sexta-feira, 14 de julho de 2017

Compostos extraídos do bagaço da uva reduzem processo inflamatório (Jornal da UNICAMP)

02.03.2017

Resíduo da fruta tratado com enzima tanase tem altos valores de fenólicos bioativos



Cerca de 40% dos compostos fenólicos da uva são desprezados durante o processo de produção de vinho no Brasil. Benéficos ao organismo humano, tais compostos são descartados junto com o bagaço da fruta. Com a aplicação de uma enzima produzida em laboratório, a pesquisadora da Unicamp Isabela Mateus Martins extraiu do subproduto da indústria de sucos e vinhos maiores quantidades de fenólicos.

O estudo conduzido por ela junto à Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) demonstrou ainda que os fenólicos extraídos apresentaram eficácia na redução do processo inflamatório de células intestinais (CACO-2). Os biomarcadores de inflamação reduzidos foram a prostaglandina E2 (PGE2), a interleucina 8 (IL-8) e o fator de transcrição kappa B (NF-κB).
A pesquisadora Isabela Mateus Martins, autora do estudo: tratamento enzimático eleva atividade anti-inflamatória dos compostos presentes no subproduto

A autora da pesquisa explica que processos inflamatórios prolongados no organismo podem causar disfunções fisiológicas e levar ao aparecimento de diabetes, hipertensão, obesidade, câncer e doenças inflamatórias intestinais, como a colite ulcerativa e a Doença de Crohn. “Após o tratamento com a enzima tanase em células intestinais tivemos um aumento de aproximadamente 25% na atividade anti-inflamatória do extrato obtido a partir do bagaço da uva”, revela.

Houve ainda, com o tratamento enzimático, aumento da atividade antioxidante e da quantidade de compostos fenólicos, que previnem e retardam a formação de radicais livres no organismo. A pesquisadora relata incremento de 51% na concentração de fenóis totais em comparação com a amostra sem o tratamento. “Pudemos também constatar um aumento de compostos fenólicos menores e mais simples, em especial ácido gálico, quercetina e transresveratrol”, acrescenta.

Potencial subaproveitado

A autora do estudo explica que o bagaço da uva, especialmente a tinta, é rico em compostos fenólicos bioativos. “Mas este resíduo acaba indo para o lixo ou sendo subaproveitado como adubo do solo ou incorporado em ração para animais. Nosso trabalho demonstra o potencial do bagaço que poderia ser transformado e empregado, por exemplo, na fabricação de alimentos funcionais, de suplementos e produtos para a indústria farmacêutica”, sugere.

Conforme dados coletados por Isabela Martins em seu estudo, a produção mundial de vinho e suco gera, anualmente, cerca de 13 milhões de toneladas de resíduos. No Brasil, a estimativa é que sejam gerados em torno de 150 mil toneladas por ano de bagaço de uva.

A pesquisa desenvolvida por ela integrou doutorado defendido junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos da FEA. Uma parte dos trabalhos foi conduzida no Antioxidants Research Laboratory, pertencente à Tufts University, localizada na cidade de Boston, nos Estados Unidos. Na Unicamp, a professora Gabriela Alves Macedo, do Departamento de Alimentos e Nutrição da FEA, orientou a pesquisa.

O intercâmbio da cientista da Unicamp foi financiado pelo Programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal. Houve ainda apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Uva tinta e tanase

O resíduo da uva tratado com a enzima tanase apresentou os maiores valores de compostos fenólicos bioativos quando comparado com o extrato sem o tratamento enzimático. Na comparação, o bagaço da uva tinta também indicou melhores resultados que o da branca. “Os dois extratos tiveram seu potencial antioxidante elevado após os tratamentos enzimáticos, mas o da uva tinta que recebeu o tratamento com a tanase apresentou aumento mais significativo”, compara.

A autora do estudo esclarece que apenas o extrato da uva tinta, antes e após o tratamento com a tanase, foi submetido aos testes de atividade anti-inflamatória em células intestinais. “O objetivo era escolher o extrato com o maior valor de compostos fenólicos para, então, testá-lo em células intestinais. Por este motivo só empregamos o da uva tinta.”

A pesquisadora utilizou ainda outras duas enzimas para promover a extração dos compostos fenólicos bioativos: a celulase e a pectinase. De acordo com ela, ao contrário da tanase, são enzimas bastante utilizadas pela indústria. “A tanase também se mostrou melhor nesta comparação.”

Link:

Nenhum comentário:

Postar um comentário