. A morte dessas células funciona como um sinal inflamatório e outras células de defesa são ativadas e recrutadas para o local, reconhecem e atacam as células beta produtoras de insulina. Os animais recebem a substância durante cinco dias consecutivos e, após 15 dias, já estão diabéticos”, explicou Daniela.

A confirmação da doença é realizada por meio de testes como glicemia de jejum, tolerância à glicose e à insulina. Todos esses parâmetros clínicos, porém, se mantiveram inalterados nos animais que receberam estreptozotocina, mas não expressavam NOD2.

O perfil do suspeito

Conforme explicou Daniela, o papel desse receptor já está bem descrito na literatura científica. NOD2 está presente nas células de defesa e do epitélio intestinal, com a função de reconhecer um dos componentes bacterianos, o MDP (dipeptídeo muramil). Quando ativado, o receptor induz uma sinalização intracelular que resulta na expressão de peptídeos antimicrobianos e citocinas inflamatórias, como a interleucina 1 beta (IL-1β), a interleucina 6 (IL-6) e a interleucina 23 (IL-23) – substâncias envolvidas na ativação e migração de células de defesa para o intestino. Dessa maneira, NOD2 desempenha um papel essencial na imunidade local e sistêmica, mantendo a integridade da barreira intestinal e controlando a translocação bacteriana do lúmen (cavidade interna do intestino) para a mucosa.

“Decidimos investigar a participação da proteína NOD2 na patogênese do diabetes tipo 1 porque estudos anteriores descreveram a associação entre uma microbiota alterada e o desenvolvimento do diabetes autoimune em humanos e em modelos experimentais. No entanto, os mecanismos pelos quais as bactérias intestinais levam à patologia continuavam obscuros. Nesse contexto, o receptor NOD2, importante por auxiliar na manutenção da homeostase intestinal, apareceu como um alvo-chave a ser estudado”, explicou Daniela.

De acordo com a pesquisadora, todos os autoantígenos (próprios do organismo) estão constantemente sendo apresentados aos linfócitos T por células do sistema imune inato. Normalmente, isso acontece em um contexto “tolerogênico”, ou seja, o sistema imune inato sinaliza, por meio da interleucina10 (IL-10), para que os linfócitos T assumam um perfil regulador (imunossupressor).

No entanto, segundo a teoria do grupo de Ribeirão Preto, quando componentes bacterianos ativam o receptor NOD2 em células dendríticas e macrófagos, as citocinas inflamatórias liberadas induzem um ambiente inflamatório, ou seja, os linfócitos T passam a receber um sinal diferente e se convertem em células patogênicas, capazes de reconhecer e atacar as células beta produtoras de insulina.

Conforme já mencionado, é preciso haver também a morte celular das células beta pancreáticas e a subsequente liberação de autoantígenos para criar o contexto inflamatório. No animal de laboratório, a morte celular é induzida pela estreptozotocina. Em humanos, segundo Daniela, a causa pode ser um fator ambiental, como, por exemplo, uma infecção viral.

Validação

Para validar a importância dos receptores NOD2 na patogênese do diabetes tipo 1 e confirmar a participação das bactérias intestinais em sua ativação, um segundo experimento foi feito com camundongos.

Desta vez, um grupo de roedores teve a microbiota intestinal reduzida com o uso de um potente coquetel de antibióticos. Ao ser desafiado com a administração de estreptozotocina, o grupo mostrou-se resistente ao desenvolvimento da doença, mesmo sendo capaz de expressar NOD2. Para os pesquisadores, isso está relacionado com a eliminação de bactérias nos linfonodos pancreáticos.

Já um outro conjunto de animais também teve a microbiota intestinal reduzida, mas recebeu, além de estreptozotocina, injeções de MDP – molécula encontrada em várias bactérias e capaz de ativar NOD2. Nesse caso, os animais tornaram-se diabéticos.

“Esses resultados confirmam, portanto, que existe alguma bactéria reconhecida via NOD2 nos linfonodos pancreáticos que está envolvida no desenvolvimento do diabetes tipo 1. Não conseguimos descobrir qual exatamente é a espécie bacteriana, mas agora pretendemos realizar uma análise metagenômica mais abrangente para tentar identificá-la”, disse Daniela.

Segundo a pesquisadora, com base nessas evidências, o próximo passo será testar algumas intervenções preventivas ou terapêuticas, como a modulação da microbiota intestinal por meio de compostos probióticos e prebióticos, ou a inibição do receptor NOD2 com drogas farmacológicas.

Os resultados publicados no Journal of Experimental Medicine também foram apresentados por Daniela durante o FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity. O evento realizado entre os dias 7 e 9 de junho, na sede da FAPESP, teve como objetivo fomentar a colaboração entre cientistas do Estado de São Paulo e da Europa.

O artigo Gut microbiota translocation to the pancreatic lymph nodes triggers NOD2 activation and contributes to T1D onset (doi: 10.1084/jem.20150744) pode ser lido em jem.rupress.org/content/213/7/1223.abstract
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lhota pancreática com reduzida marcação de insulina do grupo de roedores tratados com STZ, antibiótico e MDP, mostrando o processo de destruição contra as células beta produtoras de insulina (Imagem: Divulgação)Link:

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Vagalumes iluminam cavernas e cupinzeiros na Amazônia para atrair presas

08 de julho de 2016

Elton Alisson | Agência FAPESP – Em regiões no Cerrado brasileiro, como no Parque Nacional das Emas, em Goiás (GO), é possível observar durante noites quentes e úmidas na primavera um fenômeno, chamado de “cupinzeiros luminosos”, em que ninhos de cupins irradiam uma luz esverdeada intensa.

A luz é emitida por larvas de vagalumes da espécie Pyrearinus termitilluminans, que expõem seus tórax luminescentes sobre a superfície dos cupinzeiros a fim de atrair insetos voadores para se tornarem suas presas.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus de Sorocaba, constatou que esses cupinzeiros luminosos também ocorrem no interior da floresta amazônica.

Os pesquisadores também observaram a existência de larvas de vagalumes dentro de cavernas de argila na Amazônia, que exibem luminescência semelhante e com a mesma função das que colonizam os cupinzeiros luminosos.

As descobertas, feitas por meio de projetos apoiados pela FAPESP, foram descritas em um artigo publicado na Annals of the Entomological Society of America.

“Até então só havia relatos de bioluminescência [emissão de luz fria e visível por organismos vivos] em cavernas na Nova Zelândia e na Austrália, onde larvas de uma espécie de mosquito luminescente constroem teias no teto de grutas”, disse Vadim Viviani, professor da UFSCar e coordenador do estudo, à Agência FAPESP.

“É a primeira vez que é relatada a ocorrência de larvas luminescentes de vagalumes no interior de cavernas no mundo”, disse Viviani, que acabou de ser eleito o novo presidente da International Society for Bioluminescence and Chemiluminescence (ISBC) durante o último simpósio anual da entidade, realizado entre os dias 29 de maio e 2 de junho em Tsukuba, no Japão.

De acordo com o pesquisador, havia relatos ocasionais da existência de cupinzeiros luminosos na floresta amazônica e em outros locais da América do Sul, mas esses casos nunca foram investigados.

A fim de certificar a veracidade desses relatos, os pesquisadores começaram a realizar, a partir de 2009, expedições de observação na Amazônia, iniciando por uma região de transição do Cerrado para a floresta amazônica, ao longo do rio Araguaia, até chegar ao norte de Tocantins.

Em seguida, eles visitaram o lado noroeste do estado de Mato Grosso, ao longo do rio Juruena. E, finalmente, foram ao interior do estado do Pará, na cidade de Canaã de Carajás, em razão de informações que obtiveram da pesquisadora Cleide Costa, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), de relatos de geólogos sobre a ocorrência de larvas bioluminescentes em cavernas argilosas na Floresta Nacional de Carajás.

Durante essas viagens, os pesquisadores constataram a existência de cupinzeiros luminosos, habitados por larvas luminescentes de vagalumes das espécies Pyrearinus fragilis e Pyrearinus termitilluminans, em três localidades diferentes no interior da floresta amazônica – nos municípios de Caseara, no Tocantins, Canaã dos Carajás, no Pará, e Juruena, no Mato Grosso – e na cidade de Novo Santo Antônio, no Mato Grosso, situada em uma área de Cerrado.

Além disso, também confirmaram a presença de larvas luminescentes de vagalumes da espécie Pyrearinus pumilus no interior de cavernas argilosas e com solo rico em ferro – chamadas de canga – na Floresta Nacional de Carajás.

“Observamos que as larvas luminescentes de vagalumes encontradas nas cavernas argilosas emitem luz muito provavelmente com a função de atrair insetos voadores para servirem de presas, como fazem as larvas de vagalumes que ocorrem em cupinzeiros luminosos no Cerrado e os mosquitos da espécie Arachnocampa luminosa que povoam cavernas na Nova Zelândia”, comparou Viviani.

Fontes de alimentos

De acordo com o pesquisador, ainda não há uma explicação definitiva sobre a origem evolutiva da colonização dos cupinzeiros ou do interior de cavernas por vagalumes.

O que se sabe é que vagalumes adultos colocam ovos na base dos cupinzeiros e no interior de cavernas e que, ao eclodir, dão origem a centenas de larvas luminescentes que transformam esses ambientes em seus habitats.

A explicação mais provável, contudo, é que como as larvas de outras espécies do gênero Pyrearinus são normalmente encontradas em troncos em decomposição ou no solo e são carnívoras, a associação com cupinzeiro foi uma adaptação vantajosa, pois esses lugares são ricos em cupins e outros insetos pequenos que lhes servem de alimento.

“Nossa hipótese é que as larvas de vagalumes desde cedo se associaram a locais onde havia madeira em decomposição e, consequentemente, tinha cupins. Mais tarde, adaptaram-se aos cupinzeiros situados dentro de ambientes florestais, no interior da floresta amazônica”, estimou.

“É provável que a substituição de áreas de floresta por Cerrado, devido às mudanças climáticas, pode ter resultado na adaptação das larvas de vagalumes a ambientes abertos, onde passaram a exibir uma bioluminescência mais intensa para atrair insetos voadores de lugares mais distantes”, explicou.

Já a adaptação a cavernas pode ter acontecido porque, a exemplo dos cupinzeiros, esses ambientes também têm mosquitos e outros insetos pequenos que se desenvolvem no interior das cavernas ou entram nelas acidentalmente, e que podem servir de alimento às larvas de vagalumes, especula Viviani.

“Em algum momento, essas larvas devem ter se adaptado aos túneis das cavernas de canga, em Carajás, que estima-se que foram formadas por tatus gigantes que entraram em extinção”, disse o pesquisador.

Os pesquisadores fizeram uma análise filogenética molecular preliminar – da relação evolutiva – das larvas luminescentes de vagalumes encontradas nos cupinzeiros e nas cavernas de canga no interior da floresta amazônica.

Os resultados das análises, juntamente com dados ecológicos, indicaram que, além da espécie Pyrearinus fragilis, que habita exclusivamente florestas, existem duas linhagens distintas da espécie de vagalumes Pyrearinus termitilluminans que estão adaptadas para cupinzeiros de Cerrado e de floresta.

A espécie Pyrearinus termitilluminans, por exemplo, foi encontrada em cupinzeiros localizados no Parque Nacional das Emas, em Goiás, e na zona de transição do Cerrado para a Amazônia.

Já a Pyrearinus fragilis foi identificada em cupinzeiros localizados dentro da floresta amazônica. E a Pyrearinus pumilus localizada no interior das cavernas de canga em Carajás, no Pará.

Todas essas espécies de vagalumes Pyrearinus pertencem ao grupo pumilus. “Essas espécies de vagalumes Pyrearinus do grupo pumilus compartilham de um ancestral comum que se associou a áreas ricas em matéria orgânica, preferencialmente com cupins. Algumas espécies acabaram por se adaptar a cupinzeiros e outras a cavernas”, resumiu Viviani.

Banquete de insetos

Segundo o pesquisador, a intensidade da luminescência esverdeada emitida pelas larvas de vagalumes luminescentes encontradas nas cavernas de canga aparentemente é mais fraca do que a de seus parentes próximos, encontrados em cupinzeiros superficiais que, no Cerrado, podem atingir 1,7 metro (m).

Ao contrário dos vagalumes lampirídeos, que geralmente ocorrem em campo aberto e emitem flashes intensos de luz, as larvas luminescente de vagalumes encontradas em cupinzeiros e em cavernas argilosas – que pertencem à família dos elaterídeos, conhecidos popularmente como vagalumes tec-tec ou salta-martins – emitem luz muito intensa e contínua, comparou Viviani.

“Além de maior intensidade intermediária, a luz emitida pelas larvas luminescentes de vagalumes elaterídeos de cupinzeiros e de cavernas é mantida por um tempo muito prolongado”, afirmou.

As larvas de vagalumes de cupinzeiros começam a emitir luz – que é a mais esverdeada entre todos os besouros – no final do entardecer, quando o Sol se põe, e continuam durante as primeiras horas da noite, relatou o pesquisador.

Além da vantagem para si próprias de emitir luz para atrair insetos voadores, as larvas bioluminescentes de vagalumes também acabam por beneficiar todo o microecossistema de um cupinzeiro, por exemplo, e de seus arredores, apontou o pesquisador, conforme já havia sido observado por Etelvino Bechara, pesquisador do Instituto de Química da USP, e Cleide Costa, do MZUSP, com cupinzeiros de Cerrado na década de 1980.

Ao emitir luz, as larvas bioluminescentes de vagalumes também atraem outros animais, como aranhas, sapos e aves, que se beneficiam do banquete de cupins e outros insetos pequenos atraídos pelas pequenas luzes brilhantes.

Posteriormente, os excrementos produzidos pelos animais que se fartaram do banquete de insetos ajudam a fertilizar o solo ao redor do cupinzeiro, que normalmente exibe uma flora mais rica que a dos arredores, disse Viviani.

“Dentro das florestas os cupinzeiros já estão em um ambiente bastante rico em matéria orgânica, onde tem muitas folhas caídas. Mas certamente a atração de presas pelas larvas luminescentes de vagalumes enriquece ainda mais o ambiente em volta do cupinzeiro, criando um microecossistema”, estimou.

Aplicações biotecnológicas

Além do ecossistema, a bioluminescência apresentada por essas espécies de vagalumes que habitam cupinzeiros e cavernas também pode trazer benefícios para a sociedade por meio de enzimas luminescentes (luciferases) e seus substratos (luciferina) que são amplamente utilizados como reagentes bioanalíticos e marcadores celulares em biossensores de poluição e prospecção de drogas anticancerígenas e antibióticos, entre uma vastíssima gama de outras aplicações, apontou o pesquisador.

O grupo de pesquisa liderado por ele na UFSCar é especializado em estudos bioquímicos sobre a estrutura molecular e a função das enzimas luciferases (responsável pela emissão de luz) de vagalumes, sendo um dos líderes mundiais nesta área.

A clonagem e a modificação feitas Viviani de uma enzima luciferase de larvas luminescentes de vagalumes colonizadoras de cupinzeiros no Cerrado – que apresenta a bioluminescência mais azul e mais eficiente entre as luciferases de besouros – resultaram no desenvolvimento de um marcador de células de mamíferos por um grupo de pesquisadores no Japão com os quais colabora.

Várias outras luciferases de besouros clonadas pelo grupo também estão atualmente sendo testadas para o desenvolvimento de biossensores e marcadores celulares pelo grupo do pesquisador na UFSCar.

No último simpósio anual da International Society for Bioluminescence and Chemiluminescence (ISBC), a estudante Gabriele Verônica de Mello Gabriel, que atualmente faz doutorado sob orientação de Viviani e um estágio de pesquisa no National Institute of Advanced Industrial Science and Technology em Tsukuba, no Japão, com Bolsa da FAPESP, obteve uma menção honrosa por sua pesquisa com biossensores luminescentes de pH e metais pesados que mudam de cor de acordo com esses fatores.

“É muito importante estudarmos a biodiversidade de vagalumes porque, além de serem bioindicadores de qualidade ambiental como áreas palustres [pantanosas], cursos de água e florestas, cada espécie apresenta luminescência com características diferentes, como a cor e o tipo de emissão da luz, que também podem ter aplicações biotecnológicas, biomédicas e ambientais diferentes”, afirmou Viviani.

O artigo “First report of Pyrearinus larvae (Coleoptera: Elateridae) in clayish canga caves and luminous termite mounds in the amazon forest with a preliminary molecular-based phylogenetic analysis of the P. pumilus group” (doi: 10.1093/aesa/saw002), de Viviani e Amaral, publicado na Annals of the Entomological Society of America, pode ser lido por assinantes da revista em http://aesa.oxfordjournals.org/content/early/2016/05/30/aesa.saw002/
Pesquisadores da UFSCar fazem o primeiro registro no mundo da existência de larvas luminescentes de vagalumes em cavernas no Pará, e relatam a ocorrência de cupinzeiros luminosos no interior da floresta amazônica (Foto: Wikimedia Commons)Link:

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